Pular para o conteúdo principal

Loreley dos Rochedos - Canção do último adeus

Todas as minhas inuteis frases,
desfilando, como drags-queens, num palco
recém-armado...e essa chuva,
que de tão chuva o céu escurece,
enfeitando o espetáculo com ares
de tragédia...

Se ao menos um travesti apresentadora,
pudesse dizer qual o próximo número,
se tempestade ou se - por caridade -
dançassem todos uma dance-music...
Mas, esta salvação siliconada
neste instante não aparece...
Tenho de ouvir toda a chuva
que cai, e cai, e desaba sobre mim
minhas soluções inúteis.

Nem da prostituição sagrada
este michê - de meu coração -
escapa de cobrar pesada dádiva.
É por amor que este espetáculo
patético, traz à luz essas salvas
de ilusão, salmodiando pôças d’agua,
lama e solidão, quando terminada a farsa.





Eu te espero, como quem guarda um segredo
E reparte em mil gotas desesperadas de coração batendo,
Todos estes achados de ingratas flores despedaçadas.
Como quem tropeça e cai sorvendo medos nas escadas,
Eu bebo essas gotas, mal disfarçadas
de tuas fotos pardas e amareladas...
E toda essa aflição de te querer nas repulsas
Que o passado não traz, e assenta calado.
Por isso guardo este silêncio, segredo-sagrado (?)
Olhando para os horizontes,
horas líquefazendo-se, simulando agrados, para
Ouvir tocar um telefone ou ver tua imagem
Simulando gestos de músico,
Para trazer som ao meu silêncio.


(09.09.96) Vanessa Bertolucci e Luiz A. Vadico




Quisera inventar um cântico novo,
Um que realizasse oque meus gestos não puderam...
Mas, do que ele seria revestido?
Nem é possível dizê-lo, muito menos alcançá-lo...
Teria que conter todos os gestos já fracassados
Mas, todos eles são inúteis,
talvez apenas uma canção revestida de impossíveis
pudesse trazê-lo de volta.


começaria então...

Oh, grande peixe dourado, que nada entre as estrelas,
navegando entre sóis, cura-me do peito as chagas deste lamento...
Antes que as macro minhocas de Orion possam arrancá-lo
definitivamente de meu colo,
Que as fúrias de Agamenom detenham essas infames tragédias
Em espaciais latas de cerveja!
Pois preciso guardar-me de afundar navios, quando pelo mar
Tritão me encontro. E encantado pelo teu grande olho lunar
perdido de imensidão e mim mesmo, evoco-te para apenas encantar
e não mais destruir corpos de marinheiros.




Sei que meus passos andam medidos...
Têm o cumprimento de cada sepultura de meus sonhos,
E não adianta falar de seus espíritos, a andar
como mortos vivos, pelas aleias, buscando..buscando,
Agora, são apenas fantasmas, tolices, pesadelos.
Minha pele, fresca ainda, necessita novos sonhos
Sem despertares repentinos, sem cantar de galos,
Sem afazia intra-molecular...
Meus ouvidos vão ouvindo essas músicas...
Como se fossem conta-gotas, deixando deslizar
Aos poucos, toda essa máfia de conspirações notadas...
Esses meus olhos que não mentem, sempre lacrimejando,
E eu, dizendo que é apenas alergia, pó, poluição, qualquer coisa...
Juro! Que saudade Não!




SE o tempo não traz distância, antes nunca ultrapassada pelos minutos, que serão das quimeras das primeiras horas do dia? será que o sol, que dolente caminha pelo espaço, não sabe que ilumina a terra, ou ignora que a vida que ele mesmo gera, parte a todo momento em busca de novas guerras?

E se a lua acorda louca, e em delírios geme e se esquece? Como faremos as alvoradas sem suas lamúrias, sem seus apêlos em busca da estrela maior? Só este espaços da incerteza podem conter toda essa agonia dos instantes...

E aí, quando passar essa funesta cesta, que será de meus delírios que se tornavam sonhos? Terão sido ágapes enrolados em eros ou eram tão somente fanttasia de outras eras? Já não sei como tratar destes doentes que me visitam a pedir caridade, uns querem lágrimas, outros querem sorriso, poucos querem me dar o que preciso!





Quem deseja tomar esta vida, que a tome logo! Não me deixe aguardar logo mais a noite, por que aí virão as estrelas...Meu Deus! Virão as estrelas, com seus cabelos de tormenta, e a lua desvairada a passear pelo céu, límpida e vesga a fazer vítimas entre os amantes.
Quem quiser tomar esta vida que a tome logo! Por que depois virá o amanhecer. Meu Deus, o amanhecer! Corram todos! Fujam! Lá vem o sol! Cravando em nossas espinhas seus juízos cotidianos!
Quem acredita em inferno astral?! Quem acredita em lamúrias abissais?!
Fujamos todos! Já está próximo o dia seguinte...
Por isso quem quiser tomar esta vida que a tome logo! Não me deixe perceber a passagem dos minutos... o escorrer das horas em direção ao mar do tempo!
Faça deste corpo um campo de batalha e deixa espalhar-se este sangue por estas terras sem máculas e não me diga do pavor das horas!
Não quero estar naquele futuro onde as águas frescas e tesas esbarram por sobre os muros. Nem desejo olhar perdido estes horizontes sem crepúsculo.
Quem quiser que me faça prisioneiro, pois não lutarei mais... apenas deixarei que este meu corpo caia na berlinda de ser querido.
Quem quiser esta minha vida que a tome logo! Por que em desvario vai Cilene, Diana e Ishtar, flechando essas inseguras aves que migram, que passam e não voltam jamais em outros invernos!
Onde estarão as profecias migrantes, poemas inconstantes, de outras canções? Se foram para um polo norte distante ou encontraram derradeiras moradas?
Quem quiser que a tome?! Não desejo encontrar novamente os amanheceres! Fujam comigo para este lugar Passárgada! Fujam comigo por que lá o tempo não passa, as pessoas não partem as dores não cicatrizam e a felicidade não nos abandona!
Abandonemos a vã esperança do dia seguinte...






Entende, não sou como as outras flores
que murcham e secam...
Sou uma flor de plástico,
não tenho perfume se não o que me deram.
Apenas o sol desbota as minhas cores...
Talvez depois de alguns anos as minhas folhas se quebrem,
por que é próprio da minha natureza...
Sim, eu não sou visitado nem por abelhas e nem por beija-flores...
Entende, sou o que a nova sociedade deseja,
depois de gasto, posso ser reciclado;
e quem sabe tornar-me um copinho descartável,
e assim, encontrar teus lábios.
Não é que eu não tenha alma,
Sou o próprio processo que me torna sempre novo.









Canto, para que não se esvazie
o que sinto.
Enquanto, este ar transpassa o espaço,
e encontra, perdido, o infinito.
Faço, dos meus ais, verdadeiros espasmos
de espanto.

Canto, e o horror desta voz, não é o bastante,
para afastar dos homens, o desejo.
E, sei, oh, Loreley dos rochedos,
que afundarei navios,
e eu mesmo não sobreviverei
aos seus naufrágios.

Canto, e se eu não cantar,
não haverão amanheceres.,
nem estrelas e nem nada mais...
Enquanto esta fala formar as frases,
este peito der o rítmo, então sei
que ainda se manterão os sonhos.

Só espero a última frase desta cantiga,
quando há de terminar
numa nota fraca ou forte,
macho ou fêmea,
e num stacato,
se estabelecer
todo o silêncio.




Estou cansado de te dar adeuses todos os dias.
Fatigado de vê-lo partir em todos os instantes...
Enxarcados estão os meus lenços de adeuses,
e sei que sente o mesmo ao tomar navios e mirar-me …
á distância..
Apesar do tamanho da Nau, eu te vejo,
todos os dias, tomar um bote frágil e remar,
lutar contra as ondas, até estarmos novamente
bem próximos...
Próximos o bastante, para eu vê-lo partir...

Os aviões te levam embora e nem taxiam
pelos aeroportos...
As aves de arribação carregam-no pelos cabelos
e não obstante as iscas que lhes atiro,
só se aproximam para que possa dizer-me mais um adeus...
A poeira das coisas envolvem-no aos poucos,
e eu me despeço, desejando um grande espanador de memórias,
mas, eis que minhas lágrimas transformam pó em lama,
e desaparece, dizendo-me adeus,
com um corpo já perdido...

Derradeira despedida, quando virá enfim?
Será depois de sua chegada, ou a antecederá,
quando para mim voltar para sempre?
Não sei, e de não saber, é que me despeço
todos os dias, não obstante os lenços, os aviões,
os pássaros e a poeira...

Enquanto houver em ti qualquer força,
que lute, mesmo minimamente, com tão poderosos elementos.,
sei que estarei nos portos, aeroportos,
estações de partida ou de chegada,
pronto para saudá-lo ou, enfim,
lançar ao infinito o último adeus.






Vou desatar os nós dessa iniquidade,
e deixar escorrer desabridamente
este desvario do meu para o teu corpo.
Aí, não quero pensar em diques e represas,
Serei apenas uma avalanche descendo a encosta
e desaguando no vale de teus desejos.




Essa miséria,
mitigadas réstias de mentira.,
coloca sal entre os dentes
e escova detalhes de esperança.
Assim, limpam-se os sonhos dos resquícios,
do que outrora fôra saborosa refeição.
Mitigada a fome,
mortos os desejos,
sal nos dentes;
e o que é puro,
se é bom (?)
fica, no sabor
já perdido...
E não serão de mentiras,
os sabores,
os odores,
captados por esta cornamusa dos narizes?!
Não, não há fartura de amor
nestes prazeres,
absorvidos,
reinterpretados por minha boca...
como se fossem saliva (curadoura),
escarro destes desejos devorados.
O certo é que amanhã eu
precisarei de mais.



Ah, Loreley dos Rochedos, Canta! Canta!
Há de afundar o maior dos navios.
Evoca a tempestade! Clama por Netuno, pai das Fúrias!
E se deleita com esta morte!
Morra junto se preciso for, mas...
Canta! Canta!
Pois hoje é um dia de fúria, um dia de dor!
Sem piedade acorda do sono o homem,
que fôra teu, e não duvide
em deixar vê-lo, sua nau descendo aos abismos
Afoga-o! Mata-o! Por que não é marinheiro!
Seu bote não é frágil, é só instrumento de covardia!
Canta!
E não tema, oh, sereia dos abismos perdidos,
pois estará sobre as rochas,
a enlevar corajosos homens,
dispostos a morrer, para escutarem sua voz!
Pois não há por que ansiar pela calmaria,
sesó na tempestade remam os homens!
Que uivem os ventos! Que desaguem as poesias!
Que toda a verdade se estabeleça!
Canta! Por que hoje necessito de teu corpo
de peixe, de tua alma de mulher,
que mata, qual viúva negra,
a ousadia do amante!
E antes que esta tempestade termine
sei que tua alma estará tranquila...






Canta, ó ninfa das fadas,
com esta suave voz desesperada
que de anseios envolve
o contorno dos sonhos e em seus enleios
de poemas encantada,
numa nota, choro ou lágrima,
em si tudo resolve.

Sereia, das pedras da angústia, em seus passeios,
desfila, entre mares e cascatas, sua rara esgrima,
encantando... raptando o som dos olvidos
deste anseio do qual é aprendiz, e ensina
o tolo príncipe, cativado em amores perdidos.

Canta, ó ninfa das fadas,
estas delícias do teu sensível corpo,
que aqui eu, vencido esteta, absorto
num sereno rompante, guardo tuas espáduas!
E se esvazia... e se fascina...
Por ouvir das pedras teu próprio canto,
neste fado todo o tormento,
de quem, em sonho, já perdeu todo o espanto,
de ver carcaças de navios pelas profundezas,
destes amores, tão breves quanto o momento....




Me diga se conhece motivos,
motivos para estas senhas desiguais
que jamais abrem portas,
motivos para cantar para ouvidos surdos.

Me diga, se a primavera
começa agora, ou aguarda outro
instante...

Me diga, se sonho ou te espero
Se não haverão afazias de olhares,
Se nem teus passos verei ou ouvirei
pelas esquinas...

Me diga, se deseja que eu me perca,
e já não ouvirá mais minhas cantigas...

Me diga se são justas essas favelas nos morros?

se são Justas essas mulheres vadias?
Justas sua prostituição, amor e agonia?!

Me diga, de uma vez,
se estes espaços serão preenchidos por
alguma coisa? Se este eco de tédio,
ribombando pela solidão, irá calar-se
finalmente?

Me diga se irei ouvir de novo
tua fala, e se acreditarei novamente
nas tuas inseguras verdades tornando-se
mentiras.

Me diga...


Então saberei que não deveria ter olvido.



“Poetas querem ser poemas”
Alexandre Krügner


Alguém sabe se garrafas com
mensagens afundam?
Acho que estou deixando de ser um poeta onisciente, onipresente,
oni-qualquer coisa....
Estou cada vez mais dependent
da verdade alheia...
Quem sabe se pararei de dizer verdades?
Se não serei pronunciado pela boca de um alguém, e me
tornarei um poema também?
E se os poemas são verdades, será
que logo não me tornarei verdade também?
Vou descobrir que a verdade das
palavras ainda não está no
corpo que as pronuncia.
Só elas podem ser verdade e corpo,
e nunca por elas mesmas, sempre
precisam por outros serem pronunciadas.
Então quando alguém acreditar que sou
um poema, e eu for declamado por sua
boca, deixarei de ser poeta e passarei
a ser verdade...
Enquanto isso não ocorre, o mais
que me aproximo dela, é no som da minha
poesia, distante de mim por que pronunciada
ausente porque criada...
E, enquanto poema será que
serei novamente solitário?!

.





Para ter essa ciência
foi que conheci este método.
Antes do saber o como se faz
e foi fazendo que o objetivo
tornava-se cada vez mais
distante...Sempre exigindo
a reprodução do método,
a complicação da forma...
e assim, para ter essa ciência
fui possuído pelo método,
e agora, anseio pelas rezas e exorcismos,
e elas não vêm...






Página da Internet

(15:09:07) JOE : Estejam calmos e tranquilos, indecisos navegantes. A tormenta, por mais que a evitemos, está sempre espreitando. Navegar é preciso, viver é muito perigoso e encontrar timoneiros seguros é façanha a que almejam os grandes capitães!

(15:09:40) Flash grita com TODOS: Oi! E aí? Vai chover hoje?!

(15:12:10) JOE fala para Flash: Você, luminoso interlocutor, por ser provavelmente o mais veloz de todos nesta sala, bem que poderia projetar-se "ad coelo" e verificar quais as possibilidades das nuvens. De nossa parte, somos reles navegadores, pobres e atormentados pela distância de Deus.

(15:10:12) Flash entusiasma-se com JOE: Fiquei realmente impressionado..

(15:11:41) Flash fala para JOE: Só quem das tormentas navega os espaços e não encontra se não escolhos de velhos navios naufragados, sabe como do piloto exige o mar Netuno, gatuno e ente alado....

(15:14:16) JOE fala para Flash: Netuno, aquele velho desgastado, já não se presta senão a protagonizar histórias em quadrinhos, do tipo clube Marvel. Volte para a terra, terráqueo que é. Permita-se apenas navegar virtualmente, que é aquilo que a miséria pós-moderna nos legou.

(15:14:57) TANGO surpreende-se com JOE: fantático !!!!

(15:17:19) Flash fala para JOE: Netuno, velho pai de cinco mil ninfas, desgastado com certeza... mas, ninguém se atreve a navegar, seja qual for o tipo de correnteza, sem pedir-lhe licença, pois o castigo vem em direção dos incautos! Não serei eu que navegarei nas águas da pós modernidade, sem antes batizar-me o navio com o nome de uma nova deidade...

(15:15:22) Flash fala para JOE: Sem moral e sem caráter, não sou mais que um ladrão de sonhos (?) sejam eles dos mortais ou dos próprios deuses, e nem deles desfruto, levo-lhes a cada um o seu conceito... E nem posso deitar-me por fim com um corpo amado, dado que tenho aereamente vivido e sonhado. Que posso eu trazer-te se não mensagens trocadas?!

(15:18:45) JOE discorda de Flash: Aprecio a sua baixa auto-estima, porque prova, no mínimo, alguma humildade, imprópria de seres luminosos. Pela sua verve, posso duvidar, "ab initio", que seja amoral e sem caráter. Com certeza é sofredor, sobretudo pela impossibilidade de deitar-se com corpo amado, senão o seu mesmo, se estou certo de seu egocentrismo. Por fim, troque as suas mensagens e alcançará novos mares!

(15:22:39) JOE fala para Nina: Participe da nossa conversa, Nina dos Mares. Eu e Flash estamos próximos do Nirvana.

(15:23:20) Flash fala para JOE: Não me ofendo muito com o egocentrismo, pois posso olhar para as pessoas de algum lugar. Então que mensagens poderei trocar? Olhe, que o amanhã já chega, e em pânico há de nos apanhar a todos... atônitos, correndo dos raios de sol, a escruciar nossas comesinhas verdades, olhe que este novo dia se levanta e trará em si pesada cruz de batalhas mal travadas e teremos todos que sorrir ao descerrar da cortina...

(15:27:37) JOE fala para Flash: Jamais descortinei mínima hipótese de ofender-lhe, caro Flash. Egocentrismo, por vezes, é estado de graça, para os bons de espírito, caso em que pode situar-se. Mas veja: sua principal virtude está descortinada; é a alteridade. Psicanalíticamente falando, embora eu seja um miserável advogado, percebi o seu destino projecionista: você deseja olhar para os outros. Com efeito, vou no popular: nenhum homem é uma ilha.

(15:32:06) Flash fala para JOE: É como se fôra um bom dedo sobre a dorsal espinha, tua palavra desnudadora... delicada... porém adaga fina! Que causas advoga?! Espero que não a de Catilina?!
Será?




Ainda encontro essas receitas prontas,
que dizem como tudo funciona,
a massa sempre desanda,
o bolo nunca cresce...
Acrescento água e o sabor melhgora,
mas alguma coisa estraga.
Enfim, nada está pronto e
nada funciona.






Só estou querendo saber quem roubou o tinteiro de Apolo. Agora ele não pode mais traçar linhas tortas ou retas, nem pode dedilhar a lira e muito menos trazer paz ou poesia para o meu coração!
Quem foi que retirou dele estas estacas com que se matam vampiros e com que se escreve o cotidiano? Quem foi que calou as corujas e passou a impedir que elas deem um pio mais soturno que em si não são mais do que um lírico canto?
Até que o responsável apareça, estarei sobre a rocha de gibraltar a examinar o s navios passantes, segurando nos ombros as colunas de Hercules, esperando que Atlas um dia venha me aliviar...















Faz tanto tempo que estou morto,
que até mesmo de carregar meu cadáver
me canso.
Deixarei isso para aqueles, que melhor
que eu desejam pegar nas alças de um caixão,
E esperarei que no cortejo siga uma bandinha
de Blues, tocando uma marcha fúnebre.
E quando entre estes pretos traídos,
meus restos tiverem sido depositados,
pois já fétidos e putrefatos, no túmulo
da memória - ou no dos passados desenganos -
Quero virar na boca de um trompete
uma música alegre,
E aí ver os pretos dançando e a chuva secando...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os homens, afetos e desejo - A história não contada. Contexto e lugar de partida - I

O inferno angustiante do desejo Hoje quero refletir sobre um assunto do qual eu deveria saber muito, mas confesso que quanto mais aprendo, menos sei e muito menos acredito. E infelizmente não estou sendo modesto e nem socrático. Quero abordar o tema a partir do ponto de vista de alguém que viveu em outra época e que nela tinha medos, necessidades e expectativas e principalmente, tinha um futuro pela frente com o qual sonhava, mas não sabia o que seria deste tempo. Assim que eu disser a palavra, as pessoas irão abandonar a leitura, imaginando que “lá vem mais um falar do mesmo...” Confie em mim e apenas continue lendo, hoje irei falar sobre as necessidades, emoções, expectativas, vitorias e frustrações dos homens que gostam de homens.   Se não usei o termo socialmente aceito é porque de alguma forma ele está carregado de ideias e informações nem sempre corretas ou interessantes. Pode ser que eu o use mais tarde, mas por ora não.             Acredito que neste texto falo, sobretudo,

Deus - I O Devorador

  Deus me seduzindo            Esse não é um texto para relembrar o passado, mas uma tentativa de descrever o que não pode ser descrito.  Vou meter-me a falar do que não sei. Talvez seja exatamente assim, conhecemos muito e desconhecemos muito mais aquilo que realmente é importante. É como mãe, amamos muito mas às vezes nos damos conta do quão pouco a conhecemos. Entretanto, Deus, como o conheço, foi definido magistralmente pelo poeta indiano Rabindranath Tagore: “Sou um poeta e meu Deus só pode ser um Deus de poetas”. Então, só quem vive profundamente o ser poeta consegue traduzir em si o que isto significa.             Por aproximação tentarei dizer um pouco sobre isso. Uma definição destas não aparece em nosso coração na infância ou na puberdade, surge apenas quando ocorre um amadurecimento íntimo, que não tem idade para ocorrer. Podemos ter uma epifania em algum momento, mas ela só se consolida ao longo do tempo através de outros momentos assim. É como um “dejavu” não tem importâ

Deus III - A sustentação essencial. O que é real? O que é realidade?

  Não dá para ilustrar este texto de forma adequada                 Há muito tempo atrás se alguém discutisse a realidade concreta das coisas e do cotidiano eu mandaria a pessoa “catar coquinhos”. Entretanto as experiências existenciais nos ensinam se permitimos. O tempo passou e tive vários aprendizados que considero importantes. Eles ajudaram a definir minha relação com o mundo e as pessoas. Nestas experiências, e vivências, passei a lidar com um real que é tênue. Perigosamente tênue. O risco de lidar com uma compreensão expandida do real e da realidade é perder o vínculo que torna as coisas entre nós inteligíveis e aceitáveis. Entretanto, não há nenhum caminho, místico ou não, que não passe pela discussão daquilo que nos parece óbvio, e obviamente verdadeiro, irretocável e irrevogável. Então, hoje vou refletir sobre a realidade física e social, vamos desmaterializá-la para só então, falarmos de imaginação. Mas usaremos a imaginação o tempo todo como método para essa discussão.  

Deus II - A dança: Som e fúria

O sagrado pode se manifestar no cotidiano              De todas as coisas sensórias que me envolveram desde sempre o som é uma das mais fascinantes. Trago grudado ao espírito o canto da pomba “fogo apagou” envolto pelo silêncio da fazenda, ambientando a solitude do jovenzinho que sentava-se na improvisada jardineira da avó e olhava longamente para o campo. De um lado o pasto a perder de vista e de outro o cafezal assentado no morro. De um pouco mais distante vinha o som do vento assoprando forte nos eucaliptos, só quem ouviu esta melodia que rasteja pelos ouvidos e dá profunda paz sabe como é a música e o perfume que juntos vem e quando junto deles estamos ainda toma nossa pele a sombra fresca do “calipial”.             Trago no espírito meu pai assoviando. Era um tempo onde os homens assoviavam, e fazer disso uma arte também era parte do seu quinhão. Só com o tempo eu saberia que o som nos afeta fisicamente antes de nos afetar o espírito. O som toca o nosso ouvido, toca fisicament

Os homens, a história não contada. A pornografia e as transformações sociais da AIDS - II

  (Continuo aqui o texto anterior. Passaremos incialmente pelos anos setenta, a televisão e suas influências e chegaremos aos poucos até os anos 90 e as profundas transformações sociais e sexuais que ocorreram na sociedade). Começavam os anos 70 e éramos apenas amigos! Uma das coisas que me passavam pela cabeça quando era menino (05/07 anos) é que eu deveria ter nascido mulher. Mas isso ocorria não porque eu desejasse os homens, mas porque eu era, desde aquela época, bastante caseiro e não queria sair de casa e nem ver pessoas. Depois aprendi a ler e tudo o que eu queria era mais silêncio e menos pessoas. Depois veio a música e aí eu queria ainda mais silêncio e nenhuma pessoa. Mas para um homem essas coisas não eram possíveis. Homens deveriam ficar o dia todo fora de casa trabalhando e fazendo coisas que não gostavam, pois era necessário para sustentar a casa. Então, o Luizinho queria ter nascido mulher para ser “sustentado” e ficar em casa. E eu não achava a vida doméstica tão terrív