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Dois Poemas reencontrados

Logo quando cheguei em São Paulo escrevi dois poemas, e como estava no trabalho tivemedo de perdê-los, enviei para meue-mail e os arquivei numa pasta que nunca foi aberta, lá ficaram esquecidos durante quase dois anos. Por acaso os encontrei agora e os divido. Lembro-me de uma parábola de Jesus onde ele falava de uma mulher que perdendo umamoeda varria a casa toda e quando a encontrava chamava as amigas para comemorar, isso era o "reino dos Céus". Regozijai-vos comigo!

Metrô
Ontem eu quis lamber os teus trilhos
Disseram-me que eles são eletrificados
Disseram-me que tudo morre ao te abraçar.
Disseram
Mas fui tomado de tal paixão pela tua leveza, que instintivamente
Delicadamente
Eroticamente
Lambi teus trilhos
E fiz-me um com tua energia
Pois quem como tu
Se compara a mim?
Quem carrega tantas pessoas dentro de si?
Quem pode entregá-las a cada estação e vê-las partir
Indiferente ao seu papel?!
Te amo!
Te amo!
Abrasivo em sua elegância
Delicado em seu deslize
Eficiente
Incansável...
Metrô


(o texto abaixo sou eu na Antigüidade, possesso com um servo ingrato)
Quando me perguntas, o que posso responder-te?
Dei-te a liberdade...
Vai embora!!
Não te quero mais aqui.
Não querias conhecer o campo verde onde habitavam teus ancestrais...
Pois, vai-te?!
Quem te ensinou a queimar incenso aos deuses todos os dias?
Quem?! Não fui eu!!
Não há necessidade de que te levantes tão cedo e que venhas todo feliz dizer-me que sacrificastes em minha honra...
Podes ir!
Vai-te!
Estás livre!
Quem te faz escravo agora?
Quem te obriga a levantar-te nas manhãs?
Quem te faz assim olhar-me? Quem?
Não te disseram que sou um Senhor Mau que usa seus servos?
Não te disseram que meus versos eram apenas deleites de um velho hedonista?
Não te encheram os ouvidos com leite, mel e veneno?
Pois coloco em tua boca outra palavra: Liberdade...
Vai!
Carrega contigo tudo o que era história,
E mergulha, queiram os deuses na morte.
E lá, esqueça-me como todos os mortos que bebem do estige, esqueça-me
Pois tudo que eu desejei de ti foi o esquecimento
Desejei não ter-te visto os olhos
Teu corpo lânguido se oferecendo nas esquinas da casa
Tua preguiça faceira entregue em tardes mornas
Esqueça-me...
Pois tudo o que desejei foi jamais ter deitado contigo
Jamais desejei ser vinho em tua taça, nem cabeça pro teu colo
Nem perfume para o teu corpo mas tudo isso
Fui e és para mim
Ouça-me, parta!
Parta!
Antes que meu coração se rompa e eu seja apenas um mar de sangue esvaindo-se aos teus pés. Quem ainda tem mantém aqui?

“Senhor, o amor me fez escravo”.

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