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Dia do Livro - meu primeiro Livro

            Acho que todos temos certas estórias de infância, ou no meu caso da puberdade. Não é segredo que não venho de uma família de letrados, o saber em casa é o do homem rural, a preocupação era com a natureza, o ciclo da lua, as estações, o que plantar, como plantar, como colher...             De forma inusitada achou o Bom Senhor Deus que este era um bom lar para eu nascer.   Então havia algumas coisas incompreensíveis para meus pais, como eu querer tocar piano aos sete, e aos dez querer escrever um livro, e aos onze estar pintando meus primeiros quadros. Talvez o que ninguém soubesse era da minha consciência infantil do valor destas coisas. Eu as via como importantes e mesmo sem saber o que elas eram eu as desejava. Foi assim com a música, a literatura e a pintura.             Foi com um sen...

300, a Ascensão de um Império.

Muito divertido. Vale por algumas imagens espetaculares, de tirar o fôlego. No entanto, a estética foi um pouco prejudicada por cortes rápidos, um pouco mais de tempo para apreciarmos a beleza teria sido desejável. A música tem momentos bons e até ótimos, mas não escapa da música épica enlatada. Repetitiva, maçante e exagerando nos instrumentos de percussão (eletrônicos, claro) Agora o mais divertido é ouvir toda aquela patriotada americana transportada para a Grécia Antiga. Gente!! Os Persas (iranianos atualmente) atacaram até com homens bombas!! Claro, para não ficar evidente demais a questão política colocaram uma mulher grega liderando o exército Persa. Artemísia, pobre rainha cujo nome foi lembrado apenas para batizar uma figura caricata. A referência ao Irã é tão exagerada que teve até petroleiro no filme, jogando petróleo no mar para depois tacar fogo. E claro, ele explodiu, pois é típico de um filme de Ação que haja explosões. Em seguida vieram os homens bomba. ...

Coisa Obscena

“Luiz, chegou um sedex pra você” – me disse esta tarde um dos porteiros do meu prédio. “Sedex?!” repeti. E logo ele me deu um pacote fechado, cujo formato deixava adivinhar o conteúdo. Exclamei feliz: “Um livro!”, pois era esperado. Fui logo assinando o papel preso à prancheta, burocraticamente oferecida. E todo entusiasmado, confessei enquanto assinava, “Sabe, este livro eu nem sabia que existia, é o terceiro do meu escritor predileto!” Aí, aconteceu algo muito inusitado, o rapaz que não chega a ter trinta anos, e é de longe o mais “mauricinho” dos porteiros, nada de cara de “tô nem aí” e nem aquela barriguinha bem fornida, é jovem e bem posto, então dá para se entender a minha surpresa. Ele me perguntou cheio de constrangimento, como quem perguntasse algo que me deixaria envergonhado se eu respondesse que sim. Difícil traduzir o tom da voz, a expressão do rosto, mas, assim, do nada ele tascou-me a pergunta, parecendo obscena: “Você já leu um livro inteiro?” ...

Da natureza das Escolhas - ou "o aperfeiçoamento do erro..."

Todo mundo repete em seu cotidiano como elogio ou crítica "Você que escolheu isso!” Mas resta a quem ouviu a frase pensar sobre a natureza das escolhas. As pessoas falam sobre isso como se as várias opções fossem dadas pela nossa imaginação, basta-nos escolher uma delas e desenvolvê-las como se fosse uma redação primária. Quando geralmente, e infelizmente, estamos envoltos por um mundo que nos impõe situações e pessoas e constantemente nos pede para fazer escolhas. E nos pede para fazer escolha entre coisas que nunca desejamos. E escolhidas, eis aí a responsabilidade a recair sobre as ações... Podemos ser bem sucedidos nessas escolhas. E nos tornarmos pessoas bem sucedidas e até exemplo para a sociedade. No entanto, quando você olha para trás e verifica como é que chegou até neste ponto, passa a entender por que não está satisfeito, mesmo quando as pessoas elogiam. Em outras palavras, nosso caminho se desenvolveu por uma infinidade de escolhas, postas em situaç...

Curtir a Vida

As redes sociais possibilitaram uma grande integração. Então, além de tudo o que vemos em nosso cotidiano vemos as pessoas se exporem mais (ou não). Uma das coisas que mais me chama atenção quando leio o “sobre”- que é o texto onde a pessoa se apresenta - é as palavras “curto a vida” “a breja com os amigos” “as baladas” e depois, nas linhas do tempo, as reclamações sem fim por que o final de semana acabou. A tal vida que tem de ser “curtida” antes que acabe, e cuja expressão vejo em perfis que vão dos 18 aos 40 anos, parece uma carga terrível a ser carregada e que só pode ser suportada com um desfile interminável de supostos prazeres. Na outra mão vêm aqueles que rezam todos os dias, postam orações, santinhos, e lutam chorosamente para suportar a existência. E rogam a Deus para lhes dar forças e paciência, e em geral essa força e paciência é contra a adversidade da vida e outros possíveis seres humanos. Esta vida insuportável e estes seres humanos insuportáveis. Claro que...

Marcas

No deserto dentro de mim há uma trilha de pegadas. Não sei de onde vieram e nem para onde vão. As direções se confundem neste horizonte árido e vazio. Sei quem as deixou, mas não sei quem é...Passou como um peregrino em busca de alguma coisa, fazendo uma jornada qualquer. E incauto deixou suas marcas em mim. Eu as miro, e suspiro... Olho-as, e satisfeito tenho-as por companhia. Até que o vento pouco a pouco as apague. Peregrinos não têm culpa por seus pés repousarem delicados e macios na fina camada de areia. E nem esta por lhes guardar a lembrança. Sopra ligeiro vento, sopra ligeiro! Deixa-me guardar apenas por um instante, essa imagem que se desfaz, pois a aridez da minha paisagem não combina com marcas em vão.

O que eu quero?

Alguém que me ame, ao invés de fazer “sexo”. E esteja comigo, e não numa “performance pornô”.   E que goze, e não tenha “orgasmos”. E que durma abraçadinho e não “de conchinha”. Que converse, e não “discuta a relação”. E que seja um mero trabalhador, e não um “profissional” realizando uma “carreira”. E que seja jovem, e não um “teenager”, “adolescente” ou “mlk”. Que não tire fotografias, mas que se lembre de mim. Que não me mande “torpedos”, mas flores. E quando estivermos cansados, que descansemos, e não tiremos “férias”. E se tivermos dificuldades, que sejam problemas e não “diagnósticos psicológicos”.   Quando estivermos tristes, estejamos tristes e não “depressivos”. Quero alguém que esteja vivo, e não procurando se enquadrar em “categorias científicas”; querendo quem concorde com o seu diagnóstico. E se por isso eu ficar bravo, zangado mesmo, e em seguida ficar bem e feliz, que não diga que sou “bipolar”, mas imprevisível, de lua, de veneta. E se eu não for...

Há os que têm filhos e há os que têm uma obra

Conversando com um querido amigo percebi que uma de minhas dificuldades não era tão egoisticamente minha. Ele se perguntava o que fazer nesta altura da vida (depois dos cinquenta) quando você não teve filhos. Olhava para o passado, e mesmo sem querer parecer desanimado, carregava sobre os ombros todo o peso de uma sociedade que desenha o tempo todo o que é o homem ideal, o ser humano ideal. Bem... Nem todos nós nascemos para ser estes seres humanos ideais – talvez ninguém. Bem, eu não tive filhos, e até onde sei não os terei. Nada contra, só não os tive. E acho que um monte de homens e mulheres da minha geração não os teve. Talvez por que estávamos cheios de sonhos diferentes depois de séculos de conformismo social e cultural. Alguns se casaram muito tarde, outros apenas juntaram os trapinhos... tantas vezes o fizeram que poderiam abrir uma loja de retalhos. Mas isso não importa. Queríamos algo diferente, uma vida diferente, e a experimentamos, sem medo, com medo, entre sustos e...

A Cavalera e Eu - Como começou minha Coleção Cavalera (e V-Rom).

              Este texto é para matar uma curiosidade que muitos têm. Sempre alguém me pergunta: “Você é garoto propaganda da Cavalera?” “A Cavalera te patrocina?” “Por que você lançou livro na Cavalera?” Bem... aí vai.                 Quando se conhece o meu trabalho e currículo parece ser improvável que eu me envolva com moda ou que faça uma coleção de peças da Cavalera. Sou escritor e historiador, e fiz mestrado e doutorado em Multimeios na àrea de Cinema (Unicamp). Minha formação teve ênfase em História das Religiões e História da Arte. No doutorado escrevi uma tese sobre a adaptação da vida de Jesus Cristo para o Cinema e até os dias atuais minhas pesquisas giram em torno de Cinema e Religião. Em, 1999, lancei meu primeiro livro “Maria de Deus”, no qual lidava com terceira idade, sexualidade e religião. Há pouco tempo, em 2010, lancei o l...

As narrativas de Si nas Redes Sociais

Gosto da distinção entre autor e narrador.   A pessoa que escreve não é o narrador, o escritor alinhava um conjunto de técnicas e estabelece a narração e o narrador. A pessoa do escritor não é o narrador.   Quanto mais tempo fico na internet e nas redes sociais, mais concordo com esta definição. Vejo narradores todos os dias. Mesmo aqueles que não têm consciência deste processo estabelecem narradores, e por sua vez personagens. Muitos de nós entramos numa rede social, ávidos por pessoas e encontramos narradores. Narradores de si. Construindo personagens, ilustrando-as, glamurizando-as ou se detratando em público.   Seres discursivos, um texto, um discurso para cada ocasião. E, como escritor, confesso que nunca vi tanta gente àvida por leitores. E os discursos se constroem com partes do cotidiano, ou melhor, da interpretação do cotidiano, e há aqueles que introduzem neles o merchandising, se localizam nos lugares, fotografam os pratos, os parques, os papos... Em ...

O objeto livro, amigo de todas as horas

Não sou um saudosista, e sempre fui dos que saudaram a literatura virtual e digital, no entanto, jamais fui pelo fim do objeto livro. Quem lê sabe que há muita coisa boa e interessante neste amigo que nos acompanha ao longo dos anos. Quem nunca cheirou um livro? Quem nunca apertou contra o peito aquele livro de poesia que nos enchia de sentimentos novos ou que traduzia à perfeição aquilo que não diríamos a nós mesmos por falta de força na expressão? Sou muito tátil e muito sensorial, então, ainda me lembro do cheiro dos gibis dos anos setenta, cheiro ácido e áspero, e também do catálogo da Avon, cujo cheirinho fazia a minha delícia infantil. Ainda bem que os livros melhoraram de qualidade e há muitos hoje que cheiram catálogo da Avon, rs. Mas quem não sabe o que é o delicioso cheirinho de um livro antigo? Aquele de onde a acidez da tinta nova já desnaturou e sobrou apenas um delicado perfume adocicado? É, o livro tem muito mais coisas do que informação... Agora tentem cheirar um...

A Luz não sabe que ilumina, pois desconhe as trevas...

            Há muito tempo atrás inspirado por um rompante romântico num poema escrevi: “Como é que se diz para a Luz que ela ilumina? Ela não sabe que ilumina, exatamente por ser luz... Como se diz que a sua simples presença desvela toda a beleza? Como se diz que sem ela as cores não podem ser vistas? que os nuances não existiriam.... Que tudo o que se faz....sem sua presença jamais existiria? Como se diz para a Luz que ela ilumina...se por ser luz ela desconhece as trevas...”               A poesia tem essa capacidade de desvelar e revelar algumas verdades eternas e cuja reflexão nos toma pelas mãos e instaura possibilidades e realidades. Algumas frases são metáforas, são sugestivas muito mais que afirmativas, não querem ser tomadas por verdades, querem apenas sugeri-las.      ...