A cultura midiática hoje deseja fazer de nós a geração do nome (nem adianta procurar o conceito, inventei agora). A cada semana, mês ou temporada batizam alguma coisa com um nome novo ou reaproveitado, e logo começam a surgir vídeos, frases e pessoas, explicando o novo. Dizendo o quanto isso é importante e como você não sabe do que se trata. Recomendam que se atualize. Todos os vídeos começam com a frase “Você sabia que?” E claro você não sabia, porque não é importante saber. Entretanto querem afirmar a sua ignorância e pequenez diariamente. É inventando a sua ignorância que eles ganham a sua atenção. Não por que essas pessoas sejam más, nem sabem ao certo o que estão fazendo, só desejam sobreviver e não lhes importa muito como. Quem tem consciência não faz vídeos, faz retiros.
"Toma, coma essa banana!" |
Uma rápida visita ao Youtube e você
saberá os nomes da vez. A cada busca
que realizar te trazem de volta mais e mais nomes para você decorar e aprender
o que são; aumentando assim a sua sapiência
no ramo das inutilidades cotidianas. É difícil falar sobre os nomes da moda, são muitos e renovados.
Ainda que se recubram de uma capa de utilidade, pois quanto mais supostamente
úteis mais serão acessados. Entretanto têm pouco ou nenhum significado para o
indivíduo médio. E só passam a ter quando este acredita que precisa daquele pífio conhecimento.
Lembro-me que há muitos anos, a cada
vez que a Rede Globo lançava uma novela de temática espírita os Centros
Espíritas primeiro ficavam em polvorosa. Por fim eram atendidos em sua
necessidade de visibilidade, pois era uma religião minoritária. Depois ficavam
preocupados com a avalanche de “bobagens” que tinham de desmentir. Os novos
interessados no Espiritismo que surgiam, vinham até ele pelas razões erradas: “era
legal” “queriam ver espíritos” “conhecer suas reencarnações passadas”, etc.
Fora que todos achavam que eram perseguidos por espíritos obsessores, como se
isso fosse um distintivo para orgulhar-se. Sim, um perfeito “inferno” para os
espíritas, ou seria “umbral”? No
fundo desejavam um pessoal que chegasse dizendo que queria conhecer Allan
Kardec e a sua doutrina em profundidade e contribuir para os seus trabalhos de
caridade. Bem, houve um dia em que o Espiritismo também era o nome da vez. Entretanto, era outra época
(séc XIX), onde tudo se dava de forma muito mais lenta, e as pessoas descobriam
a sua utilidade.
Hoje, todas as profissões – com seus
diversos profissionais – foram incentivados a terem uma “cara” online. É dos
videozinhos demoníacos do youtube, Tik Tok, Reels - ou seja lá de onde arranjam
tanta sede de exibição - que buscam angariar seguidores, mas sobretudo,
clientes. Aí temos nutricionistas, que dão tanta informação online, que é
claro, lhes faltarão clientes; médicos, psiquiatras, psicólogos, e o pessoal
que mais faz sucesso: “como ganhar dinheiro com...” Como não estou vendo muita
gente milionária por aí, deve ser mais uma falácia.
E a beleza disso tudo é que todos sabem da inutilidade dos influencers. Até eles mesmos sabem o quanto são inúteis, e como a
estupidez é contagiosa, todo jovem deseja ser um influencer, ganhar dinheiro sendo ele mesmo, uma pessoa “super interessante
na net”... Honestamente, acho que só pessoas com mais de setenta anos podem ser
interessantes, entretanto, estes não gostam muito de exibicionismo.
Na
realidade a sua única função, e a de tudo o mais, é fazer com que fiquemos o
tempo todo conectados ao celular e gastando nosso precioso tempo para sermos
convenientemente bombardeados por propagandas. Aí, nesse processo surgem “os
nomes”. E não pensem vocês que alguém está imune a isso. Até mesmo a
sacrossanta academia – as universidades – aderiu ao nominalismo vazio: Lattes,
Capes, Sucupira. Que serviam para mostrar competência e que agora servem para
mostrar o inverso. No mundo dos meros mortais, agora estamos na moda dos
Transtornos do Espectro Autista que precisa ser acompanhado da sigla TEA (que
significa exatamente o que foi dito antes). Seu abre alas anterior foi o
déficit de atenção ou TDAH, se forçar a memória a Psicopatia fez bastante
sucesso pouco antes do déficit de atenção.
Imagino que os psiquiatras ficaram
como os espíritas de antanho,
dizendo: “desce da lâmpada! Pára de falar besteira! Não é por que entendeu o
que significa transtorno de espectro autista que você é autista!” E o
espectador dos vídeos retruca: “Mas doutor, eu balanço igualzinho autista!” e o
coitado precisa esclarecer: “Então, é só parar de balançar, você consegue!” E
como é difícil convencer gente normal de que ela é normal, ele passa um remédio
ou dois. Diferentemente do Espiritismo, que esclareceu um monte de gente que o
procurou e acabou não crescendo como devia, grande parte da população hoje está
medicada para males que só existem de verdade nos vídeos que ela viu.
Enfim, graças a este esforço
midiático todo mundo sabe o que é TDAH e TEA. O mais divertido é as pessoas
dizerem que têm graus variados de autismo. É como ser médium, há uma escala
entre zero mediunidade e médium com
missão de salvar a humanidade, tipow
Chico Xavier. Infelizmente o INSS não dá aposentadoria a todos que tentam
demonstrar que não podem trabalhar por causa do que aprendeu sobre si nos
vídeos. P. ex. Portadores de altas Habilidades, antes chamados de superdotados,
apesar de terem imensa dificuldade em conviver com o restante da humanidade não
podem se aposentar por invalidez. Isto é uma pena!
Além dos nomes espalhados pelos videozinhos existem os nomes espalhados pela Televisão, o videozão. Aí, não que sejam
pouco importantes, mas seu uso desmedido causa problemas também. As mulheres
agora sofrem feminicídio, como se
fossem menos mortas ao serem simplesmente assassinadas. O país se encheu de gordos
e gordas de todos os tipos por causa da indústria alimentícia. Aí, inventaram o
nome “gordofobia”, e dá-lhe reportagens e mais reportagens, só gordos chorando
(e eu entre eles). Antes disso foi a vez da homofobia (eu chorando outra vez).
Agora é a vez do assédio sexual, o
que na verdade significa sapofobia,
se a pessoa for muito feia está te assediando. Nada que um bom “vá tomar no cú!”
não resolva. Já passamos até mesmo a fase da pedofilia, onde tudo foi tão esclarecido que alguns chegaram a
levantar a aviltante hipótese que isso na verdade era condição sexual. Nem sei
como a sigla LGBTQIA + não ganhou um P, deve ser porque não cabem mais nomes
ali.
Imagino que já tenha gente babando
de ódio de ler tanto acinte ao despropósito
cotidiano, e olha que nem me esforcei para ofender ninguém. Se voltarmos ao
livro Gênesis, no início da Bíblia, iremos encontrar o momento em que Deus
premia Adão com uma tarefa que ele deve ter achado bem ingrata: dar nome a
todas as coisas e animais e a tudo o que Deus havia criado. Ora, dar nome é um
grande poder. É dizer para a coisa o que a coisa é. Ao citar a Bíblia não quer
dizer que eu concorde ou discorde, é apenas um texto que foi mais influente que
os vídeos do youtube. O que a cultura midiática faz atualmente é dar nomes e
depois te informar que você não sabe o que o nome significa, e depois que
souber, sugerirão que participe disso ou lutando contra ou assumindo o problema.
São apenas nomes: “resiliência”, “deconialismo”, “saia da zona de conforto”, “inovação”,
“capacidade de adaptação”, “inteligência artificial”, “nutrição”, “defícits...”
e todo e qualquer blábláblá que você encontrar.
O que você precisa saber (aff!).
Quem dá nome tem poder sobre a coisa nomeada. Quem dá nome e ou explica, induz
ao comportamento e ao consumo. Estúpido
é o nome que se dá a quem vai enfiando logo ao pescoço a coleira de um nome
midiático qualquer. Sim, eu também estou nessa, porque não estaria?! Quem
resiste a tanto poder?! O nominalismo
contemporâneo pode estar recheado de informações corretas, mas é vazio de
sentido. E o que mais faz é causar danos
à saúde física e mental das pessoas. Deixa hoje mesmo de consumir essas pílulas
de veneno disfarçadas de momentos de sabedoria. Quando desejar informações leia
um livro ou vá ao profissional gabaritado. Se você não pagar às pessoas certas –
com dinheiro e não com o seu tempo -, quando precisar de verdade destes
profissionais eles já não mais existirão.
P.S.:
Aqui usei exemplos de nomes que estão por aí nas mídias, isso não significa
desrespeito ao trabalho sério de quem é sério e nem desrespeito aos que sofrem,
pois sofrimento é real e ninguém gosta.
P.S2:
as palavras difíceis vêm em itálico no texto, facilitará no momento da
pesquisa.
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