Parodiando Maria Antonieta, “Se não têm arroz que comam macarrão!”
Pela
terceira vez, em menos de dois meses assisti nos telejornais um arremedo de mau
gosto desse conhecido caso. A Rainha era rainha, intocável e praticamente
intocada. Fôra criada num mundo completamente à parte da população. Era mais
uma avis rara do que uma pessoa. Por
isso podemos desculpar a sua alocução ignorante. Todavia, ouvir o eco da sua
burrice na atualidade, vindo de profissionais que lidam com informação e a sua
divulgação é um assinte, é pouco caso, é desaforo!
O
que dizer de um repórter, ou de uma equipe inteira de jornalistas, que faz uma
matéria que debocha da pobreza alheia? E olha que em sua maioria são todos uns
mortos de fome; o que limita qualquer justificativa.
Vamos
ao assunto que me “deixou nos cascos”.
Logo de manhã eu me arrasto para
frente da TV e início o ritual ridículo, mas necessário, de acordar tomando
muito café. Nesse processo descobri que não gosto nada do apresentador do SPTV
1 Rodrigo Bocardi. De apresentador legalzinho que era - faz muito tempo -, subiu
num picadeiro no qual a comédia nunca tem fim. Bem, mas isto é lá com ele. O EPTV
1 (Campinas e região) não é tão difícil de se ver quanto o SPTV, entretanto, da
mesma forma que o outro, tem pouco ou quase nenhum critério para passar seus
conteúdos. Poderia apodrecer aqui relatando os vários “causos” estúpidos, porém
se eles não parecem ofensivos são só “vergonha alheia”.
A
matéria em questão versava sobre o aumento do preço do arroz. Como todos
sabem, junto do feijão, é o alimento básico da população. Em final de dezembro
e também em meados de janeiro eu já havia assistido outras reportagens em tudo
idênticas, e o sentimento de mal-estar já havia me contaminado. Afinal, uma
vez... O repórter foi infeliz, segunda vez... A equipe estava cansada e
dormindo. A terceira vez é deboche! Se ao fazer uma afirmação absurda a Maria
Antonieta deixou claro o motivo pelo qual perdeu a cabeça, como desculpar a
afirmação repetida três vezes?!
A
informação era: o preço do arroz aumentou novamente. Ok, informação dada. Em
outros tempos isto bastaria. Passemos para a próxima. “Não!” diz alguém na
equipe de jornalismo “temos de dar opções ao povo! Arroz é carboidrato,
verifiquemos que carboidratos podem entrar no seu lugar!” Aí, a equipe toda
balançou a cabeça positivamente e fizeram a matéria. Ao final alguém deve ter
percebido a estupidez – espero. Entretanto, o tempo havia acabado, e o chefe
mandou botar no ar desse jeito mesmo. Então... A mesma estupidez três vezes?!
“Com
o preço do arroz nas alturas a solução é encontrar produtos substitutos, como o
macarrão. O povo não pode ficar passando sufoco, precisa fazer substituições
enquanto o preço não abaixa”.
Você que me lê agora já deve estar
rindo. Qualquer pessoa, mas qualquer pessoa mesmo, que tenha ido uma única vez
ao supermercado na vida sabe a diferença entre arroz e macarrão. Geralmente
compram-se pacotes de arroz de 5 kgs. E os pacotes de macarrão geralmente
possuem 500 gr. ou 0,5 kgs. Numa pesquisa rápida – peguei preço de um
atacadista bem conhecido (Tenda Atacado), pois os atacistas são mais baratos. Descobri os valores, e a coisa ficou mais ou
menos assim:
·
Arroz 5 kg. Branco tipo 1. Camil 21,90
·
Macarrão Don Benta – Ninho – 500 gr. 3,29
Fazendo
a proporção 5,0 kg de arroz divididos por 0,5 kg de macarrão = 10; seriam
necessários dez pacotes de macarrão para fazer frente a 01 de arroz. Matemática
SIMPLES 5 kgs de macarrão custarão 32,90
contra os 21,90 do preço do arroz – uma diferença de 50% para o preço do arroz.
Falamos somente de quilos e não do rendimento em porções. É sabido que o arroz “cresce”
e rende muito mais porções do que o macarrão. Além disso, a massa exige molho,
complementos, às vezes carne moída, molho de tomate, salsicha, sardinha, e até
alho e óleo! (não esqueçamos que o óleo aqui é azeite, caro portanto).
Diferentemente do arroz que pode ser apenas cozido com duas colheres de óleo de
soja e um pouco de sal (fica bom). Qualquer “besta” sabe disso tudo, menos as
equipes de telejornal da Eptv e da Globo.
Logo
de manhã, um monte de pé-rapado da TV vem e me diz: “Se não têm arroz que comam
macarrão!” Se eu ouvisse tal despautério de uma rainha, vá lá. Tá fora da
realidade, “é louca de usar peruca”, acabei de inventar a expressão. Convenhamos
realizar uma matéria onde o desdobramento de preço alto do arroz é sugerir o consumo do macarrão por este ser
mais barato é chamar a população de ignorante. E também dar mostras eloquentes
de ignorância do tipo cavalgadura sem arreios. Na França a Rainha perdeu a
cabeça, era Rainha entretanto. Agora, nada vai acontecer, pois a única coisa
que esses repórteres tinham para perder nem adquiriram, a inteligência.
É
este tipo de merda que dá a falta de preparo de jornalistas e seres humanos.
Faltou cuidado, faltou respeito para com as pessoas. É desnecessário sugerir
troca de produtos, se isso for possível as pessoas o farão. No entanto, ninguém
troca o ARROZ, PORRA! Se não for para sugerir que o governo crie estoques
reguladores como foi feito em priscas
eras com os alimentos básicos, é favor passar logo para a próxima matéria.
Parando
por aqui. Você que me lê não merece que eu perca a classe por tão pouco. Fiquemos
atentos. O macarrão é mais caro. Substituir arroz por macarrão é Fake News ou
melhor Donkey News rs.
*
Donkey: burro, jumento em inglês.
P.S. 1. A anedota que abre
este texto é tradicional e o acontecido foi creditado à Rainha Maria Antonieta;
entretanto há suspeitas de que nunca aconteceu. Isso não deixa de ter valor,
uma vez que a anedota serviu para mostrar a distância que existia entre os
nobres e o povo da França do sec. XVIII, por essa razão se continua a repetir
esta estória. Por outro lado, a Rainha estava longe der uma jovem ingênua, e
apesar de ser inocente, foi condenada por espionagem, na Revolução Francesa. As
causas da sua condenação são bastante complexas e entre elas não se deve listar
o caso aqui citado. Ela foi uma mulher pertencente à nobreza que não tinha
grande condição de escolher seu destino. Ainda assim, tinha cultura
considerável e era capaz de participar ativamente do jogo político doméstico de
Versalhes.
P.S. 2. Mantenho a
estupidez da equipe.
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