Neste último Big Brother Brasil estamos tendo uma chance única. Os organizadores resolveram colocar ao menos três pessoas que assumiram uma condição homossexual. Dois deles mais efeminados e afetados. Até então tínhamos vistos homossexuais que se expressavam de outra forma. Alguns torceram seus narizes, outros, como eu, disseram: Bem, por que não? Outras vertentes gays, enrustidos, discretos, entendidos, já estiveram representadas. Faltam-nos agora os ursos, travestis, transgêneros... bem, provavelmente logo virão. Isso é legítimo e interessante uma vez que dá conta da diversidade sexual do país e do gênero humano. Mas, acompanhamos visualmente, gestualmente e verbalmente duas radicalizações distintas, a da homossexualidade e a da heterossexualidade masculina. Esta última menos suspeitada e nada esperada.
Sou daqueles seres humanos que tendem ao equilíbrio em todas as coisas e relações, então, se dependesse do meu desejo o BBB seria apenas um delicioso chá de senhoras, onde todos riríamos bastante das suas memórias supostamente picantes. Mas vamos ao que me interessa hoje.
De imediato não simpatizei muito nem com Dicesar, nem com Serginho e nem com o Dourado, talvez pelo meu hábito de tender ao equilíbrio, ou quem sabe seja algum preconceito mesmo. Mas, me surgiram algumas reflexões sobre a questão. A situação do acuado macho contemporâneo.
Gosto de me lembrar de uma época onde a homossexualidade era um assunto tabu – não que fosse bom – o lado interessante disso, é que a identidade das crianças era construída numa relação bastante conhecida de “menino” x “menina”, esta época não muito distante eram os anos setenta no Brasil. Quando se desejava desincentivar um comportamento masculino, ou incentivar um outro, dizia-se para o moleque: “isso é coisa de menina!” Pronto, o menino estava em crise ou logo se identificava com outro padrão. Até vivemos um período em que se falava das virtudes do masculino e do feminino. Discutia-se como seria benéfico para ambos os sexos as trocas de atitudes, ocupações, etc. Neste percurso os homossexuais viviam subterraneamente, e possuíam tanto quanto os outros meninos, as meninas como contraponto para a elaboração do seu gênero sexual.
No entanto, em fins dos anos setenta e início dos anos oitenta, o esforço de cientistas levou a sempre novos estudos alentados sobre a homossexualidade. Já existiam há muitas décadas, mas era um período novo de divulgação e avanços. Talvez o surgimento da AIDS tenha levantado estas questões de forma mais radical. Enfim, não sou sociólogo, apenas um memorialista prematuro. A elaboração de um “papel” extremamente claro para o comportamento homossexual, com cheirinho ainda de “clínica”, dissecados tal como se fossem doentes e uma raça diferente que precisava ser estudada, para ser curada, exterminada ou compreendida e assimilada, o gênero homossexual entrou numa evidencia completamente exagerada e de alguma forma com resultados, que percebo hoje, infelizes. Por favor, percebam, nada, absolutamente nada contra gays. Apenas contra o saber científico que os estabeleceu como objetos de estudo e que incessantemente divulgou as suas informações para estabelecer e radicalizar as diferenças.
Importante perceber que a preocupação com o gênero sexual homossexual, também levou a estudos com os outros gêneros, no entanto, sua divulgação a meu ver é bastante menor. Aos pouquinhos eu notava a diferença. Aquilo que antigamente era coisa de “mulherzinha” ou de “mariquinhas” passou paulatinamente a ser “coisa de viado”. O controle social daqueles que sentiam possuir uma espécie de certificado de masculinidade típica da latinidade exacerbada dos trópicos, ao invés de se preocuparem com as meninas preocupavam-se em vigiar a masculinidade de seus coleguinhas. Então, coisas ridículas passaram a povoar o universo infantil. Se um menino fosse ao banheiro e urinasse no reservado, já ficava sendo questionado por que não mijava no mictório, o outro tímido não sabia dizer por que. Mas ouvia algo como: Macho mija aqui, “casinha” é coisa de viado.
“Papai! Mamãe! Quero aprender piano!” A resposta: “Não meu filho, isso não é coisa de menino, é coisa de viado!” Até então, tinha sido coisa de menina. Não praticar esportes e se dedicar à leitura ou a uma vida intelectual qualquer...tsc tsc tsc... Poesia? Nem pensar. Nem poesia para entregar para as meninas, por que estas, também acompanharam a evolução das coisas, e claro, homem que é homem não entrega poesia e nem é carinhoso e amigo. Carinhoso, amigo e próximo às mulheres, só podia ser viado. Não ajudar os amigos encrenqueiros a arrumar confusão, tinha o mesmo efeito. Se você não fosse adepto de um machismo exacerbado, pronto, lá vinha alguém com a terrível ameaça: “você é viado?” Bem, se você não é, mude seu comportamento agora.
As coisas chegaram a um tal ponto que hoje me sinto tranqüilo – e talvez um pouco alarmado – para afirmar que as relações de gênero se alteraram de forma profunda. Deixamos da identificação pura e simples – e antiquada – masculino x feminino para uma dantesca homossexual x heterossexual masculino e feminino. O dantesco aqui não se deve aos participantes de quaisquer dos gêneros, mas à cientificização da coisa. Aos poucos a ciência disse como os gêneros deveriam ser. Não disse a coisa de forma cínica e nem cretina, mas é como ela chega à massa.
Infelizmente ouço cada vez mais mulheres também fazendo o mesmo serviço de vigilância contra os machos. A coisa é tétrica. Pois nos cobram altas performances sexuais e machistas... Algumas dizem: “nossa...ele transou uma vez só e dormiu... será que não gosta da coisa?” E o pobre do homem nem pode estar pura e simplesmente satisfeito, ou quem sabe até, cansado. A coisa é grave, pois há pouco tempo atrás, tive de ajudar uma amiga. Interessada ao longo de algumas semanas num rapaz, ela queria saber por que ele simplesmente não transava com ela logo. E aí ela começou a desfiar o rosário de motivos para acreditar que o pobre rapaz era gay. Para todos os motivos eu tinha uma resposta, e nenhuma delas era a homossexualidade, terminei falando para ela o quanto ela era machista, e que ela de fato não estava conhecendo o rapaz, estava em busca de um estereotipo. Incrível, ela fez auto-crítica, deu resultado, uma semana depois ele transou com ela e estão juntos até hoje. Este colega do gênero masculino me deve uma e nem sabe hehehhe. Os problemas dele: inteligente, sensível, respeitador, tímido, e queria algo sério com ela.
Poderia desfilar milhares de exemplo do cotidiano, mas é tolice. Fico triste com o fato de que os heterossexuais masculinos vivam vigiados por todos os lados. A pressão que eles sofrem é imensa. Se não seguirem um padrão altamente machista são classificados de “viado” por todos os lados. Não, isso não é bom. Então, chegamos a uma fusão infeliz: conhecimento cientifíco alimentado por um machismo atávico. Incentivado pela sociedade, pela mídia, e pelas mulheres. Quando enfim, chegamos aos dias atuais, vemos não um, mas milhares de Dourados por aí. Um homem que precisa constantemente provar que é heterossexual. O tempo todo tendo de afirmar-se, pois assim que ele não fizer isso, ouvirá o grande questionamento: é viado? O pior é que aqueles que se afirmam continuamente, têm de enfrentar a mesma questão, pois a pergunta ocorre, por que tem de se afirmar o tempo todo? Beco sem saída.
Claro que tudo isso degringola em violência, afinal, tamanha pressão tem de extravazar para algum lugar, aí...os pobres homossexuais sofrem... Não sou um saudosista, mas confesso que o mundo já foi um lugar mais interessante e menos assustador.
Quando olho para o pobre Dourado, vejo o estrago que essa mudança sócio cultural criou, ele não conseguiu ser outra coisa. Mas.. é difícil se outra coisa. Ele é o espécimen bem sucedido que mandaram ele ser. E aí? Gostaram do resultado? Eu não.
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