Hoje
fiquei com vontade de contar alguma estória lúdica, algo que fosse fofo e
enchesse os corações de algodão doce. E olha que nem tinha bebido. No dia
Nacional do Livro me lembro que uma vez afirmei - aqui no Facebook, no Brasil
se comemora aquilo que se mata. Quase tudo para o qual inscrevemos um nome numa
data em especial, cotidianamente a prática no país é matar e destruir, exceção
feita ao dia das Mães.
Desconheço
a genealogia destas datas e dos nomes que nelas colocaram, e devem significar
para todos mais ou menos o que significam para mim: “um momento para refletir
sobre o objeto ou pessoas comemorados”. Claro, que ninguém faz isso. Não fosse
a falta de assunto nas redes sociais nem lembraríamos que dia é hoje. O livro é
um objeto, ainda que não seja um cinzeiro, é um objeto (um objeto cultural). Então,
quando o comemoramos, também devemos comemorar todos os profissionais que
participam da sua confecção.
Para
que ele surja começamos por um escritor de ficção ou não (aqui nos referimos ao
texto, rs), depois editor, revisor, diagramador, capista, designer gráfico, as
secretárias e o rapaz do café. E todo mundo por quem o livro passa depois de
finalizado, distribuição, livraria, moças e rapazes da livraria que colocam em
exposição ou escondem o livro. (Uma vez descobri um rapazinho, na Saraiva, que
ocultava Noite Escura na seção de romances femininos para não vender, pois ele
o lia no horário de almoço). Se vocês são espertos, e sei que são. Já notaram
só pela rápida descrição que todos esses profissionais citados estão passando
por uma crise econômica, além da nossa própria crise geral.
Eu
não vou jogar confete no livro e na sua importância, o coitado já tem tanto confete
e serpentina sobre si que mal dá pra saber se ele existe embaixo dos restos das
comemorações. Grandes editoras não estão bem das pernas, pequenas editoras
aparecem e desaparecem, grandes livrarias não estão bem, pequenas livrarias são
chamadas de “resistentes” há umas três décadas, são como os antigos cinemas de
rua. A diferença é que depois de fechadas viram Tabacarias e não igrejas
evangélicas. O termo que mais gosto é “independentes”, existem editoras
independentes, autores independentes, livrarias (?), e o diabo! (Bem, este
realmente é independente). Independente
de que? Das grandes editoras e livrarias? Das distribuidoras? Devem ser
independentes de dinheiro e de apoio do Estado. Primeiro – ao longo de uma
centena de anos – nosso mercado editorial se concentrou na mãos de poucos,
agora ainda concentrado, mas com gente formada e precisando de emprego por
todos os lados, este mercado se pulverizou. Afinal, as grandes editoras não têm
emprego pra todo mundo. Logo, logo, entre os pequenos alguns se tornarão
grandes. É a regra da existência. A indústria do livro no Brasil ainda não se
estabeleceu de fato, e periga morrer antes disso acontecer.
Entretanto,
qual é a política pública para o Livro? Por que atualmente quem paga para fazer
o livro é o escritor? E muitas vezes é este também quem o vende. Por que não
temos programas de TV ou rádio dedicados a entrevistarem e divulgarem autores
nacionais conhecidos e desconhecidos? O livro tem um poder imenso. E não vamos
dizer que é por isso que o governo não se preocupa; bobagem, os livros
estrangeiros imperam por aqui. O autor brasileiro sonha ter nascido americano,
situação mais ou menos parecida com a de quem faz filmes no país. No dia
Nacional do Livro, precisamos de incentivo cultural, econômico, fiscal,
propaganda, e visibilidade para o livro brasileiro.
Confete
e serpentina a gente joga no Carnaval, neste dia Nacional do Livro, vamos jogar
bosta em quem deixa o bem mais valioso deste país jogado num limbo, numa terra
onde ele flutua sem pai nem mãe, sem ninguém que cuide dele de fato. E você que
me lê ao acaso no Facebook, se não lê livros brasileiros – e ironicamente defende
o cinema nacional – quero te comunicar que a literatura no Brasil não foi
enterrada com Machado de Assis, e Clarice Lispector no momento das suas mortes.
O Livro brasileiro precisa de defesa. E precisa de defesa há décadas,
silenciosamente ele foi sendo deixado para trás. Se no futuro você, daqui uns
quarenta anos, estiver vivo, além do ar, da água e comida, poderá notar que
além deles o Livro Nacional também foi extinto, só que por falta de uso.
Feliz
dia do Livro Nacional. Infelizmente, as pessoas que lerão isso só podem ler, não
têm poder para fazer outra coisa.
Ah!!!
Tem um poder: Compre livro brasileiro!!
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