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Está dentro!

A geração que se importava acabou... Vivo o presente, então... Então eu também não me importo... Eu também não me importo... Também não me importo Não me importo... Me importo... Importo Não posso obrigar as palavras A dizerem o que não está no meu coração.

Angola

I Tive medo em Cabo Ledo Onde vi a vida escapar-se Duas meninas negras salvas... Uma...morta... Uma morte a mais... Um branco as salva... E outro diz: tanto faz... É justo de lá que trago uma pedra Me a deram...sem beleza... Sem lustro, sem atrativos... Ocorre-me apenas o silêncio Ensina-me a ser mudo pedra... Pois roubaram-me as palavras Deixa-me sem lustro Brilhar por aquelas noites escuras... II Hei de lembrar do sorriso de Lucrécia “Estás bonito Seu João...” Hei de lembrar... Da vaidade faceira... Dos escombros de uma cidade inteira De ser um humano sem lugar... Não fui negro em ti Angola Não fui... Nem branco pude deixar de ser Apenas mais um em Luanda Lá estando não pude lá estar “tenha medo!” “tenha medo” “Ele irá te proteger!” Voltei porque tinha que voltar Mas uma parte de mim deixei por lá...

Mulher

I Quem foi que te ensinou a ser assim tão bela? Quem te disse que podias roubar toda a beleza para si? E com que soberba julgas ainda poder ser modesta? Com que ousadia humilha as outras com tua presença? Não te ensinaram a ser piedosa? Desconheces a misericórdia? Tudo o que as outras são e fazem... é pequeno... Um sorriso teu, um sorriso teu... e o tempo, envergonhado, foge... Olhos desviam-se à tua passagem... Poucos como eu suportam...ver-te face a face... Poucos... uns porque se julgam dignos de ti E eu porque preciso descrever o que eles não podem ver... II Não bastou que arrancasses o brilho do céu E o colocasse em teu olhar...e ainda Tu roubas o rubor e a doçura da ameixa madura e os põe em teus lábios?! Não se lamentam bastante os veludos não se compararem com tua pele? Precisava escarnecer de todos os tecidos? Diga-me, o que te fez o cetim, para merecer tamanho desprezo? Não precisava o mar ser humilhado pela umidade dos teus olhos... E diga-me quem agora irá mirar para os hor

Um Século de Vida e Nada...

Muita coisa acontece ao longo de um século. Muita coisa...Livros se escrevem para se analisar e falar deste tempo que passou...historiadores se esforçam em vão por adquirir uma contemporaneidade que nunca lhes pertenceu. Poucas pessoas restam que podem dar testemunho sobre a história do século XX. Pouquíssimas viveram mais que sessenta ou setenta anos. Toda semana somos informados que um nome importante de nosso teatro, cinema e televisão desapareceu. Uns já haviam desaparecido da mídia há tanto tempo, quer por não terem se adaptado aos novos tempos, quer por escolha própria, que já até mesmo as lápides estavam previamente escritas. Todos os anos vemos uma ou outra homenagem (pífias, seja dita a verdade) a Oscarito, Grande Otelo, Mazzaropi entre outros. Quando falamos em vida artística no Brasil parece interessante citar grandes nomes do passado e imediatamente sacamos Cacilda Becker, Jardel filho, Procópio Ferreira, pulamos para Emilinha Borba, Dolores Duran, com a facilidade de quem

Da Imaginação e Do Carro

Querem resolver o problema do trânsito em São Paulo. Alguns apelam para o mais óbvio – e necessário – maiores investimentos do governo em transporte público... Tudo bem, mas se tivéssemos todos estes transportes atualmente, ainda assim compraríamos carros e desejaríamos andar com eles, nos exibir com eles. As autoridades se esquecem que um automóvel não é apenas um meio de transporte, talvez essa seja a sua última função. Um carro é um veículo para a nossa imaginação. Já compararam os homens que neles andam com cavaleiros de armadura, armados até os dentes, cavalgando pelas estradas, fazendo estragos. Já disseram que os penis de alguns são inversamente proporcionais ao tamanho do carro. Bem, isso não impediu que os carros continuassem aumentando de tamanho. Quando ainda andávamos a cavalo – se é que podemos assumir o passado – nos convenceram a abandonar aquele amigo que tínhamos. O cavalo era quase um membro da família. Ele era companheiro, não derrubava o seu dono. E, da

Me Cuide

Me cuide, toma conta de mim... Me cuide em silêncio... Me deixa descansar no seu colo e não me pergunte nada... Me cuide pelas esquinas da casa E mesmo que eu me desfaça em lágrimas... Apenas me abrace... Não fale das minhas virtudes... elas me pesam E nem dos meus defeitos...eu os conheço... Não me importune comigo mesmo... Eu não quero ser o assunto... Seja minha sombra, minha árvore, meu alicerce... As palavras me cansam e exaurem... Não diga que me ama, apenas cuide de mim... Deixa que teus olhos me contem tudo... Que tuas mãos fiquem perdidas entre as minhas... Ouça o meu silêncio Que o teu será para mim uma sinfonia Cheia de significados... Não precisa falar da tua força, Apenas seja forte... Deixa tuas coisas pela casa... Para que elas me cuidem na tua ausência... Me cuide... Porque sou uma rosa cheia de espinhos... Me rega com carinho, afasta de mim as pragas... Não me pode... E eu prometo ser o que sou...