N ão falarei da Morte, mas do seu resultado: a ausência de quem morreu. O termo ausência não o descreve bem, pois sempre está chamando o seu contrário, a presença. É como dizer, partiu. Entretanto não haverá retorno, não pode voltar. Ficamos inutilmente tentando minimizar o assombro aterrador desse abismo. Abismo também não é uma boa palavra, pois tem um lado de cá e um lado de lá. Para os vivos não existe lado nenhum só há o “cá”. Ao longo das décadas que convivemos com a pessoa fazemos coisas juntos, amamos, brigamos, sofremos, sorrimos, damos beijos, abraços, sentimos cheiros. Vivemos momentos únicos e transformadores. Nós não somos uma pessoa inteira estando sós. O que somos está também preservado nos sentimentos e memórias dos outros. Nosso melhor sorriso não fomos nós que vimos, mas alguém o levou para si. Nossos gestos de dor, conquistas e vitórias, aquela luz que recaiu sobre nós num pequeno instante, nós os sentimos, mas não nos pertenceram. Pois foram e são levados pelo
Blog do Escritor, historiador e prof.Dr. em Multimeios Luiz Vadico. Destina-se à publicação de contos, poesias e assuntos diversos. O autor dedica-se atualmente a uma série de contos natalinos e a um romance.