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Deus - I O Devorador

  Deus me seduzindo            Esse não é um texto para relembrar o passado, mas uma tentativa de descrever o que não pode ser descrito.  Vou meter-me a falar do que não sei. Talvez seja exatamente assim, conhecemos muito e desconhecemos muito mais aquilo que realmente é importante. É como mãe, amamos muito mas às vezes nos damos conta do quão pouco a conhecemos. Entretanto, Deus, como o conheço, foi definido magistralmente pelo poeta indiano Rabindranath Tagore: “Sou um poeta e meu Deus só pode ser um Deus de poetas”. Então, só quem vive profundamente o ser poeta consegue traduzir em si o que isto significa.             Por aproximação tentarei dizer um pouco sobre isso. Uma definição destas não aparece em nosso coração na infância ou na puberdade, surge apenas quando ocorre um amadurecimento íntimo, que não tem idade para ocorrer. Podemos ter uma epifania em algum momento, mas ela só se consolida ao longo do tempo através de outros momentos assim. É como um “dejavu” não tem importâ

De pés descalços

  Hoje de manhã saí para passear com meus pinschers, e para minha surpresa, eu que nunca saio de chinelos, saí e um deles se rompeu. Vi-me na constrangedora situação de um pé calçado e outro não. Estava exatamente em frente a uma lixeira. Não tive a menor dúvida, tirei meu chinelos com carinho. Afinal era uma edição única da Havaianas, branca com tiras douradas, dez anos de parceria. Deixei-as com dó imaginando a galhofa dos lixeiros diante do objeto inusitado. E agora? Andaria descalço pelo chão sujo do centro da cidade? Bem, decidi que não existe chão limpo. Diante de 50 metros para voltar atrás e 500 metros para seguir adiante optei por seguir. Hão de concordar que trata-se de uma verdadeira aventura, pois exige coragem diante do novo   fui andando devagar para não machucar os pés diante das irregularidades do chão.   Foi bom, pois parecia uma massagem necessária e da qual eu não havia me dado conta. Logo um estranho sentimento de liberdade me invadiu. De pés colocados no ch

É preciso leveza em nossas relações. Pelo fim do autoritarismo cotidiano.

Assédio moral é autoritarismo              Há muitos anos atrás, quando eu era um estudante de História, ouvi dizer que o Brasil era um país autoritário. Que o brasileiro era um povo muito autoritário, e que isso se devia à nossa triste tradição escravocrata. Naquela época fui contra, pois para todos os lados que eu olhava não via nada disso.   O “brasileiro” - este conceito estranho que envolve milhões de pessoas num país de dimensões continentais, parece-me mais do que um atributo de identidade nacional um artifício de linguagem para dizer “nós”-, parecia-me tudo, menos autoritário.             Fui criado com as idéias de que “nós” somos cordiais, afáveis, gentis, alegres, festivos, sorridentes, persistentes, fortes e batalhadores. Alguma coisa disso devemos ser. Então onde é que estava o tal do autoritarismo? Provavelmente nos primeiros quatrocentos anos de História do Brasil. Porém, quatrocentos anos são quatrocentos anos. Uma pequena população aprendeu a serem donos e donas de

É preciso cuidar dos homens

               Espero não causar nenhuma polêmica, pois esta questão para mim está imersa em grande racionalidade. A mídia nos últimos anos (deve ser a Globo) tem dado ênfase na violência contra mulher, seja em relação ao feminicídio seja em relação ao assédio e violência sexual. Tem sido muito importante os avanços ocorridos nesta área. Talvez um dos passos mais importantes tenha sido a criação da Lei Maria da Penha (e o esforço pela sua aplicação) e também o estabelecimento da Delegacia das Mulheres. Os números de telefones e aplicativos de celular destinados à denúncia da violência doméstica se multiplicam. E isso é bom. Sou favorável a que todos vivam.             Como todos sabem tenho sido gay desde sempre. Então eu também tenho medo de sair às ruas e sofrer violências (principalmente as com requinte de crueldades que são as que mais atingem gays). Muitas vezes na vida senti-me como as mulheres, assustado ao passar junto aos “famigerados homens heterossexuais” (gostam de anda

E se Maria Madalena não for o que pensam?

           Sim, às vezes gosto de adicionar água à fervura. No século XX, e tão somente nele, a literatura e o cinema resolveram desdobrar (ampliar ficticiamente) o papel de uma personagem evangélica que - exceção feita ao momento da Ressurreição -, mal foi citada nos textos, Maria Madalena. E quando citada o foi igualmente a outras mulheres. Em torno dos anos 80, quando li com cuidado as referências a ela nos textos canônicos (Marcos, Mateus, Lucas e João) -, preocupava-me que no cotidiano a tínhamos como prostituta. Entretanto, eu já observava, nada aparecia ali que pudesse fazer com que se tirasse essa conclusão. Era um engano ou um engodo. Anos se passaram até que veio à público a informação da fusão desta personagem com outra, a da mulher adultera, por um Papa no século VI (Gregório Magno, em 593). Ele não o fez por maldade como dizem atualmente, as prostitutas romanas precisavam de uma santa padroeira, e na falta de uma que tenha tido essa profissão ele reinterpretou Maria Ma

Para ter um melhor Dia das Mães

            Dia das mães chegando. Sempre achei esta uma das datas mais felizes. No que me diz respeito parecia aquela com menos pressões sociais. Afinal, damos um abraço forte e gostoso em quem amamos e isso é a própria expressão de felicidade. Entretanto, para algumas mulheres essa data também pode ser um pouco triste, pois relembra o fato de que não puderam ser mães, ou tiveram que fazer a dura escolha, abortar um ou dois, para que os que tinham nascido pudessem viver com uma mínima dignidade. Sim, hoje vou falar com você que chora em segredo.       Pedro WEINGARTNER, A fazedora de anjos (tríptico), óleo sobre tela, Brasil, 1908. (detalhe)        Nossa sociedade sempre colocou uma excessiva carga nos ombros das mulheres. Talvez a maternidade seja ao mesmo tempo uma bênção e também uma espécie de cruz que elas carregam. À mulher não se permite aliviar dos ombros essa carga. Se ela o faz, precisa carregar este ato em segredo pelo resto da vida, pois até mesmo sua melhor amiga irá re

Aquelas pessoas da sala de jantar...

          (...)                   Enquanto isso, numa fazendola há muito esquecida por Deus, um grande grupo de ovelhas brancas cantava em coro:                “Levava uma vida sossegada...Foi quando meu pai me disse: filha, você é a ovelha negra da famíliaaaa”                     Um pastor que as ouvia aturdido, sem nada compreender, perguntou para o outro pastor que também ali estava: “Por que elas cantam tristes assim?! Elas nem são negras...”                - Morreu Rita Lee! - respondeu secamente o outro.                O pastor ficou um pouco em silêncio, enquanto o coro aumentava, ele saiu dali cantarolando baixinho:                   “O doce vampirooooo... ow ow ow a luz do luar, Ahhhh me acostumei com você! Sempre reclamaaaaando da vidaaaaa! Me ferindo me sugando, a feridaaaa, mas nada disso importaaaa r ara vou abrir a porta pra você entrar...”                     E, “para não ficar por baixo, resolvi botar as asas pra fora...” pensou o outro, saiu de fininho canta