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Marcado na Pele

  Na pele carregamos o que importa             Kleberson já havia se acostumado ao cheiro de barata do lugar e ao barulhinho da máquina do tatuador. Descobrira, pouco depois de chegar a São Paulo, o estúdio de tatuagens ali na Consolação. Uma porta pequena pra rua, dando pra uma escada, levava pro primeiro andar de um comércio velho. A escada era meio escura. Iluminada por uma lâmpada incandescente dependurada do alto teto. Alguém havia pintado tudo de preto, que é uma cor tão higiênica quanto a branca. A diferença é que uma mostra toda a sujeira e a outra esconde. O lugar nem era sujo demais. Bill, o apelido de William Roberto Pereira da Silva, era o artista; fizera há muito tempo a sua reputação ali. Não se sabe se por que desejava mais espaço para se tatuar, ou apenas por que comera muito, engordara demasiado desde que se conheceram.             Com habilidade o tatuador trabalhava nas suas costas brancas. Sempre ficara espantado com a brancura daquela pele, parecia translúcida.