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A Estória do Pólo Preto Parte 4

Quatro quarteirões de tremedeira depois... Na Citröen tudo estava ótimo, o vendedor que não desgrudava do celular não desgrudou. Me olhou de longe com aquela cara de quem não queria gastar seu precioso tempo com um cara que não iria comprar um carro. Rapidamente, um daqueles vendedores novatos felizes em mostrar serviço veio me atender. Todo solícito. Quase me pegou pela mão. Perguntou o que eu desejava e pela primeira vez eu tinha uma resposta certa para a pergunta: “gostaria de fazer um test drive naquele Pólo Preto” disse apontando o simpático carrinho. Agora ele já era simpático. O rapaz pegou a chave e estranhamente me perguntou: “Quer que eu dirija ou você dirige?” Jamais pensei que havia a possibilidade de que um test drive fosse feito por outra pessoa. Aí aproveitei sua cordialidade e contei que não tinha muita prática. Com um sorriso que ia de uma orelha à outra ele respondeu que estava tudo bem. Entramos no Pólo. Deu a partida e saiu todo faceiro. Foi me dizendo ...

A Estória do Pólo Preto Parte 3

Nem precisei entrar na Citröen. Os semi-novos estavam todos expostos do lado de fora. Chuva e sol. Quem se importa com eles afinal? Bem... De imediato não veio nenhum vendedor me atender. Ate aí...fiquei feliz. Pois teria tempo de pensar e não seria pego de surpresa. Eu já havia decidido que poderia comprar um Peugeot 206. Sim! Retornei ao plano original. Quando enfim, bati os olhos num peugeotizinho preto, um vendedor magro e excessivamente ocupado ao celular. Abriu o carro e deixou com que eu me virasse a vontade. Sem largar do celular num só instante. Entrei no carro. Liguei. Senti que o motor fazia um barulhinho bom. Desliguei. Fazer test drive?! Nem pensar. Afinal, eu iria pagar o maior mico se tentasse. Eu tinha acabado de fazer dez aulas numa auto escola especializada em motoristas que não dirigem. Estes motoristas que têm pânico de dirigir não obstante o fato de terem tirado carteira de habilitação. Eu fiz o curso rápido, por que achava que minha falta de vontade em comprar u...

A Estória do Pólo Preto Parte 2

Cansado de tanta teoria, resolvi colocar mãos à obra. Iria até as concessionárias e revendedoras autorizadas, garagens, etc. Eis que surge um primeiro problema. São Paulo é uma cidade imensa, como eu poderia verificar as ofertas quase infinitas dos jornais?! Como poderia estando em Moema chegar na Zona Lesta? E aqueles carros maravilhosos que estavam em Guarulhos?! Eu não tinha carro...como poderia ir? Logo começou a novela. Pedia pra um amigo que me levasse e ele prometia que em alguns dias ele poderia ir. Pedia a outro e ele me dizia a mesma coisa. Enfim...quem tem carro não compreende o problema de quem não tem. Basta olharmos as estatísticas dos atropelamentos. Decidi ir caminhando mesmo até a concessionária mais próxima. Afinal depois de tanto ler e pensar sobre carros eu já tinha uma certeza. Uma grande certeza! E isto deveria bastar. Eu não iria poder comprar um carro novo, então ele teria de ter algo que eu gostasse. Algo que me atraísse. Foi nessa disposição de es...

A estória do Polo Preto Parte I

Bem..esta será uma longa estória. A começar por saber se é estória com “h” ou com “e” nunca me conformei com a queda da distinção. História com “H” maiúsculo todo mundo estuda na escola e coletivamente passamos por ela ou..ela passa por nós..vai se saber?! Estória com “e” minúsculo mesmo é aquilo que não é tão importante, que às vezes é lorota mesmo, mas que serve também pra contar nossos causos cotidianos. Então esta é a estória da compra do meu primeiro carro. Depois de muitos anos resolvi comprar um carro. Muitos anos...este tempo todo se deve ao fato de eu ter tirado minha carteira de motorista aos 19, mas, como todo bom filho que se preze saí de casa, logo não pude dirigir o carro da mamãe. Engraçado que eu também não queria ter carro naquela época e nem me incomodava, pois eu acreditava que as pessoas não precisavam de carro pra quase nada, que devíamos andar de ônibus, que o planeta estava em perigo e que eu devia fazer a minha parte. Claro que naquela época ainda ha...

Cidade Viva

Homenagem a Campinas Um raio de sol desceu sobre mim...iluminou o meu quarto e, transato, percorri minha pele com os dedos tocando-o, como se a luz pudesse concretizar-se em meu corpo, em meu desejo. E nesse dia eu sai pelas ruas da cidade. A mesma cidade que sempre pareceu-me cheia de equívocos e cuja forma surgia-me no mais das vezes como um filme noir , de onde o preto e o branco se fazem colorido, pintou-se de outras cores. Vi os sorrisos das pessoas, os guardas cumprimentando-se...enquanto furtivos olhares devoravam seus cacetetes...As lobas, mais peruas do que nunca, uivavam pelas avenidas e, pela primeira vez, as luzes dos semáforos não significavam: pare, perigo, ande, eram como uma festa de cores que faziam questão de piscarem felizes somente para meus olhos. Aquelas vozes de motoristas gritando, longe de parecerem os xingamentos que deviam ser soavam Pavarotti e Plácido Domingo e as moças menos avisadas transformavam-se todas em Maria Cal...

MULHERES

I As ruas não incomodavam muito Aparecida. Caminhava pela cidade como quem afronta o destino. Nas mãos as sacolas de compras, promoções de supermercado e dinheiro curto eram “verbos” que ela sabia conjugar muito bem. Quarenta e poucos anos... existem idades que jamais deveriam ser ultrapassadas... os olhos viçosos da mocidade apagavam-se lentamente e sabia das dores que aquela cabeça morena grisalhava. Ossuda, magra, como uma necessidade nordestina de viver, caminhava desafiando a saia justa... balançando a blusa de malha. Falseava às vezes o pé com um sapato de salto alto, mas que não tinha em si nenhuma graça especial. De longe avistou uma senhora sendo assaltada. Estacou. Não sabia se tinha medo se não tinha, as pernas tremiam ligeiramente... engoliu em seco.... num instante as mãos suavam. Escutava as ameaças do assaltante e as lamúrias queixosas da velha. Não sabia como agir. Aos poucos uma estranha força a envolveu e gritou: - Socorro! Po...

SUICÍDIO EM SEIS CENAS

Trim...Trim...Trriimmmmmmmmm...trim...trriimmmmm. Trim...Trim...Trriimmmmmmmmm...trim...trriimmmmm. Trim...Trim...Trriimmmmmmmmm...trim...trriimmmmm. Trim...Trim...Trriimmmmmmmmm...trim...trriimmmmm. m... click! PAFT!! Acorda lento e preguiçoso, depois de esbofetear o relógio que, indignado, atirou-se do criado-mudo num baque surdo sobre o tapete, e este cortezmente, mas não sem um certo sacrifício, amorteceu-lhe a queda. _ Mais um dia! - suspira espreguiçando-se. Os olhos estreitos, apertados, denunciavam o filme que assistira madrugada a dentro.. Os cabelos revoltos testemunhavam mais um sono agitado. A custo decide-se abandonar o leito, dum salto? Não, bem lentamente, sentindo já um gostinho de saudade. Descalço pisa os frios azulejos do banheiro. Mira-se no espelho, como que observando o estragoque a noite fizer...

Natal de um não Cristão

Este ano me sinto compelido a desejar Feliz Natal. E os que me conhecem mais proximamente vão me questionar “mas você não é cristão?!” . Bem... eu poderia responder “Nem Jesus” mas seria tolice. Jesus tinha seu nascimento comemorado em março no inicio do Cristianismo, não me lembro se 18 ou 20... uma data estranha assim. Dizem que ele era de Peixes (então acho que e eu ele não nos daríamos bem, heheheheh). Posteriormente mudaram a comemoração para 25 de Dezembro, dia dedicado ao Sol Invencível, nosso caro amigo o Deus Mitra, cujo grande poder era derrotar as trevas, santificando e renovando a vida. Um Deus de soldados, todos sabiam disso. Nas reflexões de um não Cristão cabem coisas estranhas, como imaginar, de boa vontade, e se fosse verdade? E se existisse um Filho de Deus e se este filho composto sabe-se lá de quantas galáxias siderais, este amálgama de sonhos de que se compõe o universo continuamente se formando, deformando, reformando, desconstruindo... e se ele olhasse toda a fa...

Requiem - Número Um

Réquiem Opus 1 Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis. Meus olhos passeiam por essa larga necrópole, Procurando mortos-vivos... sombras...pios noturnos. Vou caminhando sobre ossos. Tíbias, perônios e crânios rompem-se aos meus pés, Tais quais cacos de porcelana, Louça fina e branca, enfiando-se na carne. O vento frio emoldura-me a face de mármore, Aumentando este silêncio que não incomoda, Enquanto acariciam-me os frios dedos da morte. Apenas túmulos. Túmulos sepultando verdade. E a verdade é carne. Apenas isto: carne. A carne dos sonhos, as fibras, os nervos e o sangue Forjando a realidade pesadelo. Piso mais uma sepultura, Apóio-me numa cruz, negra de ferrugem, consumindo-se... Fugindo... Fugindo dos homens que antes quisera salvar...dissolvendo-se... Abaixo de mim, a lado de mim, atrás de mim, em frente de mim... Cadáveres! Carne data vermes... Cadáveres! Rogo para Deus que descansem em paz, pela eternidade! Que os mortos repousem em merecida sonolência...pro...

Contrato de Namoro

Prometo Ser o homem dos seus sonhos ... se você sonhar comigo Te ouvir. com o coração, antes de ouvir qualquer outra pessoa Concordar contigo se você tiver razão e ... se não tiver, discordar com carinho Cozinhar, se você comer e ... comer se você cozinhar Dividir as tarefas domésticas ou... a conta da faxineira Amar seu cachorro ... se você me amar mais do que a ele Partilhar meus pensamentos bons e maus, valorizando mais os primeiros Não ter apenas problemas e coisas chatas para partilhar Segurar a barra quando você não segurar, se você fizer o mesmo Segurar sua mão no avião... enquanto você segura a minha Sempre te fazer companhia no elevador, pra você não se sentir sozinho Ter o prazer que você puder me dar e ... te dar o prazer que você puder sentir Sorrir pra te deixar alegre Chorar pra te lembrar que sou humano Errar, com o desejo de acertar Te cobrir em noites frias, enquanto você dorme Fazer música ... se você ouvir Escrever poesias, se você se emocionar Ir a Parque de Diver...

Gênese do Eu - O Beijo de Deus

O Beijo de Deus Da tua boca provém Toda poesia, Ela flui de ti para Mim, Que ébrio pela tua saliva Narro, entre chuviscos de cuspes, a tua suprema mágica, a de beijando-me, jamais me tocares. Oh, tu! Divindade nefasta! Que fecha para mim O teu único olho! Deixando-me em treva Íntima e verdadeira. Obrigando-me a guiar-me Pelo teu ósculo sorumbático. Estranha a minha sina, A de chover sobre os homens Restos de tua e minha saliva, Ao mesmo tempo sem saber Por onde ir. Se ainda tu fosses perfume, Se fosses luz, ruídos, Qualquer coisa que Uma direção indicasse... Mas, és boca, de doce saliva amarga, Que me inunda, inebria, E que com chuviscos de cuspes respinga sobre os homens. Que seres felizes, que não têm que tomar dos teus lábios a seiva que mantém vivo, que seres felizes... contentam-se com cuspes chuviscados... e a mim... a mim resta o beijo.... uma troca estranha que nunca se completa, porque tu não me tocas. Plenitude Se me perguntam por que uma árvore nasce... Eu não sei porque....