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Aquelas dez horas por dia... ou O desempregado

            Quando nos tornamos desempregados, e demoramos muito para nos recolocarmos, caímos num estranho limbo para o qual ninguém nos preparou. O que mais incomoda é ver o apoio que inicialmente vinha de amigos e familiares transformar-se em velada crítica: “ele não se esforça o bastante”, “é muito exigente”, “só reclama”, “não faz nada”, “não tem assunto...”  “Não se distrai!”, “Precisa viajar!”, “Pensar em outras coisas!” Entretanto a maioria deles não participa da sua vida diretamente e nem te ajuda de verdade, e nem te ouviu reclamando. A melhor parte mesmo é quando não falam mais contigo, pois têm pena e não sabem o que dizer. Depois de algum tempo, você que sempre foi um bom, se não um ótimo profissional, começa também a se questionar. Se eu era bom, por que não achei emprego ainda? Se eu era bom por que as pessoas não me vêm mais com bons olhos? Por que me cobram investimentos que eu não tenho dinheiro para fazer? Por que depois de tanto estudar sempre me dizem que preciso

Não falarei da Morte

  N ão falarei da Morte, mas do seu resultado: a ausência de quem morreu. O termo ausência não o descreve bem, pois sempre está chamando o seu contrário, a presença. É como dizer, partiu. Entretanto não haverá retorno, não pode voltar. Ficamos inutilmente tentando minimizar o assombro aterrador desse abismo. Abismo também não é uma boa palavra, pois tem um lado de cá e um lado de lá. Para os vivos não existe lado nenhum só há o “cá”. Ao longo das décadas que convivemos com a pessoa fazemos coisas juntos, amamos, brigamos, sofremos, sorrimos, damos beijos, abraços, sentimos cheiros. Vivemos momentos únicos e transformadores. Nós não somos uma pessoa inteira estando sós. O que somos está também preservado nos sentimentos e memórias dos outros. Nosso melhor sorriso não fomos nós que vimos, mas alguém o levou para si. Nossos gestos de dor, conquistas e vitórias, aquela luz que recaiu sobre nós num pequeno instante, nós os sentimos, mas não nos pertenceram. Pois foram e são levados pelo

Dia Nacional do Livro - O Livro Brasileiro precisa de defesa

                 Hoje fiquei com vontade de contar alguma estória lúdica, algo que fosse fofo e enchesse os corações de algodão doce. E olha que nem tinha bebido. No dia Nacional do Livro me lembro que uma vez afirmei - aqui no Facebook, no Brasil se comemora aquilo que se mata. Quase tudo para o qual inscrevemos um nome numa data em especial, cotidianamente a prática no país é matar e destruir, exceção feita ao dia das Mães.                 Desconheço a genealogia destas datas e dos nomes que nelas colocaram, e devem significar para todos mais ou menos o que significam para mim: “um momento para refletir sobre o objeto ou pessoas comemorados”. Claro, que ninguém faz isso. Não fosse a falta de assunto nas redes sociais nem lembraríamos que dia é hoje. O livro é um objeto, ainda que não seja um cinzeiro, é um objeto (um objeto cultural). Então, quando o comemoramos, também devemos comemorar todos os profissionais que participam da sua confecção.                 Para que ele surja começa

A.I!! -Dia do Professor

Diante de uma tela na sala de aula as crianças esperavam a nova professora chegar. Uns acompanhariam o curso a distância, outros estavam ali. Pequenos e jovens, olhinhos brilhantes e de certa forma aflitos para conhecerem a professora. Após um curto sinal sonoro a classe silenciou, atentamente observavam a tela. Esta se iluminou com imagens felizes e tranquilas, acompanhadas pela voz de Judy Garland cantando o tema do Mágico de Oz. Parecia que ia ser divertido. De repente surgiu um rosto feito por animação, não dava para distinguir se era homem ou mulher. A voz, uniforme e em tom calmante autoritário, cumprimentou a todos: Bom dia, classe! Meu nome é Edir. Sou um programa de Inteligência artificial. Eu irei cuidar da educação e da formação de vocês como pessoas. = Como te chamaremos,Senhor ou Senhora? Perguntou , Pedro Henrique, o mais saidinho. "Apenas Edir, sou um algoritmo" Ela fez uma pequena pausa, com

Feliz dia do Escritor

                Ontem assisti o filme “Meu ano em Nova York”, na Netflix, recomendo. Um filme leve sobre amadurecimento juvenil.   Um dos atrativos era a possibilidade de que a personagem tivesse alguma proximidade com o famoso escritor J. Salinger, autor do ainda mais famoso “O Apanhador no Campo de Centeio”. Vários escritores foram famosos por não gostarem de aparecer em público, dar entrevista, palestras, tirar fotografias, etc. Salinger neste quesito é provavelmente o mais conhecido. Com a fama, se isolou numa fazenda no interior dos Estados Unidos. Nunca lhe perguntei, mas imagino quais sejam seus motivos.                 No filme, Sigourney Weaver, é dona de uma agência literária. Aquelas agências (que ninguém conhece ou sabe como chegar) que pegam o original de um autor e o vendem para uma grande editora e todos saem ganhando. Por aqui já estão surgindo algumas, com uns noventa anos de atraso. Em uma das falas, Weaver, revela que ao ler originais de livros ficava imaginando

Sobre capas de livros, sangue, cabeças que rolam e sexo!

              Nos últimos quatro dias as coisas têm sido bem intensas por aqui (na tela do celular). Já começamos a discutir a capa do novo livro. Pessoas, só quem já se meteu a publicar sabe como é difícil transmitir uma idéia para um capista realizar a obra; principalmente se ele não a leu e nem vai ler.             A capa tem diversas funções , então é um trabalho bastante complexo. Em primeiro lugar ela deveria estar bastante relacionada com o contéudo da obra, de alguma forma já possuir alguma coisa que atraia o leitor para este conteúdo. Só de ver a capa o leitor precisa ter uma mínima idéia do que encontrará no livro. Isto para mim é o primeiro ponto.             A segunda questão é estética. E esta dá mais uma boa dor de cabeça, pois exige muito do capista - realmente profissional -, pois afinal não se deve exigir do escritor que ele saiba sobre combinações de cores, tipos e formas de letras, que imagens usar ou não, etc. O lado bom desta segunda questão é que você não

A educação é a solução (?)

            Vamos morrer fazendo essa afirmação. E para cada vez que ela sair de nossos lábios a emendaremos com diversos problemas aflitivos. A educação seria a solução para um monte de coisas. Provavelmente nenhuma das coisas para as quais a evocamos. Educar alguém não significa que este alguém terá qualquer apreço pela cultura ou respeito pela civilidade e as pessoas. A educação é muito importante, entretanto, não faz mágica. Existem aspectos da mesma “educação” que são relativas aos pais e à família, ainda assim, mesmo que estes sejam eficientes, não há nenhuma garantia de que seus esforços serão bem sucedidos.             Então, falemos da educação instrucional, sobre este quesito podemos entender melhor o que ocorre e por que ocorre. A primeira escola pública e gratuita, até onde sei, foi criada por Napoleão Bonaparte no inicio do século XIX na França, elas originariam as escolas politécnicas mais tarde. A intenção era preparar a mão de obra para a indústria que desenvolvia-s