O Beijo de Deus
Da tua boca provém
Toda poesia,
Ela flui de ti para
Mim,
Que ébrio pela tua saliva
Narro, entre chuviscos
de cuspes,
a tua suprema mágica,
a de beijando-me, jamais
me tocares.
Oh, tu! Divindade nefasta!
Que fecha para mim
O teu único olho!
Deixando-me em treva
Íntima e verdadeira.
Obrigando-me a guiar-me
Pelo teu ósculo sorumbático.
Estranha a minha sina,
A de chover sobre os homens
Restos de tua e minha saliva,
Ao mesmo tempo sem saber
Por onde ir.
Se ainda tu fosses perfume,
Se fosses luz, ruídos,
Qualquer coisa que
Uma direção indicasse...
Mas, és boca, de doce saliva amarga,
Que me inunda, inebria,
E que com chuviscos de cuspes
respinga sobre os homens.
Que seres felizes,
que não têm que tomar dos teus lábios
a seiva que mantém vivo,
que seres felizes...
contentam-se com cuspes chuviscados...
e a mim...
a mim resta o beijo....
uma troca estranha
que nunca se completa,
porque tu não me tocas.
Plenitude
Se me perguntam por que uma árvore nasce...
Eu não sei porque...
Mas sei que nasce.
E se nasce...
Espero que cresça,
E que dê sombra, flores
Frutos e sementes.
Por que as coisas nascem,
Eu não sei.
Uma vez que nascem,
Que se realizem em sua plenitude de ser.
Se me perguntam por que não sorrio,
Respondo: porque sou triste,
mas os outros sorriem, e eu sorrio por suas bocas.
Convite
Se não fosse tão grande esta minha morte interna
Eu te convidaria para o enterro,
No entanto...
Espero estar morto suficientemente
Para convidá-lo para a missa de sétimo dia.
Se ainda não for a hora,
Fica para a missa de mês;
Se não for tempo bastante,
Fica para a de ano.
Enfim, há morte suficiente em mim,
Para que eu não te convide,
E para que você me esqueça,
E pense que estou vivo
Sorrindo por aí.
Refeição Noturna
Vivo de beliscar a realidade,
Quem sabe ela acorde...
Enquanto ela dorme o seu sono estapafúrdio,
Os sonhos não são possíveis;
pois segue esquecida de todos que estão dentro dela.
Pudera este dragão acordar!
Mas enquanto dorme,
estamos acorrentados nela;
sendo digeridos em seu estômago,
junto com a sua última
refeição noturna: Deus.
É Marte que me olha!
Espio pela janela,
e é Marte que me olha,
e nele todos os olhos
depositam sonhos e esperanças
de outra Terra.
E, já que me olha,
o que espera de mim?
Marte é árido, frio, estéril
e morto,
que esperança terá
olhando para mim,
pela janela...
Já sei!
Ele espera que eu grite
A sua realidade por aí!
Que as pessoas não o perturbem
com suas fantasias.
Marte me escolheu
Com seu olho frio e vermelho
Para ser seu desengano.
Carta Para a Sociedade dos Dragões
Estou entre os humanos e não consegui me disfarçar. Mas não há perigo, eles pensam que o que sou é um disfarce. Alguns riem de mim, alguns se assustam, mas, a maioria me ignora mesmo; do mesmo jeito que fazem com os palhaços que ficam à porta das liquidações.
Sinto muito por não poder usar meus talentos sobre eles. Sinto não poder devorá-los, nem arrancar suas carnes de seus ossos com minhas garras, e nem pulverizá-los com o fogo que trago em minha boca... Sinto...
Mas a idéia era que eu parecesse humano, e se não pareço, ao menos parte da missão está sendo cumprida, esforço-me para comportar-me como um deles. Claro que não haverá prêmio para mim, pois não haverá êxito, mas enquanto estou aqui olho, observo e aprendo.
Aguardem, em minha volta posso parecer mais humano e menos dragão; espero que vocês também não me olhem como palhaço de liquidação.
Acendendo um cigarro
Quando Prometeu me criou
Disse: Vai, fagulha, e incendeia a Terra!
Tenho vergonha de voltar
E lhe dizer que fui usado
Para acender um cigarro;
E minha vida terminou
numa bituca.
Dei um curto prazer,
e veneno insuficiente para matar...
Tivesse o vento soprado mais forte
e eu poderia ter sido a fagulha de um incêndio.
Tivesse caído num tanque de gasolina,
Teria sido uma explosão...
Mas, eu tinha que acender um cigarro,
Tragado e sugado depois de um ato de amor...
Tenho vergonha de ter coroado um pouco mais
A bestialidade humana.
Ominis Est!
Enquanto era levado
no carro triunfal,
um escravo sustentava a coroa de louros
e sussurrava ao meu ouvido:
“Lembra-te de que és homem!
Lembra-te de que és homem!”
Como seu eu pudesse me esquecer.
Enquanto era levantado
da sarjeta,
por pessoas bondosas,
que sustentavam um marmitex para me alimentar,
sussurravam ao meu ouvido:
“Lembra-te que és homem!
Lembra-te que és homem!”
Como se eu pudesse me lembrar.
O que não posso me esquecer é
que é da condição Humana
ser condição,
enquanto for humana.
Horizonte
Zeus com um raio
cortou o Horizonte.
eu sou o Horizonte,
por Deus dividido
em duas partes:
uma os homens pisam,
a outra eles não alcançam.
Presente de Zeus;
sustenta os homens com o
inatingível...
Presente de Zeus...
só distante dos olhos
sou completo.
(Deuses, eles sabem se divertir)
Instrução Divina
Quando Deu me fez
encheu-me de grandes e pesadas pedras,
disse-me: Vai e as atira sobre a Terra!
Por isso sei que só irei partir
quando uma brisa puder me levar.
Por enquanto distribuo pedras;
que elas não caiam sobre ti;
que tu não tropeces nelas... pois
tenho que jogá-las,
não tenho culpa se a sua Condição
é a de tropeçar e a de ser esmagado.
A cada um Deus instrui como quer.
Da tua boca provém
Toda poesia,
Ela flui de ti para
Mim,
Que ébrio pela tua saliva
Narro, entre chuviscos
de cuspes,
a tua suprema mágica,
a de beijando-me, jamais
me tocares.
Oh, tu! Divindade nefasta!
Que fecha para mim
O teu único olho!
Deixando-me em treva
Íntima e verdadeira.
Obrigando-me a guiar-me
Pelo teu ósculo sorumbático.
Estranha a minha sina,
A de chover sobre os homens
Restos de tua e minha saliva,
Ao mesmo tempo sem saber
Por onde ir.
Se ainda tu fosses perfume,
Se fosses luz, ruídos,
Qualquer coisa que
Uma direção indicasse...
Mas, és boca, de doce saliva amarga,
Que me inunda, inebria,
E que com chuviscos de cuspes
respinga sobre os homens.
Que seres felizes,
que não têm que tomar dos teus lábios
a seiva que mantém vivo,
que seres felizes...
contentam-se com cuspes chuviscados...
e a mim...
a mim resta o beijo....
uma troca estranha
que nunca se completa,
porque tu não me tocas.
Plenitude
Se me perguntam por que uma árvore nasce...
Eu não sei porque...
Mas sei que nasce.
E se nasce...
Espero que cresça,
E que dê sombra, flores
Frutos e sementes.
Por que as coisas nascem,
Eu não sei.
Uma vez que nascem,
Que se realizem em sua plenitude de ser.
Se me perguntam por que não sorrio,
Respondo: porque sou triste,
mas os outros sorriem, e eu sorrio por suas bocas.
Convite
Se não fosse tão grande esta minha morte interna
Eu te convidaria para o enterro,
No entanto...
Espero estar morto suficientemente
Para convidá-lo para a missa de sétimo dia.
Se ainda não for a hora,
Fica para a missa de mês;
Se não for tempo bastante,
Fica para a de ano.
Enfim, há morte suficiente em mim,
Para que eu não te convide,
E para que você me esqueça,
E pense que estou vivo
Sorrindo por aí.
Refeição Noturna
Vivo de beliscar a realidade,
Quem sabe ela acorde...
Enquanto ela dorme o seu sono estapafúrdio,
Os sonhos não são possíveis;
pois segue esquecida de todos que estão dentro dela.
Pudera este dragão acordar!
Mas enquanto dorme,
estamos acorrentados nela;
sendo digeridos em seu estômago,
junto com a sua última
refeição noturna: Deus.
É Marte que me olha!
Espio pela janela,
e é Marte que me olha,
e nele todos os olhos
depositam sonhos e esperanças
de outra Terra.
E, já que me olha,
o que espera de mim?
Marte é árido, frio, estéril
e morto,
que esperança terá
olhando para mim,
pela janela...
Já sei!
Ele espera que eu grite
A sua realidade por aí!
Que as pessoas não o perturbem
com suas fantasias.
Marte me escolheu
Com seu olho frio e vermelho
Para ser seu desengano.
Carta Para a Sociedade dos Dragões
Estou entre os humanos e não consegui me disfarçar. Mas não há perigo, eles pensam que o que sou é um disfarce. Alguns riem de mim, alguns se assustam, mas, a maioria me ignora mesmo; do mesmo jeito que fazem com os palhaços que ficam à porta das liquidações.
Sinto muito por não poder usar meus talentos sobre eles. Sinto não poder devorá-los, nem arrancar suas carnes de seus ossos com minhas garras, e nem pulverizá-los com o fogo que trago em minha boca... Sinto...
Mas a idéia era que eu parecesse humano, e se não pareço, ao menos parte da missão está sendo cumprida, esforço-me para comportar-me como um deles. Claro que não haverá prêmio para mim, pois não haverá êxito, mas enquanto estou aqui olho, observo e aprendo.
Aguardem, em minha volta posso parecer mais humano e menos dragão; espero que vocês também não me olhem como palhaço de liquidação.
Acendendo um cigarro
Quando Prometeu me criou
Disse: Vai, fagulha, e incendeia a Terra!
Tenho vergonha de voltar
E lhe dizer que fui usado
Para acender um cigarro;
E minha vida terminou
numa bituca.
Dei um curto prazer,
e veneno insuficiente para matar...
Tivesse o vento soprado mais forte
e eu poderia ter sido a fagulha de um incêndio.
Tivesse caído num tanque de gasolina,
Teria sido uma explosão...
Mas, eu tinha que acender um cigarro,
Tragado e sugado depois de um ato de amor...
Tenho vergonha de ter coroado um pouco mais
A bestialidade humana.
Ominis Est!
Enquanto era levado
no carro triunfal,
um escravo sustentava a coroa de louros
e sussurrava ao meu ouvido:
“Lembra-te de que és homem!
Lembra-te de que és homem!”
Como seu eu pudesse me esquecer.
Enquanto era levantado
da sarjeta,
por pessoas bondosas,
que sustentavam um marmitex para me alimentar,
sussurravam ao meu ouvido:
“Lembra-te que és homem!
Lembra-te que és homem!”
Como se eu pudesse me lembrar.
O que não posso me esquecer é
que é da condição Humana
ser condição,
enquanto for humana.
Horizonte
Zeus com um raio
cortou o Horizonte.
eu sou o Horizonte,
por Deus dividido
em duas partes:
uma os homens pisam,
a outra eles não alcançam.
Presente de Zeus;
sustenta os homens com o
inatingível...
Presente de Zeus...
só distante dos olhos
sou completo.
(Deuses, eles sabem se divertir)
Instrução Divina
Quando Deu me fez
encheu-me de grandes e pesadas pedras,
disse-me: Vai e as atira sobre a Terra!
Por isso sei que só irei partir
quando uma brisa puder me levar.
Por enquanto distribuo pedras;
que elas não caiam sobre ti;
que tu não tropeces nelas... pois
tenho que jogá-las,
não tenho culpa se a sua Condição
é a de tropeçar e a de ser esmagado.
A cada um Deus instrui como quer.
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