O Escritor Brasileiro não está em
crise, pois para estar em crise é preciso existir. E, na contemporaneidade, só
existe quem tem visibilidade, logo o escritor brasileiro não existe. A
afirmação pode parecer radical, pois todos conseguem citar uma infinidade de
escritores brasileiros, vejamos Paulo Coelho, Machado de Assis, Clarice
Lispector, Caio Fernando Abreu, e... e... Lya Luft?! (não vale, essa tem
propaganda da Veja). Acho que até se forçarmos um pouquinho a memória
conseguimos nos lembrar de José de Alencar, forçando mais sai um Graciliano
Ramos e quem sabe até - como é o nome
daquele de “Grande Sertão Veredas”? - Ah!! Lembrei mais um: Jorge Amado. Ufa!
É, os clássicos não vale, a gente aprende na escola. Essa é a visibilidade mais
garantida.
Com exceção de Caio Fernando Abreu,
sem tirar nenhum mérito dos escritores citados, todos morreram faz tempo, ou
ainda não foram informados que morreram. Estes contam com apoio incondicional
da mídia. E, parece que quanto mais morto melhor. Uns dizem que é para não
pagar direitos autorais, balela. Alguém sabe quanto é o direito autoral pago a
um autor? É ridículo. Entre 6 e 12 % do
valor de capa de um livro. Mas este é
assunto para outro dia.
Enfim, ocorre um mistério neste
país. Será que os brasileiros não escrevem? Teriam razão os pedagogos nos anos
70 sobre a educação brasileira? E existe apenas uma massa semi-alfabetizada?!
Bem, o leitor que agora me lê sabe que isso não é verdade. Existem muitos
escritores no Brasil, loucos para publicar o seu primeiro livro ou para dar
continuidade à sua carreira. Mas, que carreira? Por que as editoras no país
acham melhor incentivar a literatura estrangeira? Se é que dá para chamar de literatura o que
se vê à venda.
Alguns dirão que o fato de venderem
muito é que faz com que sejam os preferidos das editoras. Pura conversa fiada.
Afinal, por que vendem? Estou cansado de ver o “primeiro livro” de fulano e
cicrano vender milhões de exemplares. Completos desconhecidos. E qual a
novidade da sua escrita? Nenhuma. Marketing e mais marketing, e claro, oligopólio
de algumas editoras no mercado.
Acreditem
se quiser, você vai a uma livraria e vê todos aqueles livros expostos nas
mesinhas e vitrines, sabia que aquele espaço é pago? Que é negociado pelas
editoras? Que eles pagam para você só ver aquilo? Como está a sua opção de
escolha enquanto leitor, se não lhe deixam escolher? Colocam à sua frente
apenas um produto e o outro fica escondido nas prateleiras ou no mundo on-line.
Só há um jeito de você comprar o livro de um escritor brasileiro, conhece-lo
previamente ou ser amigo dele. Assim, você sabe que ele existe.
Com
a internet escritores também passaram a fazer Blogs, sites, etc, mas não ganham
nenhum dinheiro com isso, exceto se souberem “as manhas” para fazerem o seu
Blog ou site decolar. Mesmo assim, isto é trabalho de pessoas especializadas e
não deveria ser do escritor. Se não,
além de escrever, ele precisa entender de Blogs, internet, marketing,
divulgação e formas de ganhar dinheiro sem cobrar pelo texto. Entenderam a
triste piada? Ele não ganha pela única coisa que ele faz bem de verdade. Agora,
se ele não for altamente antenado e popular, de nada adiantará escrever bem.
Não será visto e nem lido, mesmo na internet.
Imaginaram
Machado de Assis se virando com um Blog ao invés de publicar um livro? Tenho
certeza de que parte disso ele faria muito bem. Publicar em capítulos, fazer
frases engraçadas para chamar atenção, responder cortesmente aos “troladores”
de plantão e assim vai. Ele poderia até
possuir uma página no Facebook e um Twiter... claro, que interessante... Mas,
enquanto um novo texto não sai o que ele ficaria dizendo para as pessoas? E
para quantas pessoas? E quantas delas comprariam o livro?
Mas
o que escreve o escritor brasileiro? Ninguém sabe. Ninguém viu. Ninguém leu. Vamos
ver se eu me faço entender melhor. Imagine se Shakespeare fosse brasileiro e
nosso contemporâneo. Toda aquela obra maravilhosa estaria perdida. Imagine se
Clarice Lispector não trabalhasse num jornal – e tivesse assim a sua visibilidade
garantida – nada de Clarice. Falando nisso, já perceberam que os escritores
mais conhecidos do Brasil, trabalham ou trabalharam em jornais? Claro, por isso
são conhecidos – para além da sua qualidade – pois estavam na mídia. Alguma
coisa vai muito mal no mercado editorial brasileiro, no mercado livreiro, nas
estantes e prateleiras do Brasil, e provavelmente não é o escritor. Então,
parece que em nosso país, para ser conhecido o escritor tem de ser
jornalista... Ó, Deus, tsc tsc tsc.
Mas aquele “Zé Mané” estrangeiro,
que nunca colocou os pés aqui e que nem contribuiu com os nossos impostos a
vida toda. E que não conhece a nossa realidade, a nossa cultura, a nossa vida,
os nossos problemas... Vem, tem espaço, pega o seu dinheiro e a grande
distância, pode se dizer escritor: traduzido e vendido em cinquenta países. Nem
vou falar mal deste coitado, pois ele deve receber muito mais do que um
brasileiro, mas também deve ser explorado por sua vez.
Quando vamos publicar um livro, um
dos maiores trabalhos é a capa. Que imagens? Que cores? O que elas simbolizam? Elas
falam sobre o livro? Ela irá chamar atenção do leitor? Ela traduzirá um pouco
da história? Bem, depois de todo o trabalho que o escritor brasileiro tem junto
à editora e ao capista - quando consegue ser ouvido -, alguém pega todo aquele
esforço e esconde.
Imagine,
se você vai a um açougue, olha as carnes no balcão, depois pede uma pelo nome,
e o açougueiro vem e já trás o que você pediu embrulhado e pronto pra levar.
Você não acharia estranho? Suspeito no mínimo? Não chegaria em casa e ficaria
olhando para ela com jeito de quem não confia no que irá comer? Se aquela carne
fosse boa, por que não estaria exposta? Por que ele não te deixou ver? São
essas coisas que estão por trás da visibilidade de um produto no comércio. Enfim.
O espaço do escritor é a livraria. É a estante, a vitrine, o estande de
exposição.
Enfim, não é que não tenhamos
leitores. Acho que nunca se leu tanto no Brasil como agora. E mesmo escritores
brasileiros têm algum espaço, bem pequenininho, mas têm. Mas precisamos de
muito mais. Afinal, este é o Brasil. Quem deve implorar por espaço nas
livrarias são os estrangeiros.
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