“Ninguém tem culpa de nascer pobre,
na miséria, na classe média, ou rica”. É o que te ensinaram. Pois parece certo
que por nascimento (que não escolhemos) temos um caminho a trilhar na
sociedade. Então se é rico, mesmo sendo uma pessoa boa, você não se sentirá
culpado por ser. E desfrutará da sua condição. Se você for bom, será
razoavelmente produtivo. Mas não tem porque ser bom ou ruim, pois já atingiu o
céu na terra, não é mesmo?! E se os outros não têm o mesmo é por que não
fizeram por merecer. É natural para os pássaros caminharem por sobre as nuvens,
mas não estamos falando de pássaros, né?!
Você não precisa viver como Sísifo
Se você teve a sorte de nascer na
classe média (existem várias, a baixíssima, a baixa, a média, a média-média, a
média quase alta, a média alta e a média que acha que é rica), a classe que
acha que tudo vai bem, pois ela não está na merda. Nessa classe tudo é um pouco
pior, pois pode até não ter real acesso a riqueza, mas vive com algum conforto
e aspira a sustentar essa situação. Não deixa de ter razão, pois a miséria
ninguém deseja. Entretanto, afadiga-se e sofre verdadeiramente para manter dia
e noite uma situação que é de fato desesperadora, pois subir não vai, mas cair,
se descuidar cai. Então, não percebe que quem a mantém nesta situação são os
muito ricos, e acha que são os muito pobres que a ameaçam, pois concorrem por
sua posição. Ela lê, ela estuda, mas permanece ignorante.
E você que nasceu nos extratos
baixos da classe média ou já percebeu que é pobre mesmo, foi educado e
acostumado à idéia de uma vida cheia de esperança com nenhuma realização. Trabalha noite e dia, quase sem descanso, é
humilhado e pisado por todos (inclusive pelos miseráveis que creem que são
menos miseráveis), mas acha justa a sua condição social, pois nasceu nela. É
como se o nascimento justificasse o injustificável. Alguns até diriam, “Se Deus
quis assim...” Talvez Deus não esteja tão interessado em saber onde você nasceu.
Talvez ele também não estivesse preocupado se na casa tinha cofre ou não.
Talvez nem soubesse de verdade em que lugar da cidade ou do campo você iria
nascer. O fato é que nasceu, e te fizeram acreditar que o teu lugar de
nascimento é justo e é o melhor para você ficar (e isto não foi Deus quem
disse).
O que você não sabe e precisa saber.
Há muito tempo, bem antes dos seus trisavós, sua família possuía tudo, bens,
comida em quantidade, festas, lugares para onde ir, muito tempo livre. E isso
foi assim durante centenas ou milhares de anos. Até que um dia homens mais
violentos, cínicos, e se achando melhores e mais espertos, se juntaram a outros
igualmente brutais e tomaram da sua família, dos seus amigos e da sua pequena comunidade,
tudo o que tinham. Isto foi feito com
violência, estupraram suas mulheres, suas filhas, castraram seus homens,
mataram seus velhos, suas mães, pais e avós. Obrigaram todos ao trabalho
constante, e exigiam gratidão daqueles que foram deixados livres para melhor os
servirem, sob pena de castiga-los. Criaram uma sociedade de opressão e medo.
A condição na qual você nasceu é
injusta. Pois o lar vazio, sem recursos, a terra hostil, a família triste e
enfraquecida que te recebeu, foi preparada. Foram preparados pelo teu inimigo.
Tamanha foi a violência, que vocês foram obrigados a esquecerem de toda a
injustiça sofrida. Hoje você se empenha pela causa indígena, esquecido que um
dia você foi indígena também. Briga pela causa alheia, enquanto engole a sua
como sendo justa. Você é herdeiro de grandes propriedades, grandes tesouros,
grandes bibliotecas, grande fartura de comida e arte. Entretanto acreditou que
nasceu no lugar errado, na época errada, e que por isso nada te pertence.
Entenda de uma vez por todas que a pobreza e a vileza na qual você nasceu foram
preparadas pelos que violentamente expropriaram os seus antepassados. E que
ainda hoje te roubam e expropriam de todo e qualquer bem que você possui, seja
o talento, o sorriso, a esperança, as conquistas.
Se a violência tivesse sido feita em
nossa época, agora mesmo, estaria contratando um advogado e indo atrás dos seus
direitos. Então, é isso, você não é miserável, não é pobre. E você não tem de
morrer para se manter classe média, você é o rico herdeiro da natureza e da
riqueza que lhe foram roubadas. A injustiça que fizeram com todos que vieram
antes, e a que lhe fazem, exige que perceba que a sua condição social, e a suas
necessidades lhe foram impostas antes do nascimento. E elas são injustas.
Os
ricos, do melhor ao pior, são violentos, causam violência, mantém a violência,
esmagam as pessoas e as conformam na pobreza. A riqueza aglomerada nas mãos de
alguns é fruto da violência sobre muitos. Tudo o que foi produzido foi
produzido em cima de gerações de injustiça. Poucos violentam e roubam muitos
milhões, enquanto muitos milhões acham pouco ético retomar das mãos de algumas
centenas de pessoas o que injustamente roubaram dos seus antepassados. Você não
é pobre, só é ignorante das causas e das condições da sua pobreza.
Você não é pobre de nascimento, você
já havia sido roubado e violentado antes de ter nascido. Hoje, você é o indígena
de ontem. Não aceite a idéia de destino. Se ele houver, é no tempo divino – e uma
pequena vida humana é um grão de areia nele. Deus se importa com comunidades
inteiras e não com indivíduos. O individualismo não é cristão. O individualismo
é Capitalista. A prosperidade precisa voltar às suas mãos, às mãos da sua
comunidade. Ninguém cresce sozinho e não existe ascensão social solitária, pois
se ela acontecer, um dia você cairá novamente. Compreenda, você é vítima de
injustiça. Cresceu vítima e deve deixar de ser.
Informação dada.
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