Muita coisa acontece ao longo de um século. Muita coisa...Livros se escrevem para se analisar e falar deste tempo que passou...historiadores se esforçam em vão por adquirir uma contemporaneidade que nunca lhes pertenceu. Poucas pessoas restam que podem dar testemunho sobre a história do século XX. Pouquíssimas viveram mais que sessenta ou setenta anos. Toda semana somos informados que um nome importante de nosso teatro, cinema e televisão desapareceu. Uns já haviam desaparecido da mídia há tanto tempo, quer por não terem se adaptado aos novos tempos, quer por escolha própria, que já até mesmo as lápides estavam previamente escritas.
Todos os anos vemos uma ou outra homenagem (pífias, seja dita a verdade) a Oscarito, Grande Otelo, Mazzaropi entre outros. Quando falamos em vida artística no Brasil parece interessante citar grandes nomes do passado e imediatamente sacamos Cacilda Becker, Jardel filho, Procópio Ferreira, pulamos para Emilinha Borba, Dolores Duran, com a facilidade de quem não conhece muito as distinções entre cantoras do rádio e atores de teatro dramático e filmes de chanchada da Atlântica... Claro, para os que vieram agora tudo é passado. Mas essa mentalidade vitima aqueles que por uma razão ou outra, além de ter feito parte da história da vida cultural do país se recusaram a obedecer a taxa de expectativa de vida do período no qual nasceram, em outras palavras...sobreviveram...a tudo..e a todos?!
A todos não é exatamente verdade. Nossa percepção desfocada a respeito da vida faz com que cometamos um grande erro com aqueles que ultrapassaram os oitenta anos ou mais. Dizemos coisas terríveis, como “no seu tempo...” ou “naquela época...” “quando você era...” E, esquecemos que o “tempo” da pessoa só está no passado quando ela já morreu. Isso tudo muito me estranha, pois a cada dia mais e mais estamos vendo a expectativa de vida do brasileiro crescer. Cada vez mais vemos e ouvimos reportagens de vôs e vós que sustentam a família. De pessoas que em plena maturidade nem sonham em se aposentar. Uma boa parte não deseja mesmo, outra parte não pode, pois as condições econômicas nunca permitiram tal luxo. E neste contexto o que se dizer de alguém tão especial quanto o artista, que vive de criar? Vive de dar vida a coisas e personagens.... e de repente..por mais que ele lute..a mídia decide que ele é apenas um arquivo vivo do passado...e o que é pior, quando se dirigem a ele não é pelo seu valor ou conteúdo... é só para elogiarem a qualidade do arquivo de ser arquivo. A vida, a pessoa...pouco interessam.
Todo esse longo preâmbulo é pra falar de Dercy Gonçalvez. Que é uma soma de muitos percursos artísticos numa pessoa só: dançarina de teatro de rebolado e revista, atriz, cantora, comediante das mais completas, exemplo de sobrevivente em todas as épocas... Mas acima de tudo Dercy Gonçalvez foi uma das primeiras atrizes deste país a viver o fenômeno da velhice assistida, televisionada. Quantos anos faz que vivemos a “graça” de ver Dercy Gonçalvez como a velha debochada? Em minha idade eu conto ao menos três décadas. Assim ela vem sendo tratada...por que? Aconteceu um fenômeno “estranho” ela não morreu... O que faremos com ela agora? Perguntam-se todos? E na ausência de respostas, de arquivo vivo (o que não era algo realmente bom) ela passou a arquivo morto. Isto contra a sua vontade.
Homenagem póstuma a Dercy Gonçalvez, um texto que nunca publiquei.
Todos os anos vemos uma ou outra homenagem (pífias, seja dita a verdade) a Oscarito, Grande Otelo, Mazzaropi entre outros. Quando falamos em vida artística no Brasil parece interessante citar grandes nomes do passado e imediatamente sacamos Cacilda Becker, Jardel filho, Procópio Ferreira, pulamos para Emilinha Borba, Dolores Duran, com a facilidade de quem não conhece muito as distinções entre cantoras do rádio e atores de teatro dramático e filmes de chanchada da Atlântica... Claro, para os que vieram agora tudo é passado. Mas essa mentalidade vitima aqueles que por uma razão ou outra, além de ter feito parte da história da vida cultural do país se recusaram a obedecer a taxa de expectativa de vida do período no qual nasceram, em outras palavras...sobreviveram...a tudo..e a todos?!
A todos não é exatamente verdade. Nossa percepção desfocada a respeito da vida faz com que cometamos um grande erro com aqueles que ultrapassaram os oitenta anos ou mais. Dizemos coisas terríveis, como “no seu tempo...” ou “naquela época...” “quando você era...” E, esquecemos que o “tempo” da pessoa só está no passado quando ela já morreu. Isso tudo muito me estranha, pois a cada dia mais e mais estamos vendo a expectativa de vida do brasileiro crescer. Cada vez mais vemos e ouvimos reportagens de vôs e vós que sustentam a família. De pessoas que em plena maturidade nem sonham em se aposentar. Uma boa parte não deseja mesmo, outra parte não pode, pois as condições econômicas nunca permitiram tal luxo. E neste contexto o que se dizer de alguém tão especial quanto o artista, que vive de criar? Vive de dar vida a coisas e personagens.... e de repente..por mais que ele lute..a mídia decide que ele é apenas um arquivo vivo do passado...e o que é pior, quando se dirigem a ele não é pelo seu valor ou conteúdo... é só para elogiarem a qualidade do arquivo de ser arquivo. A vida, a pessoa...pouco interessam.
Todo esse longo preâmbulo é pra falar de Dercy Gonçalvez. Que é uma soma de muitos percursos artísticos numa pessoa só: dançarina de teatro de rebolado e revista, atriz, cantora, comediante das mais completas, exemplo de sobrevivente em todas as épocas... Mas acima de tudo Dercy Gonçalvez foi uma das primeiras atrizes deste país a viver o fenômeno da velhice assistida, televisionada. Quantos anos faz que vivemos a “graça” de ver Dercy Gonçalvez como a velha debochada? Em minha idade eu conto ao menos três décadas. Assim ela vem sendo tratada...por que? Aconteceu um fenômeno “estranho” ela não morreu... O que faremos com ela agora? Perguntam-se todos? E na ausência de respostas, de arquivo vivo (o que não era algo realmente bom) ela passou a arquivo morto. Isto contra a sua vontade.
Homenagem póstuma a Dercy Gonçalvez, um texto que nunca publiquei.
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