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“Tem dia que o Diabo me pega...” ou, Coisas pitorescas que ocorrem nas universidades por aqui

 

O Diabo estarrecido

           Hoje amanheci com a “macaca”! Se acautelem que meus diabos estão à solta! Não vivo em busca de inspiração para minhas crônicas, pois que, vez ou outra, me caem no colo tantos fatos interessantes que o mais difícil é saber qual comentar antes. Como sempre, optarei pelo perigo. Gosto do perigo, e também estes assuntos serão uma espécie de teste de interpretação de textos para alguns. Declaro, antes do início da baboseira abaixo, que sou um democrata, que sou gay e não tenho preconceito internalizado sobre mim mesmo. Falar de gênero atualmente é a coisa mais comum e a mais complicada se você resolver questionar um pouco essa política; que antes era transgressora e atualmente parece opressora.

            Estou em uma cidade universitária, e quem está no meu Facebook é uma legião de professores e professoras do Brasil e do mundo. A maior parte completamente de esquerda e mais que democrática. Entretanto, não são pessoas burras, ignorantes ou opressoras, mas uma boa parte tem dificuldades organizacionais para expressarem às claras suas opiniões. Pois um estranho silêncio foi se impondo a todos. Bem, sempre que me cair às mãos bobagens como as que abordarei podem me enviar, manterei sua pessoa no mais bem guardado sigilo.

            Fiquei sabendo, de fonte fidedigna e legítima, que parte importante da greve dos alunos da USP, tinham entre suas exigências: a melhoria da qualidade dos alimentos servidos no Bandejão; a ampliação do horário de funcionamento do mesmo; e pediam seu funcionamento aos sábados. E que essa reinvindicação se devia ao fato dos alunos não “terem tempo” de prepararem suas próprias refeições devido à correria típica dessa fase da vida estudantil (e de trabalho). E eu me perguntando o que meus pais e eu fazíamos levando marmita e pão com banana para comer, por causa da nossa vida corrida e rotina difícil de pessoas pobres.

Então, vejam, não quero que ninguém tenha a mesma vida difícil que eu tive, ou que qualquer brasileiro tem ainda hoje, mas fiquei de queixo caído e de olhos esbugalhados, quando li a reinvindicação de “mais opções no café da manhã, como por exemplo ovos mexidos e geléia”. E fiquei pensando, “esqueceram do bacon...” Desconheço a lista completa das reinvindicações.  Mas sejamos sérios, pelo amor de Deus, este tipo de pedido desmoraliza a classe estudantil. Como levar a sério estudantes que têm a pachorra de pedir ovos mexidos e geléia no - já gracioso e muito fofo - café da manhã?!

Café da manhã com o diabo, sem geléia

Quando fui estudante da Unicamp, outra grande universidade estadual bastante conhecida (e quiçá a melhor do Brasil), não tinha café da manhã no bandejão. Como éramos estudantes pobres, almoçávamos e jantávamos ali. Somente quem tinha pais endinheirados comia reclamando - a gente não sabia do que. Era barato, muito barato. E pelo preço, se servissem pregos com tachinhas comeríamos, pois não tínhamos opção.

Já antevejo a cena de filme hollywoodiano, a Loira de olhos azuis reclamando para o jogador de Futebol Americano: “- Ó, faltou geléia na minha torrada!” E o outro retrucando: “Até aí, tudo bem, baby! Difícil são estes ovos mexidos sem bacon!” Mas estes nossos loiros além de não serem loiros não são americanos. Que tal pão com manteiga, leite e café?! Fica a dica.

O melhor eu deixarei para o fim, não sem antes elogiar mais uma vez a coisa escabrosa que se repete nessas universidades. Vejo consternado mais uma chamada de um curso a ser realizado no Departamento X sob a tutela do Professor Y e levado a cabo pelo Professor “Britânico, americano e coisa e tal”. Isto é muito importante e bom, e todos deveriam ganhar com o curso e o intercâmbio entre instituições. Mas, pasmem! O idioma será o inglês ou o espanhol (nunca). Isto apesar de ser um professor pago com dinheiro público de instituições de pesquisa brasileiras. Já que gastam, poderiam colocar na verba um tradutor intérprete. Ou a mula que o subscreve, deveria fazer a tradução simultânea do que será dito no curso.

Se você reclama, dizem cinicamente “estudantes da graduação e pós-graduação têm obrigação de conhecer outros idiomas”. Claro, no Brasil... pessoas falando fluentemente outro idioma quando não conseguem falar nem o português (contém ironia). Gasta-se um absurdo para estes intercâmbios. Aí você vai até lá assistir e só tem dois alunos fazendo o curso, e os dois são orientandos do mesmo cara que organizou a farra do boi. Só duas pessoas se beneficiam, o organizador que terá uma linha a mais no currículo Lattes, informando que organizou evento internacional; e o convidado que terá dado um curso no exterior. Ele voltará para a Inglaterra dizendo que no Brasil as pessoas não têm interesse, pois o curso estava esvaziado. Ficará frustrado, pois não tinha com quem conversar sobre suas pesquisas. Pobre diabo que acreditou num incompetente. Alerto, antes de aceitarem convites como esse, verifiquem se havia público nas incursões anteriores. É humilhante ver o constrangimento a que obrigam os estrangeiros. E é ainda pior esse elitismo disfarçado de universidade.

Quem organiza um evento não deve ser apenas encarregado de trazer um palestrante, ou um professor importante, deve também providenciar o interesse no curso e também providenciar o público; pois não há razão para que se gaste qualquer centavo se não houver benefício real nesta presença. Por que reclamo?! Porque isto se repete e se repete e se repete, e ninguém fala nada. Então direi: incompetência ou má fé de quem organiza?! Você escolhe. Mas não paremos por aqui.

Entre os vários descalabros que me chegam, este é o mais curioso. E prestem atenção, não me refiro à motivação política, e sim à espécie de barulho no entorno. Nada diria se o Instituto mesmo não tivesse tornado público e levantado a bola. Levantou a bola, sabe como é o Vôlei, preciso bater. Morro, mas não digo que essa universidade é estadual e é de Campinas. Tente adivinhar qual é. Um dos seus institutos - que se alguém disser que oprimiu qualquer gênero eu desminto, pois foi o primeiro lugar onde vi casais do mesmo sexo se entregarem em carícias na grama (no começo dos anos noventa), mostrando-me que tudo era natural -, decidiu, de motu proprio, criar um banheiro multigênero. Sabedor das diversas dificuldades ligadas a constrangimentos ocorridos no passado e no presente, achei a causa nobre. Mas, imediatamente me ocorreu, como será a plaquinha deste banheiro? LGBTQIAPN+ E eu acrescentaria depois do + um H, de héteros. Se você estranhou a quantidade de letras, inclusive as que você desconhece, saiba que essa é a nomenclatura correta agora.

Não é ridículo e nem absurdo que se incluam pessoas no banheiro - este é o sonho de todo mundo. Eu sou favorável à grande e perfeita normalidade das coisas. Esqueçam todos os gêneros e escrevam na porta: BANHEIRO, e usa quem quer (inclusive quem gosta dos ovos mexidos no café da manhã). É só um banheiro. E dito o que se deve sobre este lugar, tudo deveria parar por aí.

Mas já não é um simples lugar onde se faz as necessidades, virou um território em disputa. E para garantir que não haja brigas entre o “café com pão e os ovos mexidos” o Instituto - ligado às humanidades - resolveu tomar a iniciativa de oficializar a separação, banheiro multigênero.  Parece incrível, mas isto é o contrário de integrar. O correto seria Banheiro sem gênero. Desta forma as outras lutas futuras não iriam se instalar, pois aguardem, logo alguém dirá: “nosso banheiro não é tão grande quanto os outros”; ou, “sempre esquecem de limpar o nosso banheiro”, ou, “nunca tem papel higiênico no nosso banheiro”. Ou a outra opção do time inverso “o banheiro deles tem tudo e no nosso tudo falta”. É preciso o SEM GÊNERO e urgentemente, para que pão com manteiga não pegue os ovos mexidos e os transforme em geléia.

Por que me meti a falar deste assunto tão comezinho?! Por que o Instituto chamou oficialmente a comunidade para a INAUGURAÇÃO do banheiro multigênero. O banheiro é um avanço, se fosse. Entretanto inaugurar banheiro numa universidade onde o mais jovem tem 17 anos de idade e o mais velho conheceu Matusalém, é de uma indignidade absurda. Espero que tenha banda de Música vinda do Instituto de Artes, e que seja a Orquestra local e que também venha o coral, estes desde sempre democráticos, pois fazem tudo juntos. Esperemos que até mesmo o senhor Reitor desça do alto da sua dignidade - ou melhor - traga-a para nós meros mortais, e participe de um evento tão especial e dignificante. E agora? Como ficará aquela espiadinha no “pinto” do vizinho?! Será o fim das relações intergêneros? Seremos todos condenados a sermos alternativos pelo resto da vida?!

Ainda que sopa de letrinhas seja legal para crianças, sejamos adultos, integremos o H e acabemos de vez com a plaquinha de gênero nos banheiros, chamemos apenas de W.C., assim, americanizado, pois fica ainda mais barata a pintura.

Se uma instituição séria faz este tipo de chamada, e ela não é feita com bom humor, ou o medo tomou conta do professorado ou é uma óbvia picaretagem política. Uma má fé travestida de boa fé, de boa vontade.

Amigos letrados saiam deste banheiro agora! Este é mais um instrumento de opressão. Só falta saber de quem.

Ah, tem dia que o diabo me pega...

Alguém viu Kardec por aí?!

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