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O Cavaleiro e a Flor

A Flor e o Guerreiro
Eu menti, entende?
Eu menti...
Eu não era o guerreiro
Que levava a flor na mão,
Eu era a flor na mão do guerreiro...


RiachoPorque sou o riacho que se atira, ao infinito dos céus, da altura dos montes,
És o leito rochoso a suavizar minha queda, conformando meu curso,
Para que não dilacere a terra.


Repouso
Escutei todas as vozes,
Caminhei por todos os corpos,
Mas, no teu espírito
O meu encontrou descanso
E assim...
Meu corpo tornou-se feliz.


Harmonia
Se as notas que assoprava em minha flauta, até agora eram
Dispersas, você as transformou em melodia.


Precedido
Desde de já invejo a luz
Que entra pelos teus olhos,
O aroma pelo teu olfato
O frio e o calor que tocam
A tua pele...e, meu Deus!
Que vento é este que desmancha
Teus cabelos?
Por enquanto sou apenas a voz
Que procura teu ouvido
Em breve desejo ser tudo para o teu corpo.


União
Sou Orfeu e tu
És Eurídice...
Sou alma e tu
O anseio que nela habita.


Delicadeza
Meu amado vi como os juncos, à beira do rio inclinavam-se à tua passagem...
E não eras o barco, nem o que remava, mas a ninfa que reclinava sua mão sobre as águas e encantava a todos...
Vi quando touros e leões se-lhe deitaram aos pés e invejei teus dedos em suas cabeleiras.
Pergunto-me se é da natureza a força inclinar-se à delicadeza.


Desespero
Quando as palavras perderem seus significado e sentido,
Fale-me para que eu ainda sinta a tua língua em meu ouvido...



Sono Inútil
Quando acordei suado de meu pesadelo
Teu abraço me disse que foi apenas
Um mau sonho...
Quando quis sonhar e
Ainda estávamos abraçados
Impediu-me de dormir
E não houve melhor sonho.


Os Dias
Os dias passam,
Como areia de uma ampulheta,
Grãos, apenas grãos, insignificantes
E acidentados... que caem, caem...
Em forma de tragédias.

Infinita ampulheta,
Com paredes de eternidade
Deixando escoar o finito
Pelo infinito.



O Sublime
Eterno enquanto instante...
A paixão se produz através do movimento,
E se manifesta no tempo, na duração.
A tua imagem impressionou-me os olhos,
E estes o cérebro,
E este a alma.
Todo um movimento de fora para dentro,
Exigindo uma resposta de dentro para fora.
Paradoxal é que recolhida tua imagem
Não consigo contabilizar respostas.


As compras sempre podem ficar para amanhã...

As compras sempre podem ficar para amanhã...
Em lugares seguros descansam os cadáveres de idéias esquecidas...
Em lugares seguros as cruzes marcam o seu repouso e descanso...
E grandes anjos de pedra de asas abertas, protegem-nos deles mesmos.
As compras sempre podem ficar para amanhã...
Os coveiros sempre sorriem à chegada destes corpos surrados e cansados,
Esgotados em provarem seus pontos de vista...
Sempre sorriem, pois para isso existem coveiros...
E sobre eles jogam uma pá de cal e outra de terra
E depois deixam abertos os túmulos de seus pesadelos.
As compras sempre podem ficar para amanhã...
Hoje é essencial que visitemos nossos mortos,
Ou que sejamos um deles...
As compras podem ficar para amanhã...
A nossa eternidade não...
Este é um caso de eternidade urgente.
As compras sempre podem ficar para amanhã.


Orelha de Van Gogh

Visito este cemitério triste e sinto suas sombras tardias descerem sobre mim,
Como se descessem sobre um morto...
Visito essas sombras e observo estes pesados anjos de pedra, vigilantes e inúteis... como se fossem espantalhos de pedra.
Escuto o pio das corujas...mas, elas não vêm aos cemitérios paradoxalmente vivem na Unicamp.
Miram-me as almas penadas...miram-me...
olham-me e não sei exatamente o que vim fazer neste lugar...
Penso que posso ser uma memória não evocada,
Mas meu corpo vive em algum lugar...
Penso...
E já fiz demais...
Oprime-me este cheiro de flores secas e mortas...este cheiro de velas já queimadas, e esta imensa poeira que recai sobre as lajes deste imenso casario...
As nebulosas pairam sob este céu e todo ele gira como se um certo holandês nele tivesse instalado a sua orelha...

Amor Imperativo

Toma pela minha boca!
Beba! Finja que sou absinto!
Finja que sou proibido, que não estou mendigando ou pedindo.
Finja que você não é o Príncipe de uma terra perdida e estranha.
Finja que todas as loucuras que eu diga são apenas reflexo de outra realidade qualquer, desconhecida e estranha!
Finja! Meu amor, apenas finja!
Por que para te esperar estarei fingindo que te amo
Estarei fingindo que será eterno, estarei fingindo...fingindo...
Mas, antes que todas essas manhãs mundanas nos alcancem
E que os sóis de mil mundos varem os telhados...
Finja comigo, finja!
Pois nossa cumplicidade nos torna dignos de amar...mesmo que fingindo...

O Poético

O poético é uma língua
Que deita imagens pelos corpos dos amantes...
uma língua...que arranca suspiros
e gemidos
uma língua com saliva curadoura
para as feridas.

O poético é um estado
Onde o êxtase e o orgasmo
São como um tudo e um nada.

Uma língua...
Uma língua que umedece as idéias,
que absolve dos pecados,
que transcende toda a realidade
e divisa o infinito.

Uma língua feita da seiva do divino.






Amor Imperativo II
E eu tomei de todas as bocas
A tua poesia...
Sorvi os pecados daqueles corpos,
Mas do teu vinha o prazer.
De nada adianta a carne
Se de ti eu tenho o sonho!
A melodia,
Se não toco teu corpo e não se produz o som.
Eu comi de todas as palavras,
Mas nenhuma foi bastante para saciar
Uma única vinda de ti.

Padeço! Como que sofre sede e fome!
Alimenta-me! Sacia-me! Convulsiona meu ouvido,
com a única palavra que importa!
Arranca-me de minha busca!
Tira-me de mim!!
E, deste avesso diga apenas...



Amor e Relógio
Cada minuto bebia aquela emoção intensa,
e aquelas horas pertenciam a um devaneio circular.

Enquanto os ponteiros se encontravam,
Mais uma vez os meridianos se engoliam
com as voltas do mundo.

Cada minuto... cada minuto...
Eles sorviam os pecados,
e como imorredoura atitude,
engolindo...engolindo iam,.
aos poucos, as possibilidades.

Não havia silêncio possível,
Batiam os corações e o relógio,
Batiam.
E os ponteiros seguiam-se mas não entrelaçavam-se...
Até que o pêndulo faça soar a hora,
todos que estavam ali, guardarão para si
aquele segredo infinito, daqueles minutos
que pela emoção bebiam as horas.


Tempo da Plenitude
Bebo pelos olhos do infinito
E pela minha boca escorre o
Silêncio,
Enquanto águas perenes
Gravitam pelo espaço das
Incertezas.

Das penas das aves sorvo o sonho
E sei que num futuro próximo
Também eu esticarei minhas asas...
E, mais Dédalo que Ícaro
Chegarei ao maravilhoso
Horizonte que diviso.

Venha até mim, ó tempo
Da plenitude!
Venha, pois por mais envelheço
Não te alcanço,
E hoje minha sabedoria
É anelar-lhe em completo silêncio.



Desalento
Eu comia as bolachas
E as migalhas que delas caíam...
Comia, com o capricho de quem
Não conheceu a fome
E nem a saciedade...
Umedecia-as com lágrimas
E instintivamente
Garantia-me que não eram sofrimento
Eram apenas bolachas.
Bolachas com água e sal.




Sagrado
Minha mundanidade está toda perdida,
Não que tenha deixado
De ser mundano...
É que tornei-me sagrado.


Necessita-se Figurantes

Sou moderno e te ofereço coisas estranhas...
Participe como figurante
Do filme que realizo.
Participe! É gratuito!
Como toda a jornada da modernidade...
Antes eu pedia coadjuvantes...
Hoje, preciso apenas de figurantes.
Sou um curta metragem,
O principal ator e também
O diretor.
Participe! É sua grande chance de aparecer
No papel de você mesmo!


Dúvida

Aplaudido, amado, gozado...
Quem vai saber?
Pantomimas existenciais.


Fidedigna Falsidade
Toda esta vida...falsa, falsificada.
As imagens aglutinadas e abandonadas
Falseiam, furtam dos olhos a realidade.

Falsos os anseios, os gestos. Fidedigna falsidade.
A compreensão escapa por sutis janelas...
Enganam-me os olhos essa rara beleza
Mundana.

Enganam-me o tato, a língua, os ouvidos...
A verdade não é possível. Ela se esconde
por de trás destas aparências...
e, levantadas, não há nada lá,
pois uma imagem sempre substitui outra,
uma sensação outra...

Não há como cavar os sentidos...
São apenas luzes e sombras, faiscando
Num mundo que se copia numa boite.

Todo esse ar falso, falsamente respirado...
Toda essa alimentação falsa, falsamente devorada...

Essas análises falsas...Tudo é apenas aproximação.
Nada se realiza, apenas essa tôsca e maciça aproximação,
Num inequívoco diálogo entre luz e sombra,
Entre ruído e silêncio...

Vivo perdido no espaço onde essas coisas transferem-se
umas para as outras.
Sou como um louco que pode narrar a própria loucura,
descrever sua insanidade e ainda criticar
a verdade alheia... e até isso é falso.



Frases






Dizer que sou um devorador de dúvidas me faz um defecador de certezas?



Na visibilidade ele escondeu-se e tornou-se invisível.



“Ainda que nossos olhos estejam perdidos no céu, na terra germinam as sementes de nossos sonhos.”


“E aí? Será que a tua boca pode com o desejo da minha?”

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