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Postagens

Sobre o objeto "Livro"

Não sou um saudosista, e sempre fui dos que saudaram a literatura virtual e digital, no entanto, jamais fui pelo fim do objeto livro. Quem lê sabe que há muita coisa boa e interessante neste amigo que nos acompanha ao longo dos anos. Quem nunca cheirou um livro? Quem nunca apertou contra o peito aquele livro de poesia que nos enchia de sentimentos novos ou que traduzia à perfeição aquilo que não diríamos a nós mesmos por falta de força na expressão? Sou muito tátil e muito sensorial, então, ainda me lembro do cheiro dos gibis dos anos setenta, cheiro ácido e áspero, e também do catálogo da Avon, cujo cheirinho fazia a minha delícia infantil. Ainda bem que os livros melhoraram de qualidade e há muitos hoje que cheiram catálogo da Avon, rs. Mas quem não sabe o que é o delicioso cheirinho de um livro antigo? Aquele de onde a acidez da tinta nova já desnaturou e sobrou apenas um delicado perfume adocicado? É, o livro tem muito mais coisas do que informação... Agora tentem cheirar um

Mártir ou herói?

"Se um dia te elegerem mártir, recusa. Se te elegerem herói recuse mais rápido ainda. Ninguém é mártir ou herói por que lhe impuseram. Ambos são resultado de caminhos escolhidos. Pelo que se sabe, ambos são ruins, o primeiro destrói o corpo de alguém importante: você; o segundo, destrói o espírito."

Presentes

"A vida sempre nos dá presentes; aprenda a aceitá-los. Aprenda também a aceitar os presentes mais adequados ao seu caminho. O que não lhe interessar, apenas deixe, interessará a alguém. Nesta condição estão as cargas que lhe impõem e que não lhe pertencem. Seja educado, o dono delas aparecerá cedo ou tarde, não se perturbe."

Rumos

"Não se perturbe com perguntas como: quem sou? De onde venho? E, para onde vou? O certo é que você é, não obstante a sua origem - ela se perdeu. Você já está e isso é o que importa. Para onde vai? A pergunta é inócua, à sua volta já estão os caminhos. Todos são corretos quando trilhados por um coração correto. De que adianta dizer que irá para o céu? Que depois das montanhas existe um inferno, um paraíso? Importante é mudar as perguntas: Sou! Como sou? Estou! Onde e como estou? Com que atitude desejo trilhar os caminhos? Responda essas perguntas. Ao contrário das outras, elas têm resposta."

Relações autoritárias - Parte I

Há muitos anos atrás, quando eu era um estudante de História, ouvi dizer que o Brasil era um país autoritário, que o brasileiro era um povo muito autoritário, e que isso se devia à nossa triste tradição escravocrata. Naquela época, fui contra, pois para todos os lados que eu olhava não via nada disso. O “brasileiro” - este conceito estranho que envolve milhões de pessoas num país de dimensões continentais, parece-me mais do que um atributo de identidade nacional um artifício de linguagem para dizer “nós”-, parecia-me tudo, menos autoritário. Fui criado com as idéias de que “nós” somos cordiais, afáveis, gentis, alegres, festivos, sorridentes, persistentes, fortes e batalhadores. Alguma coisa disso devemos ser... Então, onde é que estava o tal do autoritarismo? Provavelmente nos primeiros quatrocentos anos de História do Brasil. Porém, quatrocentos anos são quatrocentos anos. Uma pequena população aprendeu a ser donos e donas de escravos. Escravos aprenderam a serem escravos (e também

O passado bate à porta, o que fazer?

Quando o passado nos bate à porta às vezes ficamos aturdidos e receosos. Devo abrir a porta e deixar entrar? O que ele quer de mim? Bem, se não abrirmos nunca saberemos. É surpreendente o número de vezes que vivemos essa situação. Velhas contas não acertadas, antigos amores mal resolvidos, mágoas e dores, e muito poucas vezes a alegria. No entanto, existe real felicidade em se abrir essa porta, acolher o que foi, resolver e deixar partir. Sempre é constrangedor. Sempre haverá palavras que parecem morrer no ar em meio a uma conversa. Olhares que se desviam e se perdem pela decoração da casa. E quando o passado vai embora. Temos a boa sensação de ter feito a coisa certa. Mas resta uma espécie de vazio. Coisas não resolvidas ocupam muito espaço de nossa vida mental e emocional. E ficam lá no fundo de nosso coração, de nossa memória, aguardando, fermentando, causando pequenos males, mudando nossos caminhos. Quando finalmente resolvemos, não há mais nada lá... aí o vazio. Bem... sempre tere

O Amante Rejeitado

Aquela, de fato, fora sua última tentativa. Esqueceria os seus sentimentos. Afinal, não seria a primeira vez. Atirou algumas roupas sujas de uma poltrona para outra. Jogou os pés sobre a mesinha de centro e fitou as pontas dos seus sapatos. Repouso. Em algum lugar duas pastilhas de Son-Risal caem borbulhantes num copo d’água. Alguém abre uma cerveja e arrota a lata numa mão calejada. Ela continuava com o outro, esta era a realidade. Nunca fora sua. Disputara as sobras todos aqueles anos. Cansara das falsas esperanças que as varizes novas dela prometiam. O tempo passara e desgastara as circunstâncias. Um cachorro vira-latas derruba um latão de lixo e rosna para o outro que se aproxima da guloseima. Pisca um neon da Coca-Cola, faiscando vermelho e branco pelos prédios e árvores no centro da cidade. Fizera um longo tricô de sonhos e para cada situação possuía um papel de ator secundário. Fizera papel de criança rebelde, melhor amigo, conselheiro, confessor, padre e santo. Fatigara-se