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Cidade Viva

Homenagem a Campinas Um raio de sol desceu sobre mim...iluminou o meu quarto e, transato, percorri minha pele com os dedos tocando-o, como se a luz pudesse concretizar-se em meu corpo, em meu desejo. E nesse dia eu sai pelas ruas da cidade. A mesma cidade que sempre pareceu-me cheia de equívocos e cuja forma surgia-me no mais das vezes como um filme noir , de onde o preto e o branco se fazem colorido, pintou-se de outras cores. Vi os sorrisos das pessoas, os guardas cumprimentando-se...enquanto furtivos olhares devoravam seus cacetetes...As lobas, mais peruas do que nunca, uivavam pelas avenidas e, pela primeira vez, as luzes dos semáforos não significavam: pare, perigo, ande, eram como uma festa de cores que faziam questão de piscarem felizes somente para meus olhos. Aquelas vozes de motoristas gritando, longe de parecerem os xingamentos que deviam ser soavam Pavarotti e Plácido Domingo e as moças menos avisadas transformavam-se todas em Maria Cal...

MULHERES

I As ruas não incomodavam muito Aparecida. Caminhava pela cidade como quem afronta o destino. Nas mãos as sacolas de compras, promoções de supermercado e dinheiro curto eram “verbos” que ela sabia conjugar muito bem. Quarenta e poucos anos... existem idades que jamais deveriam ser ultrapassadas... os olhos viçosos da mocidade apagavam-se lentamente e sabia das dores que aquela cabeça morena grisalhava. Ossuda, magra, como uma necessidade nordestina de viver, caminhava desafiando a saia justa... balançando a blusa de malha. Falseava às vezes o pé com um sapato de salto alto, mas que não tinha em si nenhuma graça especial. De longe avistou uma senhora sendo assaltada. Estacou. Não sabia se tinha medo se não tinha, as pernas tremiam ligeiramente... engoliu em seco.... num instante as mãos suavam. Escutava as ameaças do assaltante e as lamúrias queixosas da velha. Não sabia como agir. Aos poucos uma estranha força a envolveu e gritou: - Socorro! Po...

SUICÍDIO EM SEIS CENAS

Trim...Trim...Trriimmmmmmmmm...trim...trriimmmmm. Trim...Trim...Trriimmmmmmmmm...trim...trriimmmmm. Trim...Trim...Trriimmmmmmmmm...trim...trriimmmmm. Trim...Trim...Trriimmmmmmmmm...trim...trriimmmmm. m... click! PAFT!! Acorda lento e preguiçoso, depois de esbofetear o relógio que, indignado, atirou-se do criado-mudo num baque surdo sobre o tapete, e este cortezmente, mas não sem um certo sacrifício, amorteceu-lhe a queda. _ Mais um dia! - suspira espreguiçando-se. Os olhos estreitos, apertados, denunciavam o filme que assistira madrugada a dentro.. Os cabelos revoltos testemunhavam mais um sono agitado. A custo decide-se abandonar o leito, dum salto? Não, bem lentamente, sentindo já um gostinho de saudade. Descalço pisa os frios azulejos do banheiro. Mira-se no espelho, como que observando o estragoque a noite fizer...

Natal de um não Cristão

Este ano me sinto compelido a desejar Feliz Natal. E os que me conhecem mais proximamente vão me questionar “mas você não é cristão?!” . Bem... eu poderia responder “Nem Jesus” mas seria tolice. Jesus tinha seu nascimento comemorado em março no inicio do Cristianismo, não me lembro se 18 ou 20... uma data estranha assim. Dizem que ele era de Peixes (então acho que e eu ele não nos daríamos bem, heheheheh). Posteriormente mudaram a comemoração para 25 de Dezembro, dia dedicado ao Sol Invencível, nosso caro amigo o Deus Mitra, cujo grande poder era derrotar as trevas, santificando e renovando a vida. Um Deus de soldados, todos sabiam disso. Nas reflexões de um não Cristão cabem coisas estranhas, como imaginar, de boa vontade, e se fosse verdade? E se existisse um Filho de Deus e se este filho composto sabe-se lá de quantas galáxias siderais, este amálgama de sonhos de que se compõe o universo continuamente se formando, deformando, reformando, desconstruindo... e se ele olhasse toda a fa...

Requiem - Número Um

Réquiem Opus 1 Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis. Meus olhos passeiam por essa larga necrópole, Procurando mortos-vivos... sombras...pios noturnos. Vou caminhando sobre ossos. Tíbias, perônios e crânios rompem-se aos meus pés, Tais quais cacos de porcelana, Louça fina e branca, enfiando-se na carne. O vento frio emoldura-me a face de mármore, Aumentando este silêncio que não incomoda, Enquanto acariciam-me os frios dedos da morte. Apenas túmulos. Túmulos sepultando verdade. E a verdade é carne. Apenas isto: carne. A carne dos sonhos, as fibras, os nervos e o sangue Forjando a realidade pesadelo. Piso mais uma sepultura, Apóio-me numa cruz, negra de ferrugem, consumindo-se... Fugindo... Fugindo dos homens que antes quisera salvar...dissolvendo-se... Abaixo de mim, a lado de mim, atrás de mim, em frente de mim... Cadáveres! Carne data vermes... Cadáveres! Rogo para Deus que descansem em paz, pela eternidade! Que os mortos repousem em merecida sonolência...pro...

Contrato de Namoro

Prometo Ser o homem dos seus sonhos ... se você sonhar comigo Te ouvir. com o coração, antes de ouvir qualquer outra pessoa Concordar contigo se você tiver razão e ... se não tiver, discordar com carinho Cozinhar, se você comer e ... comer se você cozinhar Dividir as tarefas domésticas ou... a conta da faxineira Amar seu cachorro ... se você me amar mais do que a ele Partilhar meus pensamentos bons e maus, valorizando mais os primeiros Não ter apenas problemas e coisas chatas para partilhar Segurar a barra quando você não segurar, se você fizer o mesmo Segurar sua mão no avião... enquanto você segura a minha Sempre te fazer companhia no elevador, pra você não se sentir sozinho Ter o prazer que você puder me dar e ... te dar o prazer que você puder sentir Sorrir pra te deixar alegre Chorar pra te lembrar que sou humano Errar, com o desejo de acertar Te cobrir em noites frias, enquanto você dorme Fazer música ... se você ouvir Escrever poesias, se você se emocionar Ir a Parque de Diver...

Gênese do Eu - O Beijo de Deus

O Beijo de Deus Da tua boca provém Toda poesia, Ela flui de ti para Mim, Que ébrio pela tua saliva Narro, entre chuviscos de cuspes, a tua suprema mágica, a de beijando-me, jamais me tocares. Oh, tu! Divindade nefasta! Que fecha para mim O teu único olho! Deixando-me em treva Íntima e verdadeira. Obrigando-me a guiar-me Pelo teu ósculo sorumbático. Estranha a minha sina, A de chover sobre os homens Restos de tua e minha saliva, Ao mesmo tempo sem saber Por onde ir. Se ainda tu fosses perfume, Se fosses luz, ruídos, Qualquer coisa que Uma direção indicasse... Mas, és boca, de doce saliva amarga, Que me inunda, inebria, E que com chuviscos de cuspes respinga sobre os homens. Que seres felizes, que não têm que tomar dos teus lábios a seiva que mantém vivo, que seres felizes... contentam-se com cuspes chuviscados... e a mim... a mim resta o beijo.... uma troca estranha que nunca se completa, porque tu não me tocas. Plenitude Se me perguntam por que uma árvore nasce... Eu não sei porque....

Sina de Gigante

A Cama Quando me deito, dentro de mim, minhas pernas ficam pra fora meu tronco, meus braços, ficam pra fora... Minha cabeça à grande distância... Que destino! Ter no corpo uma cama Tão pequena. Sina de Gigante Isso é o que eu digo para o meu corpo: Levante-se! Isso é o que eu digo para mim! Mas quando todo eu me levanto, minha cabeça ultrapassa as nuvens E, não há ninguém para eu poder olhar nos olhos. Sina de gigante... Chá das Cinco Sento-me no chão Através da atmosfera olho as estrelas, Ainda distantes... À minha frente o Everest. Não resisto, E desejo tomar chá. Sirvo-me das águas quentes De um vulcão, Forro a montanha com meu lenço... Está pronta a mesa... São cinco da tarde e, Ninguém veio. Penso até ter visto alguns homens Tentando me alcançar... Morreram no caminho, ou Se desiludiram na escalada. É sina de gigante... Possuir todo o planeta, Gentil, vasto e manso, Mas não ter ninguém para o chá. Pisando Estrelas Toco o sol, E o pego com uma das mãos; Escondo-o em meu bolso e ...

A Dor da Solidão

Quando a dor me procurou Quando a dor me procurou, disse-lhe: Estou ocupado, deite-se ali! Ela deitou-se em minha cama e aguardou... Quando a solidão me procurou, disse-lhe: estou ocupado, deite-se ali! Ela deitou-se em minha cama e aguardou... Como eu tardava, as duas devassas entregaram-se...entregaram-se dias e noites sem fim... Quando enfim deixei meus afazeres... lá estava o seu fruto sobre o meu leito: a amargura. Não era minha filha, era filha delas, no entanto, foi gerada em minha cama... Quando invadido pela fome, saí em busca de alimento, eis que enfim chega o amor; e não me encontrando, deita-se com a amargura, e nela faz um filho: o desespero... Agora que ele habita a minha casa é inútil voltar. Os Cães Os cães dormem, dormem...dormem... Não adianta dizer-lhes que a alvorada se anuncia, nem tentá-los com alguma guloseima... Dormem...exaustos, Numa parte da noite latiram sem cessar, trocavam mensagens entre si... perturbavam o sono dos que lhes eram diferentes... Rosnavam p...

Filípicas

Filípicas Este caderno de poesiasé em memória a uma juventude que conheci e se foi. As vezes a beleza e o encantamento habitam tão fortemente um corpo, uma pessoa, que sou obrigado a fazer poesias. Seja lá onde vc estiver...estas são as suas pegadas no meu caminho. Poema I Só quem amou... Prendeu o tempo com as mãos e, engoliu-o cobrindo-se de eterno e de desespero... Só quem amou... Encontrou paz no adverso... Soube escorrer pelo infinito como as águas de um rio e, no mesmo instante ser represa... e ser desejo... e ser frustração de desejos... Só quem amou... Sabe o que é contar estrelas com os cabelos... Andar do avesso e, odiar plenamente a liberdade Só quem amou ... Se fez pauta, música e instrumento... E ainda assim não foi ouvido e, não se perturbou... Quem faz os astros inatingíveis? Quem faz a noite escura? Quem faz úmida essa água? Quem faz eterno os pesadelos e os sonhos? Quem faz todo o mundo girar como se fosse um só? Quem faz todo o universo sangrar sem feridas? Quem ...

O Cavaleiro e a Flor

A Flor e o Guerreiro Eu menti, entende? Eu menti... Eu não era o guerreiro Que levava a flor na mão, Eu era a flor na mão do guerreiro... Riacho Porque sou o riacho que se atira, ao infinito dos céus, da altura dos montes, És o leito rochoso a suavizar minha queda, conformando meu curso, Para que não dilacere a terra. Repouso Escutei todas as vozes, Caminhei por todos os corpos, Mas, no teu espírito O meu encontrou descanso E assim... Meu corpo tornou-se feliz. Harmonia Se as notas que assoprava em minha flauta, até agora eram Dispersas, você as transformou em melodia. Precedido Desde de já invejo a luz Que entra pelos teus olhos, O aroma pelo teu olfato O frio e o calor que tocam A tua pele...e, meu Deus! Que vento é este que desmancha Teus cabelos? Por enquanto sou apenas a voz Que procura teu ouvido Em breve desejo ser tudo para o teu corpo. União Sou Orfeu e tu És Eurídice... Sou alma e tu O anseio que nela habita. Delicadeza Meu amado vi como os juncos, à beira do rio incl...