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Sobre o que é Fábulas Cruéis?
O
livro nasceu ao longo destes últimos cinco anos através das minhas experiências
no dia a dia com o mundo e com os alunos e professores da universidade onde
trabalho. As estórias versam sempre sobre relações éticas no mundo
contemporâneo. Sei que falar as palavras “relações éticas” soa como uma coisa
chata e pedante. No entanto, são estórias divertidas com as quais as pessoas se
reconhecem, e acabam por fazerem uma reflexão e até mesmo autocrítica.
Como situar seu livro novo diante
de Maria de Deus (1999); Memória Impura (2012) e Noite Escura (2013)?
Há
um dado comum a todas elas, a reflexão moral. Ás vezes passa até despercebida
pois não gosto de deixar essa questão evidente demais. Em Maria de Deus está a
relação fundamental do homem, mulher neste caso, com Deus. O que fazer quando
Deus nos “escolhe” não importando os nossos desejos pessoais? O que fazer com
tudo o que nos ensinaram da relação com o divino? Neste livro eu estava em
busca destas respostas. Em Memória Impura, rompi com o gênero épico e me voltei
para a antiguidade clássica escrevendo dolorosos contos nos quais descrevia
questões morais importantes para aquela época e que possuem reflexo em nossas
necessidades contemporâneas; recheado de beleza, pureza, dor e desespero, ele
não apontava caminhos, buscava apenas o aconchego da identificação com os
leitores. Já em Noite Escura, acabei por romper com o gênero da Aventura, e
também como o Histórico, implodindo de vez com a ideia de épico. Fui novamente
para o cotidiano da antiguidade para pensar a questão da identidade masculina.
Fábulas
Cruéis, escrito enquanto lançava Memória Impura e produzia Noite Escura, traz
em si um pouco das marcas destes dois livros. Nele a reflexão moral,
espiritual, filosófica e social, é pura – por assim dizer -, não é mais mediada
por cenários e costumes pouco conhecidos. A reflexão surge pura e limpa, mas
ainda não de maneira fácil, por que afinal, se fosse fácil, não seria meu.
No conhecido gênero das Fábulas,
normalmente destinada às crianças, no que o seu livro se distingue?
Bem,
novamente, no contexto editorial e literário, estou rompendo com o formato do
gênero. Não sei dizer se propositalmente ou se isso ocorreu simplesmente por
que sou fruto da contemporaneidade. Mas as formas narrativas, sob o pretexto de
serem fábulas, são as mais diversas. Há textos como As Gaivotas, Uma
Hipopótamo, etc, que não são mais do que um simples sketch, e poderiam ser
publicadas numa tira ilustrada de jornal. A experiência mostrou que os leitores
gostaram bastante deste formato, pois era curto, simples e direto ao ponto. O
que ainda não significa uma reflexão simples.
Outras estórias são contos, ainda
mantendo a inspiração das Fábulas, como Um Homem, Os Homens que falavam Estrela
e Uma Galinha. Ainda há aquelas que são sobretudo metáforas existenciais, como
A Casa Vazia, Uma Estória de Amor, Um porco, Um lobo, etc.
E
ainda ocorrem as de cunho filosófico e existencial, que não são metáforas, mas
claras provocações ao leitor contemporâneo e nelas são abordadas questões
bastante complexas que vão das relações de gênero ao conceito de revolução e
suas consequências. E aí posso citar Um Lar para Sara e Sônia, Um Veado, Os
Homens que Falavam Estrela, O Coro dos Passarinhos, A Esperança, A Verdadeira
Estoria do Patinho Feio, entre outras.
Revisitei
Fábulas antigas e estórias infantis que todos conhecem também e lhes dei uma
leitura nova, ou as vezes, apenas aprofundei, radicalizando o significado
anterior.
Bem, pelo que vimos, não é um livro
para crianças?
É
e não é, depende muito da criança. As crianças hoje estão mergulhadas num
universo de informações e saberão muito bem lidar com o conteúdo do livro. No
entanto, é um livro que originalmente se destina ao público adulto. Um público
que está sedento de ver seus problemas cotidianos retratados, questionados,
devassados e enfim textos que abrem possibilidades, sem desejar lhes dar uma
moral pronta e acabada como é típico no gênero. Pronto e acabado, apenas o
livro.
Todas as estórias de Fábulas Cruéis
foram escritas e publicadas ao longo dos anos em seu Blog e até mesmo no Facebook.
Como foi essa experiência, e me diga, por que as pessoas comprariam o livro se
as estórias, por vezes já são conhecidas?
A
publicação no Blog e no Facebook foram fundamentais para a produção das
estórias, pois as pessoas acessaram, opinaram, se identificaram e até fiz novos
leitores com este trabalho. Essa sede de ler sobre questões éticas e morais do
cotidiano fez com que eu continuasse escrevendo sempre. O público que acessou o
Blog é um público pequeno e seleto, eu diria, afinal como texto da internet,
minhas estórias são muito longas, mais apropriadas para um livro.
Por
outro lado, venho ao longo dos anos investindo, e investindo alto, em livros
que não são apenas um conteúdo interessante, mas são também um esforço para
manter a existência do livro de papel, do objeto livro. Então, gosto muito de
agregar valor a este conteúdo, com ilustrações em cores de Alma Tadema, em
Memória Impura, que é um livro visualmente belo; em Noite Escura ocupei-me da
capa e da editoração, e o resultado foi muito bem recebido. Fábulas Cruéis é um
livro objeto, espero que as pessoas comprem por que desejam ler, e sobretudo
por que o desejam como algo belo, um deleite para os olhos e para a mente.
Quero que as pessoas olhem para ele e imediatamente pensem: vou dar de presente
neste Natal! E quem fizer isso, irá ter a certeza de estar se dando um bom
presente e aos amigos. Desejei qualidade em todos os níveis, e acho que a
Editora Empireo, junto das ilustrações do talentoso Eduardo Seiji me deram
isso.

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