As redes sociais possibilitaram uma grande integração. Então, além de
tudo o que vemos em nosso cotidiano vemos as pessoas se exporem mais (ou não).
Uma das coisas que mais me chama atenção quando leio o “sobre”- que é o texto
onde a pessoa se apresenta - é as palavras “curto a vida” “a breja com os
amigos” “as baladas” e depois, nas linhas do tempo, as reclamações sem fim por
que o final de semana acabou. A tal vida que tem de ser “curtida” antes que
acabe, e cuja expressão vejo em perfis que vão dos 18 aos 40 anos, parece uma
carga terrível a ser carregada e que só pode ser suportada com um desfile
interminável de supostos prazeres.
Na outra mão vêm aqueles que rezam todos os dias, postam orações,
santinhos, e lutam chorosamente para suportar a existência. E rogam a Deus para
lhes dar forças e paciência, e em geral essa força e paciência é contra a
adversidade da vida e outros possíveis seres humanos. Esta vida insuportável e
estes seres humanos insuportáveis.
Claro que diante destas perspectivas só pode acontecer o pior quando o
dinheiro termina para a prática do hedonismo, ou quando Deus – obviamente ocupado
– não atende a prece cotidiana de “livrai-me dos meus semelhantes”.
A vida vista assim e vivida assim, só pode ser algo terrível, e neste
caso não culpo ninguém por querer “aproveitar o dia”. “Carpe Diem” como diriam
os romanos. No entanto “Carpe Diem” dificilmente pode estar ligado a essa idéia
de prazeres intermináveis e de “Vida insuportável”. Aproveitar o dia é todo
dia. Alguns traduzem isso por “todo dia é dia de festa” ou deveria ser.
Bem, tudo o que eu disser serão palavras jogadas ao vento.
Essa percepção negativa da vida e dos seus trabalhos cotidianos estão bem
distantes do “Carpe Diem”. Viver é viver o tempo todo. Existem as horas de
trabalho intenso e de experiência intensa, onde crescemos aprendemos e
produzimos para todos que estão à nossa volta. E existem as horas “vazias” onde
não temos nada absolutamente nada para fazer. Alguns dormem – ah, como eu
queria conseguir isso - , outros ficam ansiosos e estressados, em puro
desespero. Pois não têm dinheiro e nem Deus para preencher aquele buraco na
programação.
Aí é que surge a dificuldade, aquele “buraco na programação” só pode ser
preenchido pela pessoa mesma. É o momento de percebermos o quanto podemos ficar
bem sozinhos, ou junto de nossos semelhantes mais próximos. É o tempo da
sinceridade e da construção do amor e da paciência. Amar a si mesmo, ser paciente consigo mesmo,
aceitar-se e estender isso aos que estão em volta. Talvez seja até mesmo o
tempo de ouvir uma boa música, sentar-se com um bom livro, ou descobrir que a
música é chata e o escritor é ruim.
Ao vislumbrar o tempo futuro, construído por pessoas que absolutamente
odeiam a vida pressupondo amá-la, fico preocupado com os cuidadores de idosos e
com os administradores de asilos. Serão velhinhos e velhinhas insuportáveis...
Dirão aquelas palavras mágicas e terríveis “No meu tempo...” e viverão de
esperar a morte e lamentar a felicidade que tiveram e que agora não possuem
mais. Ou amargar o fracasso de nunca
poderem ter participado do mundo dos felizes.
A vida não serve para nos dar alegrias e nem tristezas, ela apenas é a
vida. E a maior parte dela, do ponto de vista do hedonista é chata, e de
repente até é mesmo. Mas o que se deve dizer é que o marketing da felicidade é
muito frustrante com o passar dos anos, e que causará ainda mais frustração em
seus ávidos consumidores.
Não sei o que é ser feliz, e honestamente isto deixou de me interessar
faz tempo, talvez na mesma época em que desisti de ser infeliz. Mas olhar o
cotidiano como um adversário terrível me faria concordar com tudo o que tenho
lido, é melhor beber pra esquecer.
Bem, seja lá o que for a vida, e a existência, não deve ser tão feia
quanto os felizes a pintam, afinal, os hospitais estão cheios de pessoas
implorando para continuar nela. Só resta saber se operam o estômago para mais
comer, se curam as cirroses para mais beber, e se andam enfim apenas para mais
bailar, e que por fim encontram a razão apenas para lhe dar mais drogas.
Se eu continuar refletindo irei chorar.
Existir é um dado, não um sentido. Boas perguntas podem ser feitas a
partir daí: Existo! Como existo, de que forma estou levando a minha existência?
Onde eu existo? Com quem eu existo e partilho a vida? O que farei com isso?
Sou! Como sou?! Com que atitude desejo trilhar os caminhos? Sou, com quem
mais? E como caminharei com eles cuja presença é fundamentalmente necessária?
(Pois sem eles não sou quem sou).
Estou! Onde estou? Como desejo lidar com isso?
Ao contrário daquelas velhas perguntas cuja resposta todos ignoram: “De
onde vim?” “Quem sou eu?” “Para onde vou?” As anteriores têm resposta.
Faça este exercício no seu “Carpe Diem”, responda estas perguntas e viva
as suas respostas. Ser feliz, ser infeliz, pouco importa. Importa Ser e estar,
e ser bom e estar bem. E com certeza essas respostas não estão na fuga
constante que vejo todos os dias nas redes sociais.
Bem, talvez eu queira dar uma fugidinha, mas é do calor.
* hedonismo - cultivo dos prazeres
Comentários
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