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Mostrando postagens de setembro, 2013

Há os que têm filhos e há os que têm uma obra

Conversando com um querido amigo percebi que uma de minhas dificuldades não era tão egoisticamente minha. Ele se perguntava o que fazer nesta altura da vida (depois dos cinquenta) quando você não teve filhos. Olhava para o passado, e mesmo sem querer parecer desanimado, carregava sobre os ombros todo o peso de uma sociedade que desenha o tempo todo o que é o homem ideal, o ser humano ideal. Bem... Nem todos nós nascemos para ser estes seres humanos ideais – talvez ninguém. Bem, eu não tive filhos, e até onde sei não os terei. Nada contra, só não os tive. E acho que um monte de homens e mulheres da minha geração não os teve. Talvez por que estávamos cheios de sonhos diferentes depois de séculos de conformismo social e cultural. Alguns se casaram muito tarde, outros apenas juntaram os trapinhos... tantas vezes o fizeram que poderiam abrir uma loja de retalhos. Mas isso não importa. Queríamos algo diferente, uma vida diferente, e a experimentamos, sem medo, com medo, entre sustos e

A Cavalera e Eu - Como começou minha Coleção Cavalera (e V-Rom).

              Este texto é para matar uma curiosidade que muitos têm. Sempre alguém me pergunta: “Você é garoto propaganda da Cavalera?” “A Cavalera te patrocina?” “Por que você lançou livro na Cavalera?” Bem... aí vai.                 Quando se conhece o meu trabalho e currículo parece ser improvável que eu me envolva com moda ou que faça uma coleção de peças da Cavalera. Sou escritor e historiador, e fiz mestrado e doutorado em Multimeios na àrea de Cinema (Unicamp). Minha formação teve ênfase em História das Religiões e História da Arte. No doutorado escrevi uma tese sobre a adaptação da vida de Jesus Cristo para o Cinema e até os dias atuais minhas pesquisas giram em torno de Cinema e Religião. Em, 1999, lancei meu primeiro livro “Maria de Deus”, no qual lidava com terceira idade, sexualidade e religião. Há pouco tempo, em 2010, lancei o livro “Filmes de Cristo. Oito aproximações”, um trabalho acadêmico ligado à Teologia e Cinema. E em 2013 lancei “Memória Impura”, repleto de

As narrativas de Si nas Redes Sociais

Gosto da distinção entre autor e narrador.   A pessoa que escreve não é o narrador, o escritor alinhava um conjunto de técnicas e estabelece a narração e o narrador. A pessoa do escritor não é o narrador.   Quanto mais tempo fico na internet e nas redes sociais, mais concordo com esta definição. Vejo narradores todos os dias. Mesmo aqueles que não têm consciência deste processo estabelecem narradores, e por sua vez personagens. Muitos de nós entramos numa rede social, ávidos por pessoas e encontramos narradores. Narradores de si. Construindo personagens, ilustrando-as, glamurizando-as ou se detratando em público.   Seres discursivos, um texto, um discurso para cada ocasião. E, como escritor, confesso que nunca vi tanta gente àvida por leitores. E os discursos se constroem com partes do cotidiano, ou melhor, da interpretação do cotidiano, e há aqueles que introduzem neles o merchandising, se localizam nos lugares, fotografam os pratos, os parques, os papos... Em meu cotidiano

O objeto livro, amigo de todas as horas

Não sou um saudosista, e sempre fui dos que saudaram a literatura virtual e digital, no entanto, jamais fui pelo fim do objeto livro. Quem lê sabe que há muita coisa boa e interessante neste amigo que nos acompanha ao longo dos anos. Quem nunca cheirou um livro? Quem nunca apertou contra o peito aquele livro de poesia que nos enchia de sentimentos novos ou que traduzia à perfeição aquilo que não diríamos a nós mesmos por falta de força na expressão? Sou muito tátil e muito sensorial, então, ainda me lembro do cheiro dos gibis dos anos setenta, cheiro ácido e áspero, e também do catálogo da Avon, cujo cheirinho fazia a minha delícia infantil. Ainda bem que os livros melhoraram de qualidade e há muitos hoje que cheiram catálogo da Avon, rs. Mas quem não sabe o que é o delicioso cheirinho de um livro antigo? Aquele de onde a acidez da tinta nova já desnaturou e sobrou apenas um delicado perfume adocicado? É, o livro tem muito mais coisas do que informação... Agora tentem cheirar um