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A Estória do Pólo Preto Parte 5 - final... se até a novela acaba?!

Agora que eu já sabia o que queria! (prestem atenção nesta afirmativa, pois é muito raro alguém saber o que quer hehehehe) Botei mãos à obra. Comprei jornais. Vasculhei todos os cantos. Mas os Pólos Pretos estavam sempre muito longe. Aí começou uma espécie de conspiração. Onde quer que eu ia lá estava um Pólo Preto Hatch... Tava no ônibus passava um... Tava a pé...passava outro. Pólos com cartaz de vende-se cruzando as avenidas. Claro, todos numa velocidade que não dava pra anotar o telefone de quem tava vendendo. Eles olhavam para mim...os faróis piscavam pelas noites... Os amigos pensavam que eu tava louco. Vivia dizendo: “Olha lá! Olha lá!! Um Pólo Preto!!” Bem...como tudo o que acontece na minha vida: virou festa!
Foi então que num belo dia, fui tomar um café no Franz (propaganda grátis). E lá havia uma revista de automóveis à venda, completamente gratuita (por isso a propaganda, entenderam?!). Levei pra casa aquela revista que tinha cheirinho de catálogo da Avon. Carros, carrinhos, carrões.. e, subitamente: ahá!! Nem preciso repetir o que vocês já sabem. Pertinho da minha casa. Seis quarteirões imensos. Havia uma garagem que estava vendendo um Pólo. Bancos de couro e tudo?!
Aí, já comecei me achar!! Bancos de couro!! Olha eu sentado numa vaquinha morta e dirigindo! Fui rapidamente até o local. Mas... os caras eram muito duros e repetiam o anuncio que já tinham preparado... o carro não tinha bancos de couro. Não me deixei abater. O Pólo era igualzinho àquele que haviam me arrancado. Não tive a menor dúvida fechei negócio. Morto de medo, claro! E se era roubado?! Que garantias eu tinha?! Nem pensei demais. Fechei o negócio e fui pra casa. Tinha de esperar alguns dias até poder pegar o Pretinho! Já éramos íntimos!
No segundo dia mais feliz da minha vida (o primeiro foi quando ganhei uma máquina de escrever), consegui tirar o carro da Garagem e levá-lo pra casa. Não afogou nem uma vez. Ele e eu estávamos felizes. Aí, como era meio de tarde liguei pros meus amigos campineiros, um a um contando a novidade. Uns acreditaram....outros estão querendo ver até hoje... Aí liguei pro meu melhor amigo de São Paulo (não citarei nomes hehhehe). Ele tava no trabalho ainda. Disse: “De repente...mais tarde eu dou uma olhada...” Estremeci...fiquei gelado. Mais tarde?! Falou com tanto pouco caso...
Ok, tudo bem...as pessoas são ocupadas. Fiquei o fim da tarde toda esperando alguém com quem dividir a felicidade do meu primeiro carro. Afinal, que graça tem você comprar um carro e não ter pra quem mostrar?! É pra isso que serve, né?! Por que meio de transporte carro não é. Pra isso existe ônibus, metrô, avião, caminhão... mas carro é outra coisa. Tem gente que diz que o tamanho do carro é inversamente proporcional ao tamanho do pênis do dono hahahhaha. Bem, o meu carro é médio, então ele não é inversamente proporcional a nada. Mas ainda assim...eu queria dividir com alguém que se importasse comigo. Alguém que entendesse que era o meu primeiro carro. Alguém que soubesse que venci o medo de dirigir para comprá-lo. Alguém que soubesse que ele era importante pra mim. Não servia o porteiro, nem o guarda, nem a faxineira... ninguém contava.
Liguei de novo pro meu amigo. Ele já estava voltando do trabalho. Todo feliz eu pedi pra ele vir ver o carro. E aí, ele disse: “To cansado, não to afim!” Quando vi eu já estava implorando... Não adiantou. Quando dei por mim eu já estava chorando no telefone... Meu carro, tudo o que eu tinha feito por ele...não era nada sem ter com quem dividir. E eu fui dispensado como apenas um chato infantil... Como disse antes..quem tem um carro não entende quem não tem.
O tempo passou e as pessoas viram o carro afinal... Muito sem graça....não tinha mais sentido. Ao menos hoje eu tenho um grande amigo: o Pólo Preto!! Não me deixa na mão. Se bem que ainda me falta aprender a usá-lo pra pegar!! Hehehehe afinal...todos os homens sabem para que serve um carro. Será que devo rodar a chave no dedo?! Ou entrar nos lugares balançando ela num imenso chaveiro?! Não sei... não parece mas tenho senso de ridículo. Enfim...agora eu, o Pólo e São Paulo viramos personagens da aventura que começou. Avenida Paulista, tremei!!! Pois Tom sem Freio está à solta!!! E, por falta de com quem dividir... os leitores são o que há de mais precioso pra quem escreve...

Esta estória é pra Bia!

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