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Marcas

No deserto dentro de mim há uma trilha de pegadas. Não sei de onde vieram e nem para onde vão. As direções se confundem neste horizonte árido e vazio. Sei quem as deixou, mas não sei quem é...Passou como um peregrino em busca de alguma coisa, fazendo uma jornada qualquer. E incauto deixou suas marcas em mim. Eu as miro, e suspiro... Olho-as, e satisfeito tenho-as por companhia. Até que o vento pouco a pouco as apague. Peregrinos não têm culpa por seus pés repousarem delicados e macios na fina camada de areia. E nem esta por lhes guardar a lembrança. Sopra ligeiro vento, sopra ligeiro! Deixa-me guardar apenas por um instante, essa imagem que se desfaz, pois a aridez da minha paisagem não combina com marcas em vão.

O que eu quero?

Alguém que me ame, ao invés de fazer “sexo”. E esteja comigo, e não numa “performance pornô”.   E que goze, e não tenha “orgasmos”. E que durma abraçadinho e não “de conchinha”. Que converse, e não “discuta a relação”. E que seja um mero trabalhador, e não um “profissional” realizando uma “carreira”. E que seja jovem, e não um “teenager”, “adolescente” ou “mlk”. Que não tire fotografias, mas que se lembre de mim. Que não me mande “torpedos”, mas flores. E quando estivermos cansados, que descansemos, e não tiremos “férias”. E se tivermos dificuldades, que sejam problemas e não “diagnósticos psicológicos”.   Quando estivermos tristes, estejamos tristes e não “depressivos”. Quero alguém que esteja vivo, e não procurando se enquadrar em “categorias científicas”; querendo quem concorde com o seu diagnóstico. E se por isso eu ficar bravo, zangado mesmo, e em seguida ficar bem e feliz, que não diga que sou “bipolar”, mas imprevisível, de lua, de veneta. E se eu não for bom de c

Há os que têm filhos e há os que têm uma obra

Conversando com um querido amigo percebi que uma de minhas dificuldades não era tão egoisticamente minha. Ele se perguntava o que fazer nesta altura da vida (depois dos cinquenta) quando você não teve filhos. Olhava para o passado, e mesmo sem querer parecer desanimado, carregava sobre os ombros todo o peso de uma sociedade que desenha o tempo todo o que é o homem ideal, o ser humano ideal. Bem... Nem todos nós nascemos para ser estes seres humanos ideais – talvez ninguém. Bem, eu não tive filhos, e até onde sei não os terei. Nada contra, só não os tive. E acho que um monte de homens e mulheres da minha geração não os teve. Talvez por que estávamos cheios de sonhos diferentes depois de séculos de conformismo social e cultural. Alguns se casaram muito tarde, outros apenas juntaram os trapinhos... tantas vezes o fizeram que poderiam abrir uma loja de retalhos. Mas isso não importa. Queríamos algo diferente, uma vida diferente, e a experimentamos, sem medo, com medo, entre sustos e

A Cavalera e Eu - Como começou minha Coleção Cavalera (e V-Rom).

              Este texto é para matar uma curiosidade que muitos têm. Sempre alguém me pergunta: “Você é garoto propaganda da Cavalera?” “A Cavalera te patrocina?” “Por que você lançou livro na Cavalera?” Bem... aí vai.                 Quando se conhece o meu trabalho e currículo parece ser improvável que eu me envolva com moda ou que faça uma coleção de peças da Cavalera. Sou escritor e historiador, e fiz mestrado e doutorado em Multimeios na àrea de Cinema (Unicamp). Minha formação teve ênfase em História das Religiões e História da Arte. No doutorado escrevi uma tese sobre a adaptação da vida de Jesus Cristo para o Cinema e até os dias atuais minhas pesquisas giram em torno de Cinema e Religião. Em, 1999, lancei meu primeiro livro “Maria de Deus”, no qual lidava com terceira idade, sexualidade e religião. Há pouco tempo, em 2010, lancei o livro “Filmes de Cristo. Oito aproximações”, um trabalho acadêmico ligado à Teologia e Cinema. E em 2013 lancei “Memória Impura”, repleto de

As narrativas de Si nas Redes Sociais

Gosto da distinção entre autor e narrador.   A pessoa que escreve não é o narrador, o escritor alinhava um conjunto de técnicas e estabelece a narração e o narrador. A pessoa do escritor não é o narrador.   Quanto mais tempo fico na internet e nas redes sociais, mais concordo com esta definição. Vejo narradores todos os dias. Mesmo aqueles que não têm consciência deste processo estabelecem narradores, e por sua vez personagens. Muitos de nós entramos numa rede social, ávidos por pessoas e encontramos narradores. Narradores de si. Construindo personagens, ilustrando-as, glamurizando-as ou se detratando em público.   Seres discursivos, um texto, um discurso para cada ocasião. E, como escritor, confesso que nunca vi tanta gente àvida por leitores. E os discursos se constroem com partes do cotidiano, ou melhor, da interpretação do cotidiano, e há aqueles que introduzem neles o merchandising, se localizam nos lugares, fotografam os pratos, os parques, os papos... Em meu cotidiano

O objeto livro, amigo de todas as horas

Não sou um saudosista, e sempre fui dos que saudaram a literatura virtual e digital, no entanto, jamais fui pelo fim do objeto livro. Quem lê sabe que há muita coisa boa e interessante neste amigo que nos acompanha ao longo dos anos. Quem nunca cheirou um livro? Quem nunca apertou contra o peito aquele livro de poesia que nos enchia de sentimentos novos ou que traduzia à perfeição aquilo que não diríamos a nós mesmos por falta de força na expressão? Sou muito tátil e muito sensorial, então, ainda me lembro do cheiro dos gibis dos anos setenta, cheiro ácido e áspero, e também do catálogo da Avon, cujo cheirinho fazia a minha delícia infantil. Ainda bem que os livros melhoraram de qualidade e há muitos hoje que cheiram catálogo da Avon, rs. Mas quem não sabe o que é o delicioso cheirinho de um livro antigo? Aquele de onde a acidez da tinta nova já desnaturou e sobrou apenas um delicado perfume adocicado? É, o livro tem muito mais coisas do que informação... Agora tentem cheirar um

A Luz não sabe que ilumina, pois desconhe as trevas...

            Há muito tempo atrás inspirado por um rompante romântico num poema escrevi: “Como é que se diz para a Luz que ela ilumina? Ela não sabe que ilumina, exatamente por ser luz... Como se diz que a sua simples presença desvela toda a beleza? Como se diz que sem ela as cores não podem ser vistas? que os nuances não existiriam.... Que tudo o que se faz....sem sua presença jamais existiria? Como se diz para a Luz que ela ilumina...se por ser luz ela desconhece as trevas...”               A poesia tem essa capacidade de desvelar e revelar algumas verdades eternas e cuja reflexão nos toma pelas mãos e instaura possibilidades e realidades. Algumas frases são metáforas, são sugestivas muito mais que afirmativas, não querem ser tomadas por verdades, querem apenas sugeri-las.             Hoje, enquanto eu atravessava uma catraca do Metrô este poema, décadas depois, voltou-me a mente.             Entre instalar o bi

Noite Escura, um livro de Aventura - será publicado

Um livro de aventura? Ah, sou daqueles que tiveram a felicidade de ler um bom livro de aventuras quando jovem (bem, ainda sou jovem rs.). Guardo com muito carinho em minha memória estórias que me seguem e seguirão por toda a vida. Quem não se lembra de “Os Três Mosqueteiros”, “A Ilha do Tesouro”, “Moby Dick”, “Robson Crusoé”, “Simbad, o Marujo”, “Os Irmãos Corsos”? E tantos outros. Uma literatura apaixonante. Por trás das estórias sempre estavam envolvidos valores que para mim são verdadeiros: amizade, coragem, família, caráter, etc. Eram o que se chamava antigamente de “livros para meninos”. Muitos deles chegavam em nossas mãos, como até hoje, em versões simplificadas, afinal, quem leu “Moby Dick” sabe que aquilo é muito mais do que uma simples caça a uma baleia branca malvada. Afinal, o escritor é Hermann Melville, um dos gigantes da literatura universal. Foi revestido por este espírito, de escrever um bom livro de aventura e que fosse muito mais do que uma simples ave

Falar sobre o Amor...

Falar sobre o Amor apenas nos deixa distantes dele... Dizer o que é o Amor só nos faz desconhecê-lo... Há quem ame a definição de Amor mas não as pessoas, pois não cabem na definição... Amar é algo bom que acontece com os outros, comigo acontece Paixão.                      Não me preocupo com o Amor. Talvez ele já tenha acontecido na minha vida, talvez ele já tenha ido embora, talvez eu o viva neste momento... Como quem ama se sente bem, devo estar amando e sendo amado... é a lógica, não é? Mas se não estou com ninguém, como é que se explica tanto Amor? Jogos de palavras, apenas isso, é o que são... E tem gente que perde tempo acreditando em seus próprios discursos. É como sempre digo: a perfeição existe. É só me dar parâmetros que eu digo se é perfeito ou não. O Amor existe, mas é como disco voador... Muitas testemunhas, poucas provas e muita imaginação. Mas não se preocupe, se você é daqueles que acredita, existem pessoas que foram até mesmo abduzidas... por que não?!          

Moema virou fumaça

Um dos bairros mais cantados e decantados da alvissareira cidade de São Paulo está com os dias contados. Logo irá virar (se já não virou) peça de marketing imobiliário. Moema é um dos bairros mais caros de São Paulo e se tornou assim por ser considerado um lugar com ótima qualidade de vida. Moro aqui há sete longos anos, por isso sinto-me à vontade para criticar e elogiar. Aqui quando chamamos a polícia ela vem, isso quando já não está por aqui. Assalto a mão armada? Nunca vi, nem notícia. Mendigos? Apenas duas famílias que só vêm aos sábados na Porta do Pão de Açúcar ( e creio que trabalham durante a semana). Antigamente a maior preocupação no bairro era andar olhando para o chão, pois sempre tinha bosta de cachorro. Havia uma praga também, passarinhos e mais passarinhos que teimavam em acordar os moradores pouco depois das cinco da manhã. Outra vantagem é que aqui existe uma agência bancária a cada quarteirão e meio, se é que chega a tanto. Tudo o que você deseja tem no bairro

"Quem sou eu para julgar..."

Existem coisas que não podem ficar sem comentário. Eu fui um dos primeiros – pelo que me lembro -   a apoiar o atual Papa e a falar bem. Mas isso foi fácil, pois afinal o parâmetro de comparação anterior era abaixo da crítica.   Eu já era adolescente quando João Paulo II veio pela primeira vez ao Brasil, o primeiro papa em quase 500 anos a pisar neste solo. Era natural que se fizesse muita festa. Gosto de religião, mas serei muito honesto, meu estômago embrulhou até o vômito com a JMJ.   O que aconteceu com a religião? As religiões? Se renderam ao marketing?! Vergonha, vergonha, vergonha. Só vi espetáculo de quinta categoria. E me meto a escrever um pouquinho só para não deixar um absurdo se espalhar: “Quem sou eu para julgar?!” Nooossa, essa doeu demais. Caralho!!! Você é o Papa!! Basta ir na janela do Vaticano e dizer: “os homossexuais são filhos de Deus iguais a todos!” Vai fazer isso?! Claro que não vai! Então, não fala merda! Eu não sou ninguém para julgar! E aprendi

"Memória Impura" - Enquete

Logo "Memória Impura" fará um ano de lançamento. Ás vezes as pessoas comentam que gostaram, às vezes também chegam a dizer que não curtiram muito, o que é natural também. Então, gostaria de convidá-los a responder a enquete no Blog sobre a sua satisfação com o livro, assim terei algum parâmetro sobre o que as pessoas acharam. E desde já agradeço muito pela leitura do meu trabalho.

Hermes

Se tu te fias no infiável, eu serei contigo. Se caminhares pelas estradas, ofereça-me uma pedra, E pavimentarei teus caminhos. Nas encruzilhadas te darei a escolha certa, que sempre será a certa não importa o que escolhas. Quando te dirigires aos deuses eu levarei tuas preces, e quando amaldiçoares teus adversários os carregarei de maldições. Mas, não te esqueças que o que levo trago de volta. Quando abandonares esta terra te levarei para o lugar onde os mortos vivem, te levarei primeiro aos infernos e depois para os Elíseos. Serei contigo quando cantares, quando ouvindo musica me admirares, serei contigo quando negociares, serei contigo o tempo todo, pois sou o Deus que abençoa os que dele se aproximam e lhe fazem companhia no ir e vir. Não sou bom nem mal, sou moleque faceiro, ora arteiro, ora guerreiro, ora carinhoso e amigo, brinca comigo, mas não brinques comigo. Entende que eu sou o meio, do terreno e do celeste, do abismo   e da altitude

Aprenda a dizer "Não"

             O “não” é uma destas palavras estigmatizadas, estranhamente estigmatizadas. Talvez por que durante a nossa educação seja o que mais ouvimos, e que se ouvimos suficientemente prova uma boa educação. Mas em geral me chama atenção o quanto as pessoas não sabem ouvir e nem dizer “não”.   Tenho alguma dificuldade de perceber, no jogo das relações humanas, quando alguém quer dizer “não” mas não verbalizou, e aí começa o grande bailado dos gestos,   falas, subentendidos... E eu me pergunto “por quê?” Tão fácil dizer não. O “não” é uma palavra mágica, ela é mais verdadeira do que o sim. E mostra muito mais de nós, talvez mais do que gostaríamos. Mas, não dá para se ter vergonha do que se é, né?! Ou dá? É importante verbalizar e colocar este limite nas relações. O que me encanta no “não” são os seus infinitos matizes. A gente diz “não” para uma coisa, para uma pessoa, para uma situação, para uma proposta... Mas, isto não significa dizer não para tudo o que nos oferecem ou p

Pessoas Fotografias

"As pessoas poderiam parecer com suas fotos... As pessoas poderiam ser fotos... Deixar de ser o que são e se tornarem lembrança marcada na carne do papel. Se não estão presentes que pudessem ao menos terem sido memória, mas não são, não foram... Não se transformaram e nem se parecem com as suas fotos. Felicidade é ser imagem de fotografia, a luz te ilumina eternamente e quando te tocam não é para te usar, mas para recordar você e tudo o que você foi, inclusive, que não foi fotografia".

Promessas de Ano Novo!

Repita comigo: Eu não irei sonhar sonhos novos, irei realizá-los. Tomarei a primeira atitude que me fará uma pessoa diferente, Não temerei os medos de sempre, buscarei novos medos... Não chafurdarei nos velhos problemas, criarei novos! Não resolverei as coisas insolúveis...E nem me sentirei culpado. Farei o sol brilhar todos os dias, mesmo em dias de chuva! Eu irei chorar, mas não por que não tenha querido sorrir E sorrirei, mesmo que tenha chorado... Passarei os dias do novo ano construindo outra coisa Não brigarei comigo, e com o mundo, apenas para querer algo melhor, Desejarei “outra coisa”, Algo que crie em mim um novo eu, um eu mais realizador Mais potente, mais atraente, e enfim... Um eu do qual a felicidade corra atrás. Serei útil onde puder sê-lo, seja para quem for, com quem for, por onde for... Mas não me desgastarei por inutilidades... Este novo ano não o farei diferente, eu me farei diferente... E por que serei diferente, um novo homem s

Troquemos de Revista. Um grande NÃO para a Veja

Na coluna Leitor, da Revista Veja, desta semana, surgiram vários e-mails comentando ou protestando contra a matéria de J. R. Guzzo ("Parada Gay, Cabra e Espinafre") que circulou pelo Facebook através de uma onda de indignação. Depois dos vários e-mails dos leitores a Veja publicou a seguinte nota: “Nota da Redação: Veja lamenta que o artigo em questão tenha sido interpretado por alguns leitores de uma maneira que não coincide com as intenções do autor e da revista.” Sou a favor da liberdade de expressão. Então, até ler o artigo me calei. Lendo, fiquei de queixo caído como todos os que sabem como é viver a condição homossexual. Em meio a argumentos aceitáveis e a outros nada cabíveis, J. R. Guzzo deu sim vazão a uma enormidade de preconceitos.   A matéria em alguns momentos possui tom francamente ofensivo.   Sempre fui daqueles que lutaram pelos direitos gays, mas jamais fui pela “afirmação pela diferença”, que é um dos fios argumentativos daquele autor. Não acred

Escritores Brasileiros, internet e o preço para se publicar

No texto publicado anteriormente falávamos da visibilidade necessária do Escritor Brasileiro. E alguns dirão: “Ah, mas hoje com a internet...” Sim, Pelo que sei, os jovens escritores brasileiros estão se esforçando muito para ocupar a net. Em busca de visibilidade, no entanto, passaram a imitar – claro que sem as mesmas chances – o que alguns fizeram fora do Brasil. Existem sites e portais que se especializaram em hospedar literatura, contos, crônicas e poesias. O escritor coloca lá, ele emais vinte mil pessoas, é indexado. Para que serve? Para o site vender publicidade, pois vinte mil pessoas já acessam aquele lugar. Muitos escritores – para divulgarem as suas obras – dão cursos de como escrever livros. Criam Blogs, se esforçam para fazer tardes de autógrafos e escrevem quase todos os dias frases de marketing pessoal sem o menor sentido. Anunciam as suas supostas palestras – que serão gratuitas ou mal pagas – e cursos de “como escrever bem” ou “como virar escritor”. Já vi esc