No
texto publicado anteriormente falávamos da visibilidade necessária do Escritor
Brasileiro. E alguns dirão: “Ah, mas hoje com a internet...” Sim, Pelo que sei,
os jovens escritores brasileiros estão se esforçando muito para ocupar a net.
Em busca de visibilidade, no entanto, passaram a imitar – claro que sem as
mesmas chances – o que alguns fizeram fora do Brasil. Existem sites e portais
que se especializaram em hospedar literatura, contos, crônicas e poesias. O
escritor coloca lá, ele emais vinte mil pessoas, é indexado. Para que serve?
Para o site vender publicidade, pois vinte mil pessoas já acessam aquele lugar.
Muitos
escritores – para divulgarem as suas obras – dão cursos de como escrever
livros. Criam Blogs, se esforçam para fazer tardes de autógrafos e escrevem
quase todos os dias frases de marketing pessoal sem o menor sentido. Anunciam
as suas supostas palestras – que serão gratuitas ou mal pagas – e cursos de “como
escrever bem” ou “como virar escritor”. Já vi escritores e escritoras
divulgando os seus cursos através de vídeos no Youtube, filminhos
pasteurizados, falas pasteurizadas... Honestamente, depois de ver os vídeos não
tive vontade de ler nada do que escreveram, me deu dó.
O
que me informaram com essa postura – nada contra eles e suas necessidades – foi
que a literatura deles não tem alma, tem regras. E se assim não for, estão
fazendo uma performance aprendida de
como “ser escritor” no mundo contemporâneo... Isto tudo seria uma boa idéia, se
não criasse mais novatos, nem sempre talentosos, para serem explorados em sua
boa fé outra vez. Pois até oferecer um curso de como escrever já é exploração
da boa fé. Por que afinal, quem ensina escrever bem ou mal é um professor de
português. Aprender regras de como construir personagens e estórias não fará
ninguém escrever bem, fará no máximo um aplicador de regras. E acena com a esperança
de publicação, e fama, para o escritor novato, nada mais falso. Agora se você
fizer um curso de roteiro, isso é outra coisa, pode até virar um roteirista
talentoso, pois para isso realmente existem regras que necessitam ser
aprendidas antes de se dar os primeiros passos. O talento pode aparecer depois.
Mas
escritores equivocados explorando futuros escritores não é a única forma de
exploração na internet. Com a facilidade da vida moderna, computadores,
impressoras, editores baratos, o que mais tem neste mundo é micro editoras – e grandes
também -, e é muito comum que elas tenham sido fundadas por escritores desconhecidos
que buscam viver do seu trabalho. Elas se oferecem para publicar o “seu
primeiro livro” em módicas prestações. O que não informam é que ele não será
distribuído e que se for distribuído não será visto, e logo você pode fazer o
que quiser com o seu livro, pois ele não será vendido.
Bem,
e quem disse que seu livro merece ser publicado? Quem foi que qualificou este
material de literário? Isto tudo, net e talz, pode ser democrático. Mas imagine,
você leitor lendo centenas, ou milhares de textos ruins até encontrar um bom...
Iria dizer: “melhor ler os estrangeiros, já foram escolhidos”.
A
melhor comparação que posso fazer entre um escritor que escreve bem e outro nem
tanto, é a de duas pessoas que vão para a cozinha com os mesmos ingredientes...
A comida nunca sai igual e as duas podem sair boas. Mas, entenda, quando lemos
um escritor estrangeiro, lemos ele e o tradutor, que tem um trabalho fantástico
– ele é meio autor também -, mas, estamos falando dos grandes. Atualmente, não
sei se temos péssimos tradutores ou se estão traduzindo péssimos escritores. As
frases são parecidas, o tamanho dos parágrafos, as estórias, o número de páginas
e as trilogias, etc, etc etc. Enfim, para ler o que escrevem hoje, seria melhor
ver um bom filme.
Atualmente
a única coisa que diz – até mesmo para o escritor – se ele pode ou não publicar
um livro é se ele pode pagar pela publicação. E, neste caso, é bom que ele
realmente acredite no que faz, porque não é barato e não dá lucro. Quanto ganha
um escritor por sua obra?
Ele
ganha de 6 a 12 % do valor de capa. Mas, digamos 10% por que sou ruim de
contas, se ele vender 1.000 exemplares, custando 30,00 cada um – autor caro –
ele ganhará 3.000,00. Uma verdadeira fortuna dividida em módicos pingos que
caem na sua conta ao longo de anos. E sei de editoras que pagam o direito
autoral não pelo preço de capa, mas pelo preço de custo do livro. Sabe quanto é
o custo material de um livro de 200 páginas, simples? Uns três ou quatro reais.
Início de carreira? Às vezes sim, às vezes não, nem os mais conhecidos vendem
mais que três mil livros. Uma ou outra exceção. Mas não falemos de exceção,
pois vender milhares e milhões de livros em outros países é uma regra, e aqui
também, mas só para estrangeiros.
No Brasil a coisa fica distribuída mais
ou menos assim: Escritor 6 a 12 % do valor de capa, a livraria 40% ou mais, o
restante é dividido entre a editora e a distribuidora. Você prestou atenção? 40%
para a livraria!!!
E quanto paga um escritor para
publicar? Se ele for publicar da forma mais primitiva, a impressão sob demanda,
praticamente nada, pois a editora cobrará entre 25,00 e 40,00 por livro
impresso que ele ou as pessoas adquirirem. E, claro, nenhum marketing. Apesar
destas editoras alardearem que venderão o seu livro no site e mandarão e-mails
para malas diretas. O escritor comprará uns trinta livros, arranjará um bar ou
restaurante e convidará os amigos para o lançamento. Quanto ele irá ganhar? Uns
agradinhos no ego. Para quem se contenta, está bom. Mas não é isso o que um
escritor de verdade deseja, não é? Ele quer ser lido, e lido por um grande
público.
Se o pobre escritor encontrar uma
editora realmente regular, pode começar a pensar em 7.000,00 de investimento, e
depois irão mandar mil exemplares para a casa dele. Já imaginou o que fazer com
os 960 exemplares que irão sobrar depois do lançamento? Um site para vendas com
opção para pagar no “PagSeguro”, vai vender um a cada três meses e olha lá. Se
o escritor puder investir uns 20.000,00 irá poder contratar os serviços de uma
editora maior. Ela distribuirá o livro e tentará convencê-lo de que ela também
gastou na publicação, e por isso não irá pagar direitos autorais (aqueles
ridículos valores). Mas o livro distribuído hoje significa apenas distribuição
para sites de compra via internet. E só. Sem marketing, sem nenhuma propaganda,
sem entrevista no Programa do Jô.
Se além destes 20.000,00 ele puder
investir numa assessoria de marketing, aí as coisas podem andar um pouco melhor,
mas sem nenhuma garantia. Aí, pode contabilizar mais 20.000,00, em módicas
mensalidades. Quando o escritor começa a ganhar dinheiro? Sabe Deus, talvez
nunca. De repente até ganhe alguma notoriedade. Mas, aqui paramos no último
problema, que remete ao primeiro texto: visibilidade. O pior dos gargalos. A
distribuição é um problema sério, mas vencida esta, vem o pior deles. Seu livro
será visto? Ele ficará exposto? Estará acessível aos olhos do leitor comprador?
Aí, só sendo estrangeiro ou famoso, tipo ator da Globo.
Mas isto não ocorre apenas no mundo
dos escritores de ficção. Pasmem. A coisa também anda feia no planeta daqueles
que não serão lidos mesmo. Os livros acadêmicos, responsáveis pela divulgação
do saber científico produzido no Brasil passam por coisas bem mais penosas.
Raramente o autor poderá publicar pagando do seu próprio bolso, em geral por
que é um duro. Mas o motivo é que a editora tem de ter um Conselho Científico
que abalize a qualidade daquela obra. Bem, aí se trata de uma editora
especializada.
E
os leitores me dirão, como assim? Se livros acadêmicos não dão lucro, como
existem editoras especializadas em não vender livros? Da seguinte forma.
Existem órgãos do governo que financiam este tipo de publicação. A editora
envia o original para a instituição que o avalia uma segunda vez, e claro,
junto deste a editora mandou o valor a ser gasto. As instituições nunca
financiam 100% apenas a metade do custo da publicação. Como é que se ganha
dinheiro? Se envia para a organização do governo 100% ou mais do valor como
sendo a metade, ou seja, 50%. Entenderam? Claro que nenhum centavo será gasto na
divulgação do livro. E provavelmente nem chegará a ter mil exemplares estocados
em algum lugar.
Se
houvesse honestidade a maior parte destas editoras deveriam pegar os livros e
distribuir para as universidades, sem nenhum custo, pois já estão pagos mesmo,
e com lucro. Nem todas agem desta forma, mas estas são exceções. Tudo seria
diferente se houvesse uma política pública de publicações que fosse coerente com
a realidade. Neste caso, o livro acadêmico não tem mercado, ponto. Mas o saber
precisa ser difundido e ele não vem sendo, apesar do governo pagar pelas
publicações. O prazer do acadêmico é bem menor do que o do escritor, pois
quando ele convida os amigos para o lançamento, todos sabem, inclusive ele, que
o livro não irá vender. E apesar dos seus esforços pouquíssimas pessoas o
lerão. É só a fé no saber que o faz continuar.
Se
ainda não está convencido destas dificuldades, vamos lá. Qual é a sua postura
quando um amigo publica um livro? Espanto. Horror. Primeiramente parece algo
tão impossível de ser feito que todos o congratulam, em seguida dizem aquela
frase “Depois de morto você será famoso” ou “De que adianta ser escritor se só
será conhecido depois de morto?” Bem, aí ele te convida para o lançamento. Você
compra o livro – de boa vontade - mas, é quase uma espécie de favor que se faz
para um amigo. Chega em casa, guarda o livro num lugar qualquer da estante.
Depois de alguns anos, acha o livro sem querer. Está com dor de barriga, leva
ele pro banheiro e sai de lá dizendo: “Querida! Não é que fulano escrevia bem?!”
Ainda se você estiver nesta classificação é um ótimo ser humano. Existem os
outros que não são tão amigos e que a primeira coisa que dizem quando são
informados do lançamento do livro pelo escritor é: “Oba! Eu vou ganhar um, não
vou?” Claro, se ganhar, vai guardar o livro, isto se não vender para um sebo
imediatamente. E não vai ler. Por que afinal, de graça não presta. Desconfiamos
até de promoções de lojas de roupas caras quando estão baratas demais. Pode parecer estranho para alguns que eu
defenda o escritor brasileiro. Não é por que eu o seja também, mas por um bom
motivo, faz muita diferença ler o livro de alguém que nasceu falando português do
Brasil. Só um escritor nacional pode explorar com riqueza a nossa língua e
cultura, ou pode explorar pobremente também. Mas, aí mora a diferença, se ele
fizer isso de forma ruim, você irá perceber. Ler, e não apenas informar-se
sobre uma história, ler é todo o processo que inclui a compra do livro – quando
lê o título, a capa, a contra-capa, as abas – e depois todo o sabor de uma
prosa infinitamente rica. O escritor pode te levar a mundos loucos e imaginários,
mas isso é fácil, bom mesmo é que ele pode colocar riqueza em cada nuance das
palavras, das palavras que estão no seu idioma e que só você pode entender
todos os ricos significados ali preservados e sugeridos.
Alguns poderão argumentar que já foi mais
difícil publicar no Brasil. E é verdade, já foi mais difícil. Mas pelo que
viram, parece que o problema não é publicar, não é? As facilidades para os bons
escritores viraram facilidades para qualquer um, tenha talento ou não. A única
coisa que essas facilidades realmente criaram foi novas possibilidades de
exploração dos escritores. Não bastasse a miséria que é o direito autoral,
agora o escritor paga por todo o processo de produção do livro, distribuição, e
marketing. Lucro que é bom, nada.
Não
sou daqueles que defendem o lucro acima de tudo. E sei que o trabalho de
escrita é algo que detém certos valores morais, intelectuais e artísticos que
não têm preço. Mas, não é por isso que este trabalho não deve ser avaliado,
publicado, divulgado e seu autor reconhecidamente remunerado. Enfim, não é que
não tenhamos leitores. Acho que nunca se leu tanto no Brasil como agora. E
mesmo escritores brasileiros têm algum espaço, bem pequenininho, mas têm. Mas
precisamos de muito mais. Afinal, este é o Brasil. Quem deve implorar por
espaço nas livrarias são os estrangeiros.
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