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O Elefante e a Formiga


            Em meio a uma savana onde o mato crescia baixo, duas trilhas se cruzavam. Ambas bastante antigas, e ninguém sabia qual havia nascido primeiro. Numa bela tarde de sol se deu o inusitado encontro dos seus viajores. Vinha um grande elefante, liderando sua manada. Andava devagar, para que ninguém se perdesse, mesmo assim, vinha bem à frente do grupo. Em meio a mais um passo que iria dar, de repente teve sua atenção chamada para o chão:
            - Ei, Senhor Elefante! Onde pensa que vai?
            Parou-o de forma muito arrogante uma formiga, enquanto descarregava o pequeno pedaço de folha no chão. Pronta para afrontar o maior animal da terra. As suas outras companheiras continuavam carregando suas cargas, alheias ao que acontecia. O Elefante, por possuir grandes orelhas ouvia-a com facilidade. Era um formiguídeo bem nutrido, mas ainda assim, era um nada se comparado a ele. Eram os caminhantes das duas trilhas que se encontravam, os grandes paquidermes e as pequenas formigas.
            - Bom dia senhora Formiga! – respondeu cordial. Estou levando minha manada até o rio mais adiante!
            - Ah, e por isso acha que pode nos esmagar na sua passagem? – continuou a formiga agressiva. Só por que é grande, não quer dizer que vale mais do que qualquer uma de nós!
            Ele estranhou o tom petulante, e tentou ser condescendente:
            - Não se preocupe, amiga! Eu pularei a sua trilha, e todos os meus também o farão! Estarão seguras!
            Acreditava que dizendo isso a tranquilizaria, no entanto, a pequena não parecia estar nos seus melhores dias:
            - Ah! Então é assim? Acha que pode vir e pular sobre nossas cabeças? Uma vida vale por uma vida! E nós formigas possuímos um formigueiro onde há muito mais vidas do que em toda a sua manada.
            O Elefante ficando surpreso, afirmou-lhe de boa fé:
            - Ora, eu não duvido de que assim seja! Mas, estou dizendo que ninguém sofrerá nenhuma mal. Só iremos passar por aqui e seguir nosso caminho.
            - Muito antes de haver elefantes por aqui a nossa trilha já existia! – Afiançou a formiga cheia de convicção. Vocês elefantes passam por aqui com freqüência, e nunca nem pediram licença!
            - Mas o que tem a antiguidade da trilha com isso?! Já prometi que iremos pulá-las e ficarão bem! - Insistiu, atônito.
            - Vejo que não me entende! - Exclamou a formiga. Bem, o que esperava eu de um chefe de manada de paquidermes! - disse de si para consigo despeitada. O que estou dizendo, Senhor Elefante, é que é um desrespeito pular sobre nossas cabeças! Nós estávamos usando nossa trilha primeiro! E se vocês vieram depois, naturalmente, manda o bom senso que ou vocês nos aguardam terminarmos nosso serviço para passarem ou devem dar á volta até o final da trilha, desviando-se do cruzamento e de todas nós!
            - Jamais ouvi tamanho absurdo! – respondeu o outro, com indignação.
            - Absurdo, por que?! Por uma formiga, um ser vivo, que pede para ser respeitada em sua trilha?! – disse-lhe, também indignada.
            - Não! Respondeu-lhe o Elefante: O absurdo é o tom, a arrogância e a petulância que estão na sua voz! Eu posso esmagá-la facilmente, mas digo que não o farei, que apenas pularei sua trilha, e você exige que minha manada caminhe quilômetros a mais apenas para que você se sinta respeitada conforme a sua própria convicção do que seja respeito?!
            A Formiga, não se deu por vencida:
            - O Senhor Elefante, sabe que dá muito azar pular sobre uma pessoa?
            A isso ele não resistiu e deu uma gostosa gargalhada, e foi logo dizendo de bom gosto:
            - Sei sim! Pular sobre uma pessoa dá muito azar, ainda mais se a pessoa estiver armada! Mas você é uma formiga!
            - O Senhor é muito arrogante! Menospreza os pequenos, ainda ri de nossa condição! - E completou, de forma ainda mais arrogante: Por aqui vocês não passarão!
            - Seja razoável, minha pequenina – pediu carinhoso o grande animal -, na manada temos elefantinhos recén-nascidos e outros em idade muito avançada. Se teme que as pulemos, por que simplesmente não abrem espaço para podermos passar?
            - Por que estávamos aqui primeiro! E temos o direito de aqui continuar!
            O Elefante, olhou para trás de si, e vendo que amanada o alcançava depressa, tentou dar termo à negociação, antes que o pior acontecesse. Por que pasmem, estranhamente, ele se preocupava com a formiga.
            - Tenha bom senso! Afaste-se e às suas demais companheiras! A manada está vindo!
            - Então, é assim que agem os elefantes! Contrapôs a formiguinha. Quando tudo falha partem para a ameaça!
            - Eu não a estou ameaçando, apenas estou avisando. Uma manada de Elefantes não se para assim, de imediato!
            - É ameaça sim! – teimou ela, cheia de si.
            Mas a manada chegava, e estava há alguns segundos de a tudo estraçalhar. O Elefante informou a formiga:
            - Eu a pularei, goste disso ou não! Mas aviso que depois que eu o fizer saia da frente, pois virão os outros!
            E assim fez. Mal havia pulado e a formiga começou a xingá-lo de todos os palavrões formiguídeos conhecidos e desconhecidos. E então... Uma manada de elefantes passou sobre ela.
            Após a poeira baixar, os elefantes já podiam ser vistos à distância, e as formigas continuavam carregando folhas pela trilha, menos uma. Talvez, a sua morte tenha realmente sido culpa do grande elefante, pois ele havia parado para lhe dar ouvidos...



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