Hoje resolvi escrever sobre algo que está se tornando cada vez mais importante no meu comportamento. Quando vejo, não apenas estou praticando, como recomendando para as pessoas que o façam. Tem sido benéfico, tem funcionado. Essa prática me deixou menos ansioso, mais em paz e evita mal entendidos. Estou falando de uma coisa que todo mundo conhece, mas pouca gente pratica: o diálogo.
Algumas pessoas acreditam que dialogar é simplesmente estar diante do outro e falar o que se pensa. Não, infelizmente não é bem assim. Pois podemos falar num tom de voz que faz com que o outro se feche para as nossas idéias e sentimentos. O outro, geralmente, reage ao que dizemos, e reage conforme o conjunto de nossos sentimentos e atitudes, que estão todos colocados e expressos em nossa fala. Dialogar significa também dominar a melhor forma de fazê-lo. Então, dialogar significa bem mais do que simplesmente falar com outra pessoa e ouvi-la. Quando não pensamos sobre isso, dificilmente o diálogo se estabelece. As pessoas falam, falam, falam, e não chegam a lugar nenhum.
De tanto esbarrar com dificuldades por aí, e depois de alguma prática, cheguei à seguinte conclusão:
Dialogar é: expressar com calma e em bom tom de voz as suas idéias e necessidades e ouvir o outro, realmente ouvir. Aceitar outras idéias ou recusar, faz parte do diálogo. Não aceite e nem recuse precipitadamente, pense. Inclusive, verbalize: “Podemos conversar depois sobre este assunto?!” É fundamental estar aberto para ouvir. Não diga sim, por que deseja parecer aberto, diga não, se for necessário. O diálogo é o caminho do coletivo, ninguém cresce sozinho, dialogando se cresce junto. E, pense, nem sempre o caminho que você achava bom era interessante. O diálogo informa, desmistifica, desproblematiza, encontra soluções, ou na pior das hipóteses, evita discussão.
O diálogo se faz com o outro, bem, este “outro” pode não estar preparado. Então, mantenha a calma, e explique-lhe, sem nenhum cinismo, “não é um bom momento agora, podemos conversar melhor em outra ocasião?” Não o acuse. Apenas dê-lhe tempo para pensar, sem dizer que o faz. Você já disse algo importantíssimo: vou te ouvir. O outro, mesmo que não queira, acabará recebendo a mensagem positiva e estará mais apto para o diálogo posteriormente. Assim, escapamos da discussão.
E o que é discussão? Aqui não falo da saudável “discussão de idéias” e sim da altercação, da briga. Acabei definindo, assim, vê se você concorda:
Discussão é: o diálogo que não deu certo. Na discussão você apenas diz o que quer e não está aberto para ouvir o que o outro deseja. Normalmente nos expressamos em tom de voz ligeiramente alterado, já dispostos a vencer o outro no suposto “diálogo”. Engraçado que as pessoas não se ouvem, entretanto, nestes momentos, elas gritam. A discussão sempre é negativa, não importa o nível de agressão verbal envolvida, é sempre ruim. E, ao contrário do diálogo, o desfecho é sempre imprevisível. Geralmente aumenta o desentendimento.
Sobre diálogos que resultaram para o bem me lembro de uma pequena experiência, guardada com muito carinho. Quando morava numa república, em Campinas, um dos rapazes que a frequentavam, não podia me ver que já começava a discutir. E eu fazia o mesmo. Não tínhamos motivos aparentes para tanto. Não importava o assunto, resultava num bate-boca sem fim. Aversão pura e simples. Pois é, acontece... Às vezes não queremos acreditar nisso, gostamos de colocar a culpa no outro, quando não há motivo, mas o fato é que há aversões instintivas. Por quê? Nem imagino. Deve ser cheiro, cara feia, coisas orgânicas, quiçá espirituais, e que não têm nada a ver com o caráter ou comportamento de qualquer um dos envolvidos. Aversão, pura e simples.
Depois de muito batermos boca, num belo dia resolvi me sentar com ele. Tentamos, saber o que acontecia. Chegamos até mesmo a dizer honestamente: “Mêu, não sei porquê, mas não vou com a sua cara”. Tudo civilizadamente. Descobrimos que não era nada. Era apenas antipatia. Ela deixou de existir? Não. Mas, daquele dia em diante nos declaramos “inimigos cordiais”, sabíamos que não nos suportávamos, e que também não havia motivo verdadeiro para tal.
Começamos a nos tratar com educação, e a nos ouvirmos com mais paciência. Nunca nos tornamos amigos, no entanto, jamais agravamos a nossa aversão com a inimizade verdadeira. Nem todo mundo nos passa goela abaixo e vice versa, compreendamos isso: não precisamos gostar de todo mundo e nem todo mundo precisa gostar da gente, mas nem por isso precisamos brigar, discutir ou criar inimigos. O diálogo é assim, chega a soluções completamente inimaginadas. Nunca pensei que eu um dia iria me declarar “inimigo cordial” de alguém. E nem que uma relação como essa, poderia redundar em boa coisa. Entretanto, continuamos ainda bons “inimigos cordiais”. Ele é artista plástico, e as vezes acompanho com alegria os seus sucessos.
Está dado o recado? : )
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