Réquiem Opus 1
Requiem aeternam dona eis,
Domine, et lux perpetua luceat eis.
Meus olhos passeiam por essa larga necrópole,
Procurando mortos-vivos... sombras...pios noturnos.
Vou caminhando sobre ossos.
Tíbias, perônios e crânios rompem-se aos meus pés,
Tais quais cacos de porcelana,
Louça fina e branca, enfiando-se na carne.
O vento frio emoldura-me a face de mármore,
Aumentando este silêncio que não incomoda,
Enquanto acariciam-me os frios dedos da morte.
Apenas túmulos.
Túmulos sepultando verdade.
E a verdade é carne.
Apenas isto: carne.
A carne dos sonhos, as fibras, os nervos e o sangue
Forjando a realidade pesadelo.
Piso mais uma sepultura,
Apóio-me numa cruz, negra de ferrugem, consumindo-se...
Fugindo...
Fugindo dos homens que antes quisera salvar...dissolvendo-se...
Abaixo de mim, a lado de mim, atrás de mim, em frente de mim...
Cadáveres!
Carne data vermes... Cadáveres!
Rogo para Deus que descansem em paz, pela eternidade!
Que os mortos repousem em merecida sonolência...profunda...e,
Impossível de ser acordada.
Por enquanto, que a luz divina recaia sobre eles e iluminados não os pisemos...
Não sujemos nossos pés com carnes putrefatas e imundas.
Que Deus as ilumine, enquanto descansam no estômago dos vermes!
Por um momento mais adiemos o instante de banquetearmo-nos com seus corpos.
Por um momento...
Mantenhamos essa falsa pudicícia de quem,
Como os cães, enterra o alimento.
Kyrie, eleison,
Chiste, eleison,
Kyrie, eleison.
Sentado sobre esta lápide peço-lhe piedade, Senhor.
Leio o epitáfio escuro: aqui jaz um guloso
Ao lado de mim: cegueira e vaidade
Em frente de mim: ilusão e corrupção
Atrás de mim: uma puta e um padre.
Meu olhar sincero vislumbra a sobriedade de epitáfios tão verdadeiros,
Ecoando pelas sombras...ecoando:
Um mesquinho e avarento,
Mãe formosa, ciumenta e egoísta,
Pai ausente...
Irmãos obtusos...
...amigos virtuosos.
Piedade, Senhor, piedade, para aqueles que não são como estes.
Piedade para aqueles que nunca estiveram vivos...
Pois esvaziados de toda a carne, de todo o corpo...
de todo o pecado...
Não têm nada...
Piedade...
Dies irae, dies illa
Solvet saeclum in favilla.
Desta lápide fria, sentado, olhando os esgares do infinito,
Aguardo... espreito o céu em busca do teu dia...
Dia de ira, onde os séculos tornar-se-ão cinzas.
Não temo o teu dia, Senhor Sabaóth,
Todo o meu peito anseia em romper essas vestes e cobrir-se de cinzas!
Deseja prantear e ranger os dentes, pois teu juízo é a minha salvação.
Traga, Senhor, o alimento para a minha boca...
Apressa teu dia, dia de fúria, dia de dor...
Deixa-me banhar-me e redimir-me nestas cinzas pegajosas e
Grosseiras...
De quem consumiu a humanidade inteira,
Deixa-me fartar-me desta comida purificada de qualquer verdade.
Ouço o pio da coruja e sei que ela implora:
Apressa o teu dia...
Apressa o teu dia...
Tuba mirum
Diviso à distância do infinito
As trombetas soando,
Espalhando seu som pela região das sepulturas,
E a multidão de mortos levantando-se...
Podres, decrépitos, purulentos e...incompletos,
Iluminando o mundo dos sãos com seu bafio pestilento!
A peste, a morte e a guerra,
Rios de sangue correndo...correndo
Para o teu sagrado juízo.
Líber scriptus proferetur
In quo totum continetur.
E sei, Senhor, que vós, sábio antigo...
Lerá em suas vísceras...o livro onde tudo está escrito.
E lhes dirá o destino...
Páginas de sangue e enxofre...folheadas
Pelo dedo incômodo de Deus.
E, haveremos de rir muito da importância
Do que não era importante...
Quid sum miser
Miserável que sou, nem o riso deverá visitar-me
A tua graça não a gaste comigo, Senhor,
Pois conheço minhas culpas
E, sou incapaz de redimi-las.
Deixa-me com o que sou
Com o que tenho...
Sou um devorador de cadáveres
E quando nenhum mais houver...
Chama-me Escuridão, para que continuamente
A mim mesmo me devore.
Esta é a única justiça, meu Senhor,
Livra-me dos eleitos do céu,
Livra-me dos outros eleitos...
E junte-se a mim Senhor,
Num último jogo de xadrez.
Recordare, Jesu pie.
Sentado sobre esta imensa noite
O meu peito nem se angustia...
As trevas fortalecem-me os olhos
E sei que o frio que sinto
É a vida que me abandona...
Lembra-te Jesus piedoso,
Que os outros são a causa da tua vida!
Não deixe que se percam!
Lembra-te! Buscando-os tivestes que sentar-te fatigado,
Para redimi-los morreste na cruz!
Quase perco-me em risos...
Que não seja vão o teu esforço! Vá salva-los!
Quanto a mim, deixa-me com meus grilhões...
Que com eles entendo-me.
Não rogo a salvação, nem a perdição,
Não deixarei de ser leal ao que em mim é humano:
Este sentar sobre lápides é meu!
Nem desgraçado me chamo,
Pois de minhas culpas construí meu túmulo
E agora é tolice renegá-lo.
Deixa-me descansar nele mesmo...
Tenho em mim céu e inferno suficientes
Para dispensar a companhia dos eleitos.
Requiem aeternam dona eis,
Domine, et lux perpetua luceat eis.
Meus olhos passeiam por essa larga necrópole,
Procurando mortos-vivos... sombras...pios noturnos.
Vou caminhando sobre ossos.
Tíbias, perônios e crânios rompem-se aos meus pés,
Tais quais cacos de porcelana,
Louça fina e branca, enfiando-se na carne.
O vento frio emoldura-me a face de mármore,
Aumentando este silêncio que não incomoda,
Enquanto acariciam-me os frios dedos da morte.
Apenas túmulos.
Túmulos sepultando verdade.
E a verdade é carne.
Apenas isto: carne.
A carne dos sonhos, as fibras, os nervos e o sangue
Forjando a realidade pesadelo.
Piso mais uma sepultura,
Apóio-me numa cruz, negra de ferrugem, consumindo-se...
Fugindo...
Fugindo dos homens que antes quisera salvar...dissolvendo-se...
Abaixo de mim, a lado de mim, atrás de mim, em frente de mim...
Cadáveres!
Carne data vermes... Cadáveres!
Rogo para Deus que descansem em paz, pela eternidade!
Que os mortos repousem em merecida sonolência...profunda...e,
Impossível de ser acordada.
Por enquanto, que a luz divina recaia sobre eles e iluminados não os pisemos...
Não sujemos nossos pés com carnes putrefatas e imundas.
Que Deus as ilumine, enquanto descansam no estômago dos vermes!
Por um momento mais adiemos o instante de banquetearmo-nos com seus corpos.
Por um momento...
Mantenhamos essa falsa pudicícia de quem,
Como os cães, enterra o alimento.
Kyrie, eleison,
Chiste, eleison,
Kyrie, eleison.
Sentado sobre esta lápide peço-lhe piedade, Senhor.
Leio o epitáfio escuro: aqui jaz um guloso
Ao lado de mim: cegueira e vaidade
Em frente de mim: ilusão e corrupção
Atrás de mim: uma puta e um padre.
Meu olhar sincero vislumbra a sobriedade de epitáfios tão verdadeiros,
Ecoando pelas sombras...ecoando:
Um mesquinho e avarento,
Mãe formosa, ciumenta e egoísta,
Pai ausente...
Irmãos obtusos...
...amigos virtuosos.
Piedade, Senhor, piedade, para aqueles que não são como estes.
Piedade para aqueles que nunca estiveram vivos...
Pois esvaziados de toda a carne, de todo o corpo...
de todo o pecado...
Não têm nada...
Piedade...
Dies irae, dies illa
Solvet saeclum in favilla.
Desta lápide fria, sentado, olhando os esgares do infinito,
Aguardo... espreito o céu em busca do teu dia...
Dia de ira, onde os séculos tornar-se-ão cinzas.
Não temo o teu dia, Senhor Sabaóth,
Todo o meu peito anseia em romper essas vestes e cobrir-se de cinzas!
Deseja prantear e ranger os dentes, pois teu juízo é a minha salvação.
Traga, Senhor, o alimento para a minha boca...
Apressa teu dia, dia de fúria, dia de dor...
Deixa-me banhar-me e redimir-me nestas cinzas pegajosas e
Grosseiras...
De quem consumiu a humanidade inteira,
Deixa-me fartar-me desta comida purificada de qualquer verdade.
Ouço o pio da coruja e sei que ela implora:
Apressa o teu dia...
Apressa o teu dia...
Tuba mirum
Diviso à distância do infinito
As trombetas soando,
Espalhando seu som pela região das sepulturas,
E a multidão de mortos levantando-se...
Podres, decrépitos, purulentos e...incompletos,
Iluminando o mundo dos sãos com seu bafio pestilento!
A peste, a morte e a guerra,
Rios de sangue correndo...correndo
Para o teu sagrado juízo.
Líber scriptus proferetur
In quo totum continetur.
E sei, Senhor, que vós, sábio antigo...
Lerá em suas vísceras...o livro onde tudo está escrito.
E lhes dirá o destino...
Páginas de sangue e enxofre...folheadas
Pelo dedo incômodo de Deus.
E, haveremos de rir muito da importância
Do que não era importante...
Quid sum miser
Miserável que sou, nem o riso deverá visitar-me
A tua graça não a gaste comigo, Senhor,
Pois conheço minhas culpas
E, sou incapaz de redimi-las.
Deixa-me com o que sou
Com o que tenho...
Sou um devorador de cadáveres
E quando nenhum mais houver...
Chama-me Escuridão, para que continuamente
A mim mesmo me devore.
Esta é a única justiça, meu Senhor,
Livra-me dos eleitos do céu,
Livra-me dos outros eleitos...
E junte-se a mim Senhor,
Num último jogo de xadrez.
Recordare, Jesu pie.
Sentado sobre esta imensa noite
O meu peito nem se angustia...
As trevas fortalecem-me os olhos
E sei que o frio que sinto
É a vida que me abandona...
Lembra-te Jesus piedoso,
Que os outros são a causa da tua vida!
Não deixe que se percam!
Lembra-te! Buscando-os tivestes que sentar-te fatigado,
Para redimi-los morreste na cruz!
Quase perco-me em risos...
Que não seja vão o teu esforço! Vá salva-los!
Quanto a mim, deixa-me com meus grilhões...
Que com eles entendo-me.
Não rogo a salvação, nem a perdição,
Não deixarei de ser leal ao que em mim é humano:
Este sentar sobre lápides é meu!
Nem desgraçado me chamo,
Pois de minhas culpas construí meu túmulo
E agora é tolice renegá-lo.
Deixa-me descansar nele mesmo...
Tenho em mim céu e inferno suficientes
Para dispensar a companhia dos eleitos.
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