Em
meio a uma savana onde o mato crescia baixo, duas trilhas se cruzavam. Ambas
bastante antigas, e ninguém sabia qual havia nascido primeiro. Numa bela tarde
de sol se deu o inusitado encontro dos seus viajores. Vinha um grande elefante.
Andava devagar, parecia um pouco cabisbaixo, talvez por que estivesse sozinho,
ou por que sentia-se assim. Já possuía certa idade e vivera tudo o que podia da
elefantitude, no entanto, não perdera sua curiosidade. Em meio a mais um passo
que iria dar, de repente teve sua atenção chamada para o chão:
-
Ei, Senhor Elefante?! Onde pensa que vai?
Com
suas grandes orelhas o som daquela voz arrogante quase parecia um grito, no
entanto, era uma formiga. Respondeu-lhe de boa mente, até por que não tinha grande
coisa a fazer:
-
Ah, só estou caminhando por aí, por aqui, por acolá...
-
E o Senhor pensa que enquanto fica à toa em suas caminhadas pode vir aqui e
esmagar-nos com todo o seu peso?! – Vociferou a pequenina atrevida.
-
Não, cara formiga – respondeu – eu pularei a sua trilha!
-
Ah, isso não fará, não Senhor! – Disse-lhe de forma petulante. Não é por que é
grande que pode nos subestimar e ir desrespeitando-nos pulando por sobre nossas
cabeças!
Tomado
de curiosidade com aquela formiga estranha e cheia de soberba, pensou que ela
poderia lhe revelar coisas novas, e perguntou qual o motivo que o impedia de
pular sobre a trilha, prontamente ela respondeu:
-
Todos sabem que dá muito azar pular sobre uma pessoa...
-
Que tipo de azar? – perguntou, nem se dando conta de que ela não era uma
pessoa.
-
A pessoa morre!
-
Mas que interessante... – Fez ele, como se cofiasse o queixo diante de um novo
fenômeno. E considerou que ela tinha razão, pois se um elefante pulasse sobre
uma pessoa, as chances dela morrer eram realmente grandes.
-
Tem razão! – disse ele – Mas você não é uma pessoa, por que eu deveria tratá-la
como tal?
A
Formiga sentindo que estava tendo atenção, foi logo, autoritária, mas de boa
mente, informando:
-
Não sei o que fazem na sociedade dos elefantes que ainda não sabem de uma coisa
tão óbvia. Toda vida vale por uma vida. Logo se assim é, uma formiga é igual a
uma pessoa, uma pessoa igual a um elefante, um elefante igual a outros
elefantes e assim por diante. É a lógica que nos informa essa grande verdade.
Encerrou
sua argumentação com ares de senhora da razão. O paquiderme ficou estupefacto
com a sagacidade do inseto, e quis saber mais:
-
Um Elefante é igual a um elefante, mas o mesmo se dirá das formigas?
-
Ah, sim - afirmou ela -, todas vivemos numa situação de extrema igualdade.
Temos funções diferentes, mas uma formiga equivale a outra formiga. E todas são
muito importantes e nenhuma deve se perder. E acrescentou, com certa
desfaçatez: Ainda mais por causa de um Paquiderme caminhando à toa por aí...
-
O que sugere que eu faça então? – rendeu-se ao argumento, sentindo-se humilhado
por ser surpreendido à toa refletindo por aí.
-
Faremos o seguinte – propôs ela – Você me seguirá ao longo da trilha, e eu o
levarei até o formigueiro, e lá o senhor o contornará, desviando-se assim do
nosso caminho!
-
Feito! – respondeu, mesmo por que, tinha todo o tempo do mundo.
Era
um estranho par caminhando lado a lado. A formiga pela trilha, carregando sua
folhinha, junto de outras operárias, e ele seguindo-a de perto, mas não tão
perto para não causar um acidente. Enquanto caminhava, a trilha balançava um
pouco, pois era muito pesado. A formiga pediu que pisasse mais de leve, e ele
prontamente obedeceu.
Vários
quilômetros depois chgearam ao formigueiro. Este estava em polvorosa, sendo
chacoalhado pelas pisadas próximas do imenso animal. No entanto, apesar de
alguns poucos desmoronamentos internos, a toca continuava bem. Lá chegando, ele
contornou o formigueiro. E já ia se despedindo da pequenina, quando ela,
percebendo que havia feito o maior animal da terra compreendê-la, caminhar e
mudar seu caminho, se encheu de renovada energia, e foi logo dizendo:
-
Onde pensa que vai, Senhor Elefante?
-
Seguirei meu caminho! – respondeu
-
Mas que tolice! Você não ia a lugar algum! – e ela até parecia boa quando
convidou: Fique conosco, assim poderá conhecer mais sobre nossa vida e
filosofia!
Ficou
maravilhado com o convite. A sua curiosidade estava aguçada por um encontro sem
limites entre elefantes e formigas. O que devo fazer? Perguntou-lhe.
-
Sente-se aí ao lado do formigueiro e apenas observe! Como o Senhor é
inteligente, logo aprenderá muito conosco!
E
assim o fez, sentou próximo dali. Ficou dias e dias observando o vai e vem das
operárias, das guerreiras, das princesas do formigueiro. Enquanto isso, a
astuta formiga, chamava suas companheiras para verem o Elefante que ela havia
dominado. Ah, sim, dominado. Conseguiu que até mesmo a grande rainha formiga,
com seu enorme traseiro produtor de larvas formiguinhas saísse para ver o
animal. E como última demonstração de poder, foi até ele e disse:
-
Você tem sido um grande amigo para nós. Mas chegou o momento de ir embora!
-
Mas fiz algo de errado? – perguntou inocente.
-
Não! De forma alguma! Mas será de muito proveito para todos que vá para sua
manada e que lhes conte sobre a nossa sociedade, nossa organização e capacidade
de trabalho. Para um animal é difícil ouvir isso, mas espero que entenda, o
quanto a sua comunidade é primitiva e inferior à nossa.
O
Elefante, sentindo-se chateado, na verdade, bem triste e depreciado, terminou
por concordar. De fato, as formigas eram superiores. E voltou então para a sua
manada para explicar para todos eles em que triste condição da vida se
encontravam.
Quilômetros
depois, encontrou os seus. Estavam preocupados com sua longa ausência. E ele
lhes contou feliz por onde estivera. Falou das suas pesquisas com as formigas e
de como todos tinham muito a aprender. Elas eram muito melhores que eles, mais
iguais, mais organizadas, eficientes, trabalhadeiras, e só não sabia dizer por
que comendo a mesma coisa as duas espécies eram tão diferentes. Toda sua falta
de capacidade de argumentar com uma simples formiga tinha desaparecido diante
dos seus iguais. A manada toda ficou em polvorosa, todos queriam conhecer o
formigueiro e sem tardar seguiram correndo para lá.
E
de nada adiantou nosso protagonista pedir que pisassem de leve ou que não
corressem tanto...
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