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Da leveza da Morte - Representação e Eternidade

Retratos Mortuários. Confeccionados em Fayum, Egito, sécs. II e VI D.C.             Uma das perguntas mais recorrentes que ouço é, “por que você fala tanto de morte?”. E sempre o fazem com um tom misto de curiosidade e reprovação. Diria que é uma curiosidade retórica que só deseja dizer: “Este assunto é desagradável e mórbido, fale de outra coisa”. Minhas psicólogas, psicanalistas e até mesmo um psiquiatra - que gostava de colecionar Dom Quixotes de enfeite-, tinham e têm a tendência de dizer que sou mais ou menos habitado pela Pulsão de Morte, conceito de Freud pouco explorado pelo mesmo. Talvez eu não tenha nem a pulsão de vida e nem a de morte, talvez tenha uma pulsão meia vida, moribunda, uma pulsão desfalecida, ou quem sabe - ao final - uma pulsão zumbi. A brincadeira vem do fato que no meu caso, ninguém sabe quem veio primeiro o ovo ou a galinha. Mas, eu sei que primeiro veio o ovo, uma vez que os répteis são anteriores às galinhas e elas deles desc...

Setembro Amarelo

            Acho a idéia de um mês dedicado à prevenção do suicídio um esforço louvável. Sobretudo chama à consciência os que não pretendem se matar. Entretanto é difícil despertar uma empatia real. Algumas pessoas até se esforçam para localizar alguém que pode virar vítima de si mesma. E ainda que o façam, se encontrarem alguém, não sabem o que fazer com isso. Faltam técnicas e palavras adequadas para ajudar a pessoa que pensa em suicídio. Neste sentido, o mês parece querer dizer: “nós nos importamos”; porém, como tudo na contemporaneidade, tem o complemento “desde que não dê muito trabalho”. A outra via é que os que compartilham os mêmes deste período são os mesmos que compartilham qualquer même. Dito de outra maneira, desejam parecer simpáticos socialmente e é só.             Como disse antes, boa vontade pode ajudar, mas não é tudo neste caso. Ás vezes se pensa que suici...

Não falarei da Morte

  N ão falarei da Morte, mas do seu resultado: a ausência de quem morreu. O termo ausência não o descreve bem, pois sempre está chamando o seu contrário, a presença. É como dizer, partiu. Entretanto não haverá retorno, não pode voltar. Ficamos inutilmente tentando minimizar o assombro aterrador desse abismo. Abismo também não é uma boa palavra, pois tem um lado de cá e um lado de lá. Para os vivos não existe lado nenhum só há o “cá”. Ao longo das décadas que convivemos com a pessoa fazemos coisas juntos, amamos, brigamos, sofremos, sorrimos, damos beijos, abraços, sentimos cheiros. Vivemos momentos únicos e transformadores. Nós não somos uma pessoa inteira estando sós. O que somos está também preservado nos sentimentos e memórias dos outros. Nosso melhor sorriso não fomos nós que vimos, mas alguém o levou para si. Nossos gestos de dor, conquistas e vitórias, aquela luz que recaiu sobre nós num pequeno instante, nós os sentimos, mas não nos pertenceram. Pois foram e são levados ...