Nos últimos quatro dias as coisas têm sido bem intensas por aqui (na tela do celular). Já começamos a discutir a capa do novo livro. Pessoas, só quem já se meteu a publicar sabe como é difícil transmitir uma idéia para um capista realizar a obra; principalmente se ele não a leu e nem vai ler.
A capa tem diversas funções, então é um trabalho bastante complexo. Em primeiro lugar ela deveria estar bastante relacionada com o contéudo da obra, de alguma forma já possuir alguma coisa que atraia o leitor para este conteúdo. Só de ver a capa o leitor precisa ter uma mínima idéia do que encontrará no livro. Isto para mim é o primeiro ponto.
A segunda questão é estética. E esta dá mais uma boa dor de cabeça, pois exige muito do capista - realmente profissional -, pois afinal não se deve exigir do escritor que ele saiba sobre combinações de cores, tipos e formas de letras, que imagens usar ou não, etc. O lado bom desta segunda questão é que você não precisa ser profissional para reconhecer um trabalho ruim. Você bate o olho e já tasca um "cruzes".
A terceira etapa neste processo está diretamente ligada à segunda. Eu disse você "bate o olho" e... Tem a ver com a visibilidade do livro. Em meio a um jardim cheio de flores coloridas e belas como é o jardim chamado livraria, seu livro tem de chamar atenção de uma abelha, para fazer a polinização: o leitor (comprador). Se você conseguiu uma editora que distribuirá o seu livro e o colocará nas vitrines e estandes das livrarias - tarefa difícil essa -, você não irá querer que ele não seja visto mesmo quando está exposto, não é mesmo?! Principalmente por que esta exposição pode custar dinheiro também, a maioria das livrarias cobram por isso.
Então, estamos diante de uma questão bastante complexa. Exige criatividade, competência, um pouco de instinto e um tanto de sorte. Criar a capa de um livro que além de ser uma capa bonita, esteja de acordo com o conteúdo e que, acima de tudo, atraia o olhar do leitor. Ele precisa desejar ter este livro. Desejar por causa da capa? Sim, queridos e queridas, a maioria dos leitores brasileiros compram o livro pela capa. É muito comum escutarmos o elogio à capa e esquecerem de falar do conteúdo.
Antigamente se dizia: “Não julgue um livro pela capa” - claro, importava o que tinha dentro, se era bom, bem escrito, etc; hoje podemos dizer: “compre a capa e leve grátis o conteúdo”. Esperamos que o conteúdo interesse ao leitor e que ele descubra isso em casa e de preferência sob os lençóis, para poder dizer no Facebook: “Na cama com Vadico!” kkkkkkk
O último quesito externo da capa é o texto da quarta capa, ou a capa detrás para o leitor. As editoras contam o papel que forma a capa dos dois lados. Então o rosto do livro é a primeira, o seu verso a segunda, o verso da última é a terceira e a quarta capa é a quarta capa, oras.
Nesta última costuma ir
uma sinopse, o que você irá encontrar no interior do livro. Este pequeno texto
precisa informar o leitor o que lerá, por que ele deve ler, e também qual a
razão da existência do livro. Este escrito precisa ser ao mesmo tempo uma
propaganda da obra. Em outras palavras, a sinopse deveria começar assim: Compre
esse livro, por que ele te conta uma estória muito boa. Ele é genial, é
sensacional! Sem ele você cairá morto antes de sair da livraria!!
Este texto custa o livro.
Preciso dizer, sou péssimo com sinopses. Como além de escritor sou historiador e Dr. em Comunicação, treinado para pesquisar e fazer análises, quando penso que faço uma sinopse do meu livro, faço uma análise acadêmica do conteúdo. Então, p.ex.: compre este pastel, ele é feito de agua, farinha, sal, é amassado, se colocam dentro restos de animais mortos, e depois ele é atirado em óleo quente, frito e retirado no ponto certo e servido para uma organização orgânica chamada pessoa.
O certo - não importando a qualidade -, seria: Compre este pastel!! É o mais perfeito, o mais maravilhoso, o melhor pastel que você comerá em sua vida!! Pouco importa se é verdade, afinal, o que se deseja neste caso é que você se sinta tentado a comer o pastel. E todo mundo sabe que este é só mais um pastel, mas estranhamente se sente tentado a comê-lo. No caso do meu pastel eu quero que a propaganda seja verdadeira. E que depois de comer você diga que é ótimo e que seus amigos e amigas também deveriam provar.
Ainda existem as abas nas capas, onde na primeira pode ir algum texto selecionado do interior do livro, e na última informações sobre o autor e uma foto dele. Adianto que usarei uma antiga na qual eu estava bem magro kkkkk. Sobre as abas muito mais poderia ser dito, e para cada etapa dita acima existem várias fases de discussão e outros detalhes. Este é só um texto introdutório.
É fascinante participar de uma discussão a respeito de tantos quesitos e saber que ninguém tem certeza sobre qual boa idéia irá funcionar. As más idéias reconhecemos facilmente. Entretanto aquela que fisga o leitor, esta é bastante imprevisível. Depois de todo o trabalho que exige discussões, pesquisas, fazer e refazer, mandar uns “a merda”, fica pronto. E tudo o que você sabe sobre a capa - no interior da Livraria - é uma incerteza: “Será que cola?” Uma boa propaganda também ajuda a localizar visualmente o livro no lugar.
Vem aí "O Moinho que derrotou Dom Quixote"!!
Não, Cervantes não está
na capa! E no interior do livro esta é a única frase que faz referência a Quixote
e indiretamente ao seu autor. Como ilustrar isso? Então, é um titulo
conceitual, é descolado do conteúdo, tem de ler para saber. Agora, experimentem
explicar isso para alguns pobres capistas, freelancers
(parece a regra hoje) e que recebem pouco pelo trabalho e têm um monte de capas
para fazer. Sem tempo e sem vontade de ler o livro para saber o que tem dentro,
pois "isso não lhes diz respeito, só têm de fazer a capa".
O mesmo ocorreu com os meus livros já lançados, se não terminar em sangue, teremos uma bela e significativa capa com uma sinopse duvidosa.
P.S: o sexo no título foi pra chamar atenção : /
Comentários