Um dos bairros mais cantados e decantados da alvissareira cidade de São
Paulo está com os dias contados. Logo irá virar (se já não virou) peça de
marketing imobiliário. Moema é um dos bairros mais caros de São Paulo e se
tornou assim por ser considerado um lugar com ótima qualidade de vida. Moro
aqui há sete longos anos, por isso sinto-me à vontade para criticar e elogiar.
Aqui quando chamamos a polícia ela vem, isso quando já não está por aqui.
Assalto a mão armada? Nunca vi, nem notícia. Mendigos? Apenas duas famílias que
só vêm aos sábados na Porta do Pão de Açúcar ( e creio que trabalham durante a
semana). Antigamente a maior preocupação no bairro era andar olhando para o
chão, pois sempre tinha bosta de cachorro. Havia uma praga também, passarinhos
e mais passarinhos que teimavam em acordar os moradores pouco depois das cinco
da manhã. Outra vantagem é que aqui existe uma agência bancária a cada quarteirão
e meio, se é que chega a tanto. Tudo o que você deseja tem no bairro, ninguém
precisa sair daqui para nada. Só para respirar. Temos até um parque bem
conhecido, o Ibirapuera. Luxo do luxo.
Mas a realidade é bem outra, temos os passarinhos, mas não os ouvimos
mais, pois o bairro se tornou um inferno barulhento. Aviões?! Bobagem, mal
conseguimos escutá-los mais. É só buzinaço de engarrafamento que se ouve. O
lugar parece estar em obras permanentes, pois podemos ouvir o dia inteiro, sem
descanso, britadeiras e mais britadeiras. Teve uma semana que meu quarteirão
tinha três britadeiras trabalhando ao mesmo tempo, uma em cada obra. Fora os esmerilhos
e o aparelhinho de cortar azulejo. Ah, faltou as máquinas de lavar calçada...
E por que se faz tantas obras? Cada novo rico que se muda para cá reforma
seu apartamento. Barulho. Cada nova loja ou bar que abre faz uma grande
reforma, mais barulho. Ouvimos e achamos que irá acabar. Mas este é um bairro
dos mais caros e o que mais acontece é a falência de cafés, bares, restaurantes
e pequenas lojas. E depois que falem, novos donos, novas reformas. E
infelizmente, esses empreendimentos não costumam durar mais de três ou seis
meses. Pois os aluguéis são absurdos e o mal planejamentos dos comércios faz naufragar
todos os sonhos. Além disso o bom Moemino não compra aqui.
O único empreendimento que dá certo em Moema é o meu maior inimigo é o
FORNO A LENHA. Já falei disso anteriormente, mas naquela época eu nem imaginava
que a coisa iria chegar ao ponto a que chegou. Antes o cheirinho de lenha
queimada ocorria de leve e apenas a noite, entre 17 e 22 horas. Agora, começa
antes das 11 da manhã e não pára mais. As pessoas parecem não sentir, mas numa
rápida caminhada pelas ruas o que mais se vê é gente tossindo. Tem noite que é tanta fumaça de forno a lenha
que os olhos chegam a arder. Cadê a fiscalização? Por que ocorre? Pizzarias,
restaurantes italianos, mexicanos, todos acham que devem ter um forno a lenha.
Claro, todos os dias se abre mais um. Tem tanta fumaça que acho que estão
abrindo fornos a lenha e depois anexando restaurantes.
Mas não é só a fumaça que nos perturba, outra fumaça, que agora habita
esta pacata comunidade é o cheiro de fritura, óleo velho. Moro no décimo oitavo
andar, e preciso fechar as janelas todas as noites por causa do insuportável
cheiro de fritura. Outro dia fiquei pasmo, fui lavar meu pijama e me dei conta
que ele estava cheirando óleo de soja. A não ser que eu tenha ido a um bar de
quinta categoria de pijama e saí de lá cheirando coxinha, tenho que dizer que a
coisa chegou a um nível insuportável.
Gasto 45 reais por semana de anti-alérgico, para poder respirar, mais de
duzentos reais por mês. O mesmo valor de uma academia de artes marciais. Quem
paga? O meu bolso e a minha saúde.
Como estou desejoso de me mudar, estou conhecendo vários bairros e
apartamentos da cidade. No Centro de São Paulo, fiquei estarrecido, num lugar
onde as pessoas “sabem” que existe barulho e chegam a colocar vidro antirruído
nas janelas, o que percebi foi que o nível de ruído lá é muito menor do que
aquele com o qual estou convivendo. E aqui ninguém coloca vidro antirruído,
pois vivemos num bairro bom e com alta qualidade de vida. Fico assustado no que
as pessoas creem sem olhar à sua volta e sem realmente sentir o cheiro do ar
que respira.
Moro aqui por que é perto do meu trabalho, mas não posso fugir da triste
constatação. Pagamos caro por nenhuma qualidade de vida. Até o parque do Ibirapuera,
tão amado por todos é uma bomba de venenos. Devido a poluição dos carros e à
produção de suposto oxigênio pelas árvores, sabe o que temos? Ozônio. O parque de Ibirapuera é o lugar da cidade
com o maior índice de Ozônio registrado. O ar é venenoso logo pela manhã até as
10:00 e volta a sê-lo depois das 17:00. Claro que o Ozônio não fica parado por
lá.
Então se você mora em Moema e não consegue respirar por causa dos fornos
a lenha, do ozônio e das frituras, sabe do que eu estou falando. Moema acabou.
Atualmente é só uma bela fotografia. Logo os pássaros serão apenas nomes de
ruas e índios serão os que ficarem. Enquanto isso a especulação imobiliária corre
solta. Vi muita gente se mudando daqui, pessoas que nasceram e cresceram no
bairro foram expulsas pela sua valorização, piada. Bem, eles agora devem estar
felizes, pois quando se sai daqui, só resta a periferia para ter o que já se
teve. Ar e sossego.
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