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Mostrando postagens com o rótulo solidão

Entretanto...

"Toda luz é meio bruxuleante diante da escuridão.." Thiago acendeu uma vela de Natal e a colocou sobre a pequena mesa. Olhou à sua volta e não conseguia acreditar no que restara depois de tudo, uma quitinete. Não me via, pois tudo estava imerso em trevas, e com elas me confundo. Perguntava-se, imerso em desânimo “Foi para isto que vim pra cidade grande?!” Décadas de luta, sonhando em vencer numa carreira e tentando realizar o que aprendera desde cedo, construir um lar. Senão um lar, uma casa. E ter uma casa não era como ter um carro. Um carro significava poder e satisfação. Mas a casa era a suprema vitória, na qual haveria o repouso do leão. Agora quase seis décadas o batiam, desde a juventude empreendera uma feroz luta pela sobrevivência. Apoio da família tivera e não tivera, aquela coisa inconstante. Para suprir essa falta acreditou fortemente em Deus. Pois, criado como um subalterno não poderia acreditar em si. E estranhamente, acreditou nas pessoas. Essa a coisa mais tola

Marcado na Pele

  Na pele carregamos o que importa             Kleberson já havia se acostumado ao cheiro de barata do lugar e ao barulhinho da máquina do tatuador. Descobrira, pouco depois de chegar a São Paulo, o estúdio de tatuagens ali na Consolação. Uma porta pequena pra rua, dando pra uma escada, levava pro primeiro andar de um comércio velho. A escada era meio escura. Iluminada por uma lâmpada incandescente dependurada do alto teto. Alguém havia pintado tudo de preto, que é uma cor tão higiênica quanto a branca. A diferença é que uma mostra toda a sujeira e a outra esconde. O lugar nem era sujo demais. Bill, o apelido de William Roberto Pereira da Silva, era o artista; fizera há muito tempo a sua reputação ali. Não se sabe se por que desejava mais espaço para se tatuar, ou apenas por que comera muito, engordara demasiado desde que se conheceram.             Com habilidade o tatuador trabalhava nas suas costas brancas. Sempre ficara espantado com a brancura daquela pele, parecia translúcida.

Setembro Amarelo

            Acho a idéia de um mês dedicado à prevenção do suicídio um esforço louvável. Sobretudo chama à consciência os que não pretendem se matar. Entretanto é difícil despertar uma empatia real. Algumas pessoas até se esforçam para localizar alguém que pode virar vítima de si mesma. E ainda que o façam, se encontrarem alguém, não sabem o que fazer com isso. Faltam técnicas e palavras adequadas para ajudar a pessoa que pensa em suicídio. Neste sentido, o mês parece querer dizer: “nós nos importamos”; porém, como tudo na contemporaneidade, tem o complemento “desde que não dê muito trabalho”. A outra via é que os que compartilham os mêmes deste período são os mesmos que compartilham qualquer même. Dito de outra maneira, desejam parecer simpáticos socialmente e é só.             Como disse antes, boa vontade pode ajudar, mas não é tudo neste caso. Ás vezes se pensa que suicidas são pessoas que agem em momento de desespero. Hoje se sabe que boa parte deles planeja cuidadosamente dur

A Solidão no Tempo

  Sempre restará o Crochê              Das diversas solidões que existem uma é mais comum a todos nós, ou será: a Solidão no Tempo. Em outras palavras, sobreviver a quase todo mundo da sua geração e ao mesmo tempo ter mudado de lugar ou visto as coisas se transformarem completamente. Essa solidão é inexorável, só não ocorrerá se você morrer antes.             Em meu prédio há uma senhorinha (digo-o assim, pois é carinhoso) que tem provectos 98 anos. Ela caminha muito bem e sai todos os dias para dar uma agitada volta no quarteirão imenso no qual moramos. E sempre a encontro no meu passeio com os pinschers. De longe já vou cumprimentando-a e dando “dois dedos de prosa”, vejo-a com alegria e simpatia.   Já segredou a todos que me adora, pois segundo ela, “ele não tem vergonha de falar comigo na rua”. Meu coração despedaça cada vez que ouço algo assim. Faço questão de cumprimentar e falar com ela quanto posso, pois compreendo a solidão. Racionalizo o que sofre, mas não consigo saber o

A solidão é desumana

  O Pensador, Auguste Rodin              Solidão todo mundo sabe o que é. Alguns que a veem como algo positivo a chamam de solitude. Em termos simples a solidão é a ato de estar só. Fisicamente só é a primeira circunstância deste fato. Pode-se estar nesta situação porque é alguém que cuida de um farol numa ilha deserta ou se é um caseiro viúvo - sem filhos - que cuida de uma chácara.   Essas circunstâncias são menos comuns. A solidão é tanto mais suportável quando se sabe que ela terá um fim. Fica o preso na cela “solitária” sofre, mas sabe que sairá de lá. Então, ser solitário e ter esperança faz uma grande diferença no que o indivíduo sente. Até na prisão a solidão é castigo.             Entretanto, precisamos distinguir entre solidão e isolamento. As pessoas isolam-se - ou são isoladas - por diversos motivos, e algumas o fazem para estarem sozinhas. Apesar de dizerem que somos animais sociais, gregários, é bastante comum que busquemos momentos para ficarmos sós. Estes momentos pod