Existem coisas nas quais acredito, mas cuja prática precisa ser melhor pensada.
Desde que o mundo é mundo sempre existiu uma festa que tinha a mesma finalidade que o nosso conhecido carnaval: virar o mundo do avesso, romper todas as regras, se vestir do contrário, avacalhar, romper a ordem, mijar e cagar em público, transar e se arrepender depois, virar pai de dez crianças ou filho de dez homens. Vomitar, vomitar e vomitar! Botar pra fora toda a porcaria que a sociedade disfarçada de vida faz as pessoas engolir. Todo mundo pode tudo, até quem não possa nada. É por isso que o Carnaval existe, não é pra ouvir marchinha e nem seguir trio elétrico. Ouvir musica alta e seguir carro de som você pode fazer em qualquer época do ano. Se está com medo de sofrer assédio sexual no Carnaval é melhor aguardar a Marcha pra Jesus.
Jamais poderia ser contra o “não é
não”, afinal, não sou muito assediado, geralmente sou ameaçado, mas uso isso o
dia inteiro nesse país. O abuso de todo tipo é a regra. Entretanto, nesse
quesito em relação às mulheres acho muito proveitoso e produtivo que se lembre
o tempo todo do assunto. Também gostaria que as mulheres aplicassem o “não é
não” quando se jogarem em cima de um homem gostoso na rua, afinal, ele pode até
retribuir o beijo, mas se for muito bonito é gay. Também deve haver proteção
para os homens que levarão aquela “dedada” no cú quando passarem desavisados
por um apreciador. É preciso lembrar que assédio sexual não é “um paquera
indesejado” leia-se feio. Afinal, feios todos somos, só a mãe da gente acredita
no contrário e a minha me disse que eu sou fotogênico.
Vi a defesa deste assunto relativamente
ao direito de “ir e vir” e que as pessoas (principalmente as mulheres não devem
ser molestadas); acho muito decente essa perspectiva, entretanto as pessoas
devem aplicar o direito de ir e vir à corrida de touros na Espanha e lá deve
pedir para que os animais não as pisem quando estiverem no caminho. Acho muito
justo se a pessoa for para a Marcha pra Jesus lembrar que não deve ser
assediada. Afinal naquele evento é muito impróprio para qualquer coisa. Se
alguém te vomitar na Marcha torça pra não ser uma intoxicação de Fanta Uva com
hóstia do Padre Fábio de Mello, se bem que o mesmo deve ser mais facilmente
encontrado no Carnaval tentando dar a bênção, se muito, para algum gajo.
Quando as pessoas têm ímpetos de
beber, de extravasar seja a tristeza ou a violência (através de pulos altos e
estranhos), vão pro Carnaval. Quando elas querem gritar, xingar, machucar os
pés de tanto se entregar à folia, vão pro Carnaval. Quando querem beber até dar
perda total, vão pra lá. Quando querem esquecer a esposa, o esposo e o bando de
filhos fdp.s vão pra rua, correm atrás de um bloco e se esquecem. Anos passados
existiam pessoas que saíam de casa na sexta-feira e só voltavam para a missa de
quarta-feira de cinzas. Entretanto, hoje, o Carnaval se deseja “domesticado”
começam os pré-carnavais mais de um mês antes, a festa dura mais de dez dias
atualmente e depois ainda tem o enterro dos ossos que dura outro mês. Bem,
então é melhor fazer campanha contra assédio sexual, pois isso não é mais
Carnaval.
A
festa popular deve durar pouco tempo, e isso pelo fato de que excessos serão
cometidos e devem ser cometidos, mas que precisam parar num tempo consequente e
quase responsável. A festa das inversões de papéis, de entrega catártica ao
Deus Baco, ou Dionísio, terá sexo, beijo na boca, filhos perdidos, camisinhas
estouradas, homens batendo em homens, homens batendo em bichas, bichas
reagindo, mulheres avançando o sinal – sim, elas também avançam. Vômito por
todos os lados. E as amigas e amigos provando sua amizade carregando os foliões
desmaiados e desnorteados.
Numa
festa regada a álcool e que tradicionalmente foi estabelecida para a ruptura,
enfrentamentos, desvarios, violências e escabrosidades de todos os tipos –
inclusive a música escabrosa - não é minimamente aceitável se pedir que “não”
se faça alguma coisa. Quem não quiser usufruir do Carnaval não deve ir até ele.
O Carnaval não virá até a sua casa se você não o convidar. Eu não saio em duas
ocasiões da minha casa no dia dos mortos e no carnaval, em ambas as datas
espíritos ruins caminham livremente sobre a Terra. Eu não digo a eles que tenho
direito de ir e vir, eu uso esse direito não indo.
Campanha
contra o beijo livre de todo mundo em todo mundo, apalpadas, patuladas,
dedadas, esfregaços, e vomitaços no tempo, lugar e conjunto de pessoas
dedicados a isso, é de uma hipocrisia sem par. Quer apenas festejar numa boa?!
Vá a uma outra festa em outra época, ninguém morre por não ir ao Carnaval, já o
contrário acontece com frequência. Então, como eu dizia antes, “não é não!”
acredito nisso e pratico, mas eu não me enfio no mar cheio de tubarões e
informo educadamente que não podem me morder. Bom senso!
Comentários
Na sociedade contemporãnea liberada transgressão significa ir além do permitido e o permitido é muito maior.
De acordo, tubarão para morder sem ser condenado, só se for um tubarão muito bonito.