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A Décima Noite - A Grande Rebelião Gay - Estória Seriada. ùltima parte e a mais engraçada também.

A Décima Noite


Estranhamente o prefeito não havia deixado a cidade. Depois de muito espernear e gritar contra o acorderosamento da sua cidade, modificou sua plataforma política. Com seu sorriso gordo ofereceu para Janjão e Coutinho que o ajudassem a administrar a cidade, como se ainda a tivesse em seu poder. Agora ele era todo sorrisos. Chegava a orgulhar-se, em público, das vezes em que havia feito troca-troca na puberdade: "Não é tão ruim assim..." dizia convicto para os heteros simpatizantes.

Apesar da estranha calmaria reinante gays e sapatas não se enganavam. Era preciso manter a vigilância e treinar as milícias defensivas. O Primeiro Batalhão Gay, o PBG-RC-Moto, conhecido também como Chiquita Bacana, cuidava do treinamento tático.

Ao toque do clarim reuniu-se a tropa na Escola de Cadetes. Longas e vastas formações de soldados gays. O sargento Ritona estava à vontade: uniforme camuflado e grandes coturnões pretos engraxados. Marchava em direção à tropa no passo de desfile, para que todos vissem que, enfim, seu sonho sapatão havia sido realizado.

Ritona berrou várias ordens: Vamos suas bichonas!! Não quero ninguém fazendo corpo mole! Leram as instruções?!

"Sim, senhor"" gritou a tropa em coro.

- O que se deve fazer quando a milícia Evangélica apanhar um de vocês?

"Reagir. Espumar pela boca. Se debater. Falar palavras estranhas. Bater num monte deles. Cair no chão. Rolar. Gritar: Jesus entrou no meu coração! Estou salvo!"

- Todo mundo treinando! - gritou Ritona.

Era um espetáculo dantesco. Milhares de bichas se batendo, rolando pelo chão e enfim gritando: Tô salvo! Mas, treinamento é treinamento.

Em seguida o Sargento convocou: Divisão Travesti!

"Sim, Senhor!" - ecoou um monte vozes quase soprano.

- Com licença, senhor! - aproximou-se uma traveca magrinha e baixinha (sim, elas existem).

- Represento a Divisão Travesti! Pedimos autorização para mudar o nome da Divisão para Divisão Drag-Queen, Senhor!

- Como?! - gritou a Ritona - Vocês não honram o silicone que usam?!

A divisão travesti empalideceu.

- O que é Drag-Queen? Não é nada! É um homem feio que se vestiu de mulher ridícula! Drag é mulher?

"Não , Senhor!"

- Drag é homem?

"Não, Senhor!"

- Vocês são mulheres! Vocês são Poderosas! Vitaminadas! Lembrem-se, quem imita vocês?

"A Feiticeira, Senhor!"

- Quando um bofe hetero quer dar o rabo, prá quem que ele dá?

"Pra nós, Senhor!"

- Quando o casal hetero quer variar, quem eles procuram?

"Nós, Senhor!"

- Qual é o nome da divisão?

"Divisão Travesti, Senhor" - disseram com o silicone, ops, o peito inflado de orgulho.

- Muito bem! - continuou Ritona. Passemos para o treino com a gilete! Todas vocês sabem que a gilete deve ficar escondida na boca! Para facilitar o treinamento dividi o uso da gilete em modalidades! Prestem atenção, conforme eu disser a modalidade vocês dividam-se!

Dizendo isso encaminhou-se para uma parte do campo que ainda estava desocupada e apontando com o dedo disse: Ataque com gilete à distância!

Pequeno grupo se deslocou para lá.

- Gilete bumerangue, modalidade australiana!

Outro pequeno grupo.

- Gilete certeira a curta distância!

Um grande grupo deslocou-se e só ficou uma trava no meio do campo anterior.

- Por que você não se deslocou soldado? Qual sua modalidade?

A trava loirinha, com uniforme prateado e coturno verde até a altura dos joelhos, respondeu tímida:

- Engolidora de giletes, senhor!

Bem...bem, bem...nada é perfeito. De repente ao grito de "meu silicone furou!" Uma multidão de travas socorreram a amiga em apuros esquecendo o treinamento.

Ritona, desanimada, já estava achando que apenas sapatas seriam úteis em batalhas. Mas, eis que apresenta-se um soldado, alto, moreno, forte e bonitão.

- Licença, senhor!

- Fala, soldado!

- Eu e meus companheiros pedimos para formar uma divisão suicida!

- Divisão suicida? E vocês lá são homens prá isso?

- Somos, senhor!

- Prove!

- Saímos com mais de um michê ao mesmo tempo! Mexemos com heteros em grupo em dia de jogo de futebol! Saímos com padres! Lutamos pelos direitos sexuais dos menores de dezoito e maiores de quinze! Pegamos caras desconhecidos em noites escuras! Em boites deixamos que outros tomem conta de nosso copo ou aceitamos bebida alheia! E, enfim, senhor: Transamos sem camisinha!

- Autorização concedida! - respondeu Ritona assustada. Mas, em sua cabeça estava tudo certo...eles iriam morrer cedo ou tarde mesmo.

As horas passavam e o treinamento continuava quase sem nenhum grande acontecimento de nota. Quase... "Amigas!" gritou uma bichinha tra-lá-lá "Começou a novela das oito!" De nada adiantou os apelos da Sargento... A confusão foi tanta que tinha traveco sendo pisoteado...nem o grupo suicida ficou. Rapidamente todos, gays e afins, reuniram-se no pátio da Escola de Cadetes onde, misteriosamente, alguém havia instalado um telão. Silêncio total. Até os comerciais eram assistidos com expectativa. De repente todos escutaram um estranho assovio. Se iniciou distante e foi crescendo, crescendo, crescendo...

Há quilômetros dali, seguros em Itatiba, representantes do governo assistiam ao imenso cogumelo atômico formado pela explosão. De óculos escuros, do tipo Ray-Ban e não Dolce Gabana, o que significaria algum bom gosto afinal, finalizaram com a primeira tentativa de rebelião gay. O presidente sorriu e fez o último comentário dessa estória: “Bem, agora os que sobraram podem continuar pagando impostos sem terem direitos, isso é bom, por que aumenta o superávit. E já tenho planos de legalizar a adoção por gays, pois afinal, alguém tem de cuidar de nossos filhos...”

Bem, leitores, é isso. O que esperavam? Que desse certo?

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