Bem, jamais imaginei que eu iria escrever isso, mas vamos lá. A vida nos ensina tantas coisas que às vezes é importante compartilhar. Nascido numa outra época (fim dos anos 60) desde o berço aprendi que devemos ser sérios e responsáveis, por isso ser fútil era quase o oposto destas coisas. A futilidade e os fúteis deveriam ser evitados. Além do mais, quando a religião realmente era importante, pois cuidava do espírito e não do bolso das igrejas, a futilidade não levava para o céu... mas e agora?
Além disso, o prazer da futilidade exige dinheiro e eu jamais tive o suficiente para poderem dizer que eu era fútil ou vaidoso em excesso. Agora que tenho o suficiente para conhecer o mundo da futilidade, por que afinal, não conhece quem quer, mas quem pode, e, sinto dizer que é uma realidade, começo a compreender essas pessoas, essas ações com outros olhos.
Sinto que tudo começou quando ouvi tocar na minha academia a música “Burguesinha” de Seu Jorge, aquilo me incomodou, e ninguém entendeu por que... Preconceitos em geral me incomodam muito, mas quando ficam no foro intimo de cada um não são da minha conta, porém quando expressos de forma pública, me incomodam. Na conhecida canção, Seu Jorge, que é tão burguesinho quanto qualquer outro personagem que tem dinheiro e fama, decanta com ironia e mordacidade uma “Burguesinha”, ele só narra as escolhas e preferências da garota, é o tom de ironia que faz com que percebamos que ele a deprecia... Já tentaram trocar a palavra Burguesinha por “Pretinha ou por viadinho? Ou por Gordinha? Se se usar o mesmo tom em relação a essas mesmas categorias, estaremos arriscados a um processo, pois seria preconceito. Ora, se pode ser preconceito racial, de gênero, e corporal, por que social não é?! É sim, preconceito, e incitação ao desprezo, isso devia ser tirado do ar.
Mas, ouvindo a música percebi o que me incomodava... Por ter passado a poder freqüentar uma academia legal, e gastar deliciosas horas do dia malhando, percebi que eu poderia ser considerado burguesinho ou fútil...
Sou um apaixonado pela beleza em todas as suas expressões, tanto que uma das disciplinas que leciono é Estética dos Meios Audiovisuais, bem, meus prazeres visuais vão desde a arquitetura, às artes, aos produtos industrializados (carros) e às roupas; fora as paisagens e as pessoas... que olho de graça hahahahha. Bem, também agora posso cultivar o hábito – estúpido – de comprar belas roupas. Até mesmo peças apresentadas em desfile. Às vezes tão belas e esdrúxulas que nem tenho onde usar, mas.... é o prazer do belo...
Numa discussão recente com uma amiga, que apesar de magérrima, parece ter se sentido ofendida quando eu disse que gordos não me atraem e que eu achava que eles deviam ficar lá entre eles, ela resolveu levantar a questão da futilidade. E, foi listando como defeitos as coisas que eu acabei de colocar como virtudes novas... Numa mesa formada por professores universitários, e bem remunerados, achei surpreendente, pois tudo foi destilado com imenso preconceito.
Eu vim para casa e comecei a pensar no grande incômodo que senti novamente, por isso escrevo. Ora, vamos lá. Como podem ser consideradas fúteis pessoas que cuidam da saúde e do seu corpo a sério? Ficamos às vezes de duas horas e meia a três horas na academia por dia. No meu caso, com folga apenas nos domingos. Alguém já experimentou correr entre trinta e cinqüenta minutos numa esteira? Se não fizeram isso tentem!! Quero ver os que chamam o pessoal que freqüenta academia de fúteis agüentarem dez minutos de esteira!! Quanto mais levantar peso!! Para tanto, durmo a meia-noite e me levanto as seis. E, muitos outros fazem o mesmo...
Ora, se isso é futilidade, devo dizer que futilidade significa trabalho, e trabalho árduo, disciplinado e sério! Não é para qualquer um que tenha no seu dicionário de emoções a palavra “coitadinho” ou aquela auto-piedade: “ eu queria tanto... mas não consigo!” Pois é... Assim como a vida acadêmica não é pra qualquer um, a academia do corpo também não. É necessário uma seriedade muito maior, ninguém te cobra, ninguém te exige, é você consigo mesmo! Não existe responsabilidade maior do que esta que se chama o “cuidado de si”. Além disso, é fisicamente cansativo, quase estafante, e só dá prazer por causa da serotonina e dopamina que são liberadas, no resto do tempo, é puro esforço.
E, o que eu descobri, que acho fantástico, é que o que começa como um esforço pela aprovação alheia, aprovação social, transforma-se em pouco tempo em algo importantíssimo “auto-aprovação”, sentir-se bem consigo mesmo. Parece que isso, uma camada social não perdoa... se você não for do grupo dos “coitadinhos” esqueça a aprovação...
Quanto mais conheci do mundo dos “fúteis” mais percebi que ele é bem interessante... A indústria da moda movimenta milhões, e o dinheiro gasto pelos fúteis alimenta milhares de pessoas... incrível isso não é?! Gostei tanto do mundo da moda que agora vejo, além de todas as minhas ocupações acadêmicas, canais de TV dedicados aos desfiles de moda e ao mundo fashion. Claro, nem tudo é bom, mas há real prazer em apreciar bons estilistas e bons designers fazendo um excelente trabalho todas as estações. Às vezes entro em sites de várias marcas apenas para apreciar a beleza das roupas apresentadas por pessoas belíssimas, e cujo sacrifício para tanto todos sabemos, qual é.
Bem, mas se você, como eu no passado, colocar sobre seus olhos o “estereotipo” de fútil, e sair cantando Burguesinha do Seu Jorge, até mesmo no chuveiro... não, você não estará aproveitando aquilo que eu descobri, a Futilidade é séria, é responsável, é disciplinada, é profissão e é prazerosa. O fato de milhões de pessoas não poderem vivenciá-la não faz dela uma coisa ruim. Afinal, milhões não podem apreciar o prazer de uma boa universidade e nem compreender os prazeres de um bom livro, seja acadêmico ou literário (se é que há uma diferença importante entre eles), então, parece-me que o que separa estes mundos tem nome: preconceito.
Ah, claro, você me dirá: “o dia que seu dinheiro acabar... pensará diferente!” Não caro leitor. Sei distinguir uma coisa da outra, eu saberei que não poderei ter, saberei que não faço mais parte disso. E, não sofrerei. Pois da mesma forma que adoro arte e não posso ter, e me contento com as figuras dos livros, saberei manter meu prazer de outra forma, ou me dedicar a novos prazeres, mas não depreciarei o que é bom e interessante por que não posso ter. E nem direi a outras pessoas para desprezarem e nem diminuirei meu semelhante por causa da suas posses e escolhas. Como diria Voltaire: “posso não concordar contigo, mas defenderei até a morte o seu direito de expressar suas idéias!” Irei mais longe, defendo até a morte o seu direito de ser quem você é. Só não peça a minha opinião hahahhahahaha.
Comentários
Tenho me preocupado com a minha saúde e consequentemente com a minha estética. Sempre fui uma pessoa relaxada com a aparência, devido ao meu estilo meio "moleque". Estou voltando a praticar atividades físicas que a um bom tempo deixei para trás.
Mas eu concordo com o que postou.
Até mais.