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Em defesa da Aparência!!

Advertência: os muitos sensíveis não devem ler!

A mesma discussão que originou uma crônica anterior levou a um outro assunto, que defendi com unhas e dentes, também para a minha surpresa. É, parece que a passagem dos anos tem me mudado... Quando mais jovem eu faria coro contra julgar pessoas pela aparência física. E, ninguém precisa me citar Cesar Lombroso hahahah eu o conheço, e parece incrível, era um cara interessante, sério e bem profissional, é o que dizem modernos estudos acadêmicos. No passado nós, enquanto sociedade, caímos na estupidez de fazer com que as “diferenças” físicas, raciais, mentais, etc, significassem uma hierarquização social de indivíduos. Impusemos padrões de normalidade, comportamento, classe e ideologia, péssimos tempos aqueles... Mas, hoje, ignorar as diferenças, sem saber apreciá-las e tirar delas vantagens, é estupidez.
Sou espírita por formação, e o digo apenas para que quem leia consiga imaginar o abismo entre o que fui e o que sou agora. O que descobri ao longo dos anos é que mesmo que tenhamos algum espírito neste corpo, não o vemos. Mesmo que tenhamos uma vida espiritual em outro lugar, não a vemos. Mesmo que tenhamos “Carmas” passados a resgatar, os desconhecemos... Aos poucos descobri que temos apenas o que vemos, sentimos e somos, como nossos companheiros reais de jornada. Então, mesmo sem desprezar todo o conhecimento espiritual, seja espírita ou cristão, comecei a recusar a dicotomia “corpo/espírito”. Eu sou completo, não sou dividido em duas partes. A realidade que conheço é a do meu corpo e da mente que dele resulta em contato com o mundo, e o que eu faço disso.
Enquanto eu fazia a graduação em História, peguei uma carona com os alunos de Ciências Sociais e aprendi um pouco sobre as questões relativas a Gêneros (homem/mulher). Descobri o quanto era importante nos comportamentos os gestos físicos de um e de outro gênero. O quanto as pessoas comunicam do seu mundo intimo, com uma simples postura física. Muito do que são, ou do que estão sentindo, simplesmente transparente na forma de se sentar, na maneira como olha, na forma como se expressa... Também aprendi sobre o deslocamento do discurso. Uma coisa é o que a pessoa é, outra o que ela fala sobre si – mesmo que acredite no que diz. Uma coisa é como pensamos o mundo, outra como ele se apresenta. O fantástico nessas descobertas foi perceber ao longo dos anos que o que prevalecia nas relações humanas não era o discurso. Não eram suas boas intenções, nem as suas pretensões. Eram os seus gestos, as suas atitudes que realmente falavam sobre o que as pessoas eram. Difícil isso, não? Mas quem não se viu em maus lençóis por ter acreditado no que disseram? E, olha que estou falando de pessoas sinceras e não de mentirosos. Então, não acredito no que me dizem, acredito no que fazem, o mesmo faço quanto a mim. Por isso, não faço muita questão de responder a discursos prontos, eles nada são, significam apenas cumprimentos sociais de pura identificação grupal. São como dizer “bom dia”, sem se emprestar sentido real às palavras...
Enfim, neste descompasso entre discurso e atitude, acabei por descobrir o valor da aparência e das aparências. A aparência física é verdadeira. Eu sei que não há quem possa me contraditar nisso hehehehe. Você pode até mudar sua aparência, ela continuará sendo verdadeira em outro formato, mas obviamente verdadeira. Nas últimas décadas a nossa civilização se alterou muito. E, com isso, se estabeleceu aos poucos uma cultura bastante diferente, não sei se boa ou má, não me interessam estes juízos. O que sei é que, apesar de todos terem maior contato com a informação isto não significou pessoas mais “cultas” ou mais “interessantes” com conversas agradáveis e sem pedantismo, não, estamos vivendo uma sociedade bastante hedonista, materialista – mesmo com discursos espiritualizados. A sociedade está cada vez mais estetizada, valoriza-se o belo, e o conforto abunda por todos os lados. Sou contra o excesso de conforto, e o excesso de facilidade relativamente aos alimentos. Não que eu não ache que todo mundo deva comer, claro, direito, necessidade e saúde! Mas, poderíamos ser mais educados para tanto.
A obesidade está virando uma pandemia. E, isso é preocupante. Não apenas pela aparência, mas pela contradição terrível que ela significa nos dias atuais. Nunca nossa expectativa de vida foi maior, e ela irá aumentar... nunca as pessoas tiveram tanto acesso a facilidades e alimentos... e, elas engordam e não se preparam para viverem muitas décadas à mais... Nos últimos três anos comecei a observar uma mudança estarrecedora... Vínhamos de uma geração onde nos criticavam o excesso de cuidado com o físico, ultimamente o que vejo são pessoas gordas e mais gordas caminhando pelas ruas. Para mim, que estou me habituando às ordens de um nutricionista, o que não é novidade, uma vez que sempre me preocupei com alimentação, é às vezes chocante. Como sou um homem dado às aparências, vejo às vezes a coisa de uma forma mais tétrica do que as outras pessoas. Gordinhos e Gordinhas não me incomodam, não sou preconceituoso, juro por Deus! Mas, quando olho pelas ruas consigo ver pessoas andando com placas de gordura dependuradas ao longo de seus corpos. Placas na frente! Placas dos lados! Placas atrás! Ou existem aquelas que têm todas as placas dependuradas por todos os lados... Não, isso não atrai...
E a coisa irá piorar, pois existe um discurso em nosso país – quem sabe desaparecerá? – que considera o trabalho uma coisa negativa. Então todos os dias, ouço: “vamos tomar uma cerva?! Afinal, depois de tanto trabalho...” ou “Enfim, o final de semana! Vamos fazer um churrasco, muita cerva, muita mulherada!” Não me entendam mal, nada contra. Apenas chama atenção as trocas afetivas que se realizam cada vez mais. A comida e a bebida se tornaram muito baratos. Todos bebem e comem... Se estão tristes comem, se estão felizes bebem... e assim vai. Para uma grande parte da população as palavras disciplina, auto-controle, moderação, auto-preservação, parecem palavrões sem sentido.
A aparência e os gestos denunciam o que sentem e fazem as pessoas... Quando um gordo se interessa por mim... nem quero conversa. Outro dia me corrigiram, dizendo que eu tenho de conhecer a pessoa, afinal as aparências enganam. Sim, é verdade, as aparências podem enganar, mas enganam menos do que os discursos. E um gordo para mim – com exceção de quem tem disfunção hormonal – significa um preguiçoso, alguém que não se respeita, que irá sobrecarregar seu organismo à toa, e que irá sobrecarregar os planos de saúde no futuro próximo. Além de raramente um gordo ser esteticamente interessante, claro, ás vezes acontece. E, quando o gordo é esteticamente interessante, é por que ele é feliz, é gordo e está bem com isso. Deve ser genético! No entanto, parece que a maioria pensa em fazer regime ou sabe que não está lá essas coisas... E, aí...ao invés de se cuidar... come pra esquecer, bebe pra rir e ser feliz...
Para me corrigir, até me disseram que alguns são mais saudáveis do que os magros, sim... exceção. E a exceção nos faz sermos simpáticos para com alguns. Nossa formação espiritualista, cheia de moral cristã – não a verdadeira mas o seu estereótipo -, sempre nos leva a olhar com compaixão para o outro. O que não é ruim, mas compaixão é para quem precisa, não devemos estendê-la indistintamente, pois se não, ela falhará quando necessária. Quando busco alguém para me relacionar de imediato é a aparência que me importa, e, sinto que não sou exceção, os gestos vêm em seguida... e infelizmente na maior parte das vezes, aqueles que dizem que possuem algo por dentro, tsc tsc tsc, têm nada lá dentro não. Então, aquilo que incomodou meus colegas no meu “discurso” foi a afirmação implícita na minha fala que eu não me lembrei de dizer na hora “não faço caridade do meu corpo”. Ninguém deve fazer. Se você se gosta, se você se cuida minimamente, se você tem alguma vaidade fundamental, não dê de graça aquilo que lhe custa, a não ser que você realmente queira. Olhar para alguém, e pensar “ah, coitado... vou dar uma chance pra ele...” Esqueça, irá descobrir que nem tem nada lá que mereça isso.
Antigamente havia um ditado, infelizmente esquecido: “conhece-se o homem pelos sapatos!” Isso tem muitos significados. E, todos interessantes. Se os sapatos forem brilhantes e bonitos, denotam que a pessoa tem dinheiro e os comprou; isso era sinal de um bom partido. Mas se os sapatos fossem simples, e no entanto brilhavam, era sinal de outro bom partido, era de um pobre; mas de alguém caprichoso e que se dava ao trabalho de se cuidar e se mostrar digno e honrado em sua simplicidade. Mas, sapatos velhos, desgastados, mal cuidados, ou novos e destruídos, davam muito bem a dimensão de um homem que não valoriza o que tem, não se cuida, e não tem responsabilidade suficiente nem para cuidar dos próprios sapatos, e ninguém que o faça por ele...
Pois é, numa sociedade que se pauta cada vez mais por aparências, calcada em pessoas cada vez mais sem essência, parece que nossos sapatos não andam tão bem... A aparência pode não ser a coisa mais importante, mas não pode de forma alguma ser desprezada como sendo fútil ou irrelevante. Então, se você quer pessoas atraentes e bonitas, cuide-se! Por dentro e por fora... se não, vá comer e beber e contente-se com isso ou com quem tem compaixão por seu estado lamentável.

Comentários

VELOSO disse…
MUITO BOM SEU BLOG E ARTE VALEU!
Luiz Vadico disse…
Obrigado! ´Fico feliz que tenha curtido!

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